Juliette Jabkhiro e Layli Foroudi / Valor Econômico
Porém, o resultado final no Parlamento ainda
é altamente incerto por causa da maior taxa de participação dos eleitores em 38
anos
O partido de extrema direita Reunião Nacional
(RN) de Marine Le Pen venceu o primeiro turno das eleições parlamentares da
França neste domingo (30), segundo apontaram as pesquisas de boca de urna, mas
o resultado final dependerá de intensas negociações ao longo da semana antes do
segundo turno no próximo domingo.
O RN obteve entre 33% e 34,2%, segundo
pesquisas de boca de urna dos institutos Elabe, Ifop, Ipsos, OpinionWay e
Toluna Harris Interactive.
Isso coloca a extrema direita à frente dos
rivais de esquerda e de centro, incluindo a aliança Juntos do presidente
Emmanuel Macron, cujo bloco deve obter entre 20,3% e 22,4% dos votos. A Nova
Frente Popular (NFP), uma coalizão de esquerda formada às pressas, deve
conquistar entre 28,5% e 29,6% dos votos, segundo as projeções.
As pesquisas de boca de urna ficaram em linha com as pesquisas de intenção de voto antes do primeiro turno, mas forneceram pouca clareza sobre se o RN, anti-imigração e eurocético, será capaz de formar um governo para “coabitar” com Macron, um defensor do bloco europeu, após o segundo turno do próximo domingo.
As chances de o RN de ganhar o poder na
próxima semana dependerão dos acordos políticos feitos por seus rivais nos
próximos dias. No passado, partidos de centro-direita e centro-esquerda se
uniram para impedir que o RN chegasse ao poder, mas essa dinâmica, conhecida
como “frente republicana”, é mais incerta do que nunca.
Se nenhum candidato alcançar 50% no primeiro
turno, os dois primeiros colocados se qualificam para o segundo turno, assim
como todos aqueles com 12,5% dos votos dos eleitores registrados no distrito.
No segundo turno, quem receber mais votos leva o distrito.
A alta participação no domingo sugere que a
França está caminhando para um número recorde de disputas de segundo turno com
três candidatos. Essas geralmente beneficiam o RN muito mais do que disputas de
dois candidatos, segundo alguns especialistas.
As negociações começaram já na noite deste
domingo (30). Em uma declaração escrita à imprensa, Macron pediu aos eleitores
que apoiem candidatos que são “claramente republicanos e democráticos”, o que,
com base em suas declarações recentes, excluiria candidatos do RN e do partido
de extrema esquerda França Insubmissa (LFI).
Macron elogiou os eleitores por terem ido
votar em massa, dizendo que a participação recorde “atesta a importância desta
votação para todos os nossos compatriotas e o desejo de clarear a situação
política”. “Diante do RN, chegou a hora de uma aliança ampla e clara entre as
forças democráticas e republicanas para o segundo turno”, disse o presidente em
comunicado.
O premiê francês, Gabriel Attal, do partido
Renascimento de Macron, fez um apelo neste domingo (30) aos eleitores para
impedir que a extrema direita obtenha a maioria absoluta no parlamento. “Nem um
único voto deve ir para o RN. A França não merece isso”, disse Attal.
Após a nova derrota nas urnas, o premiê
francês decidiu suspender o avanço de uma reforma no sistem de
seguro-desemprego, que iria reduzido os benefícios dos que procuram um emprego,
disse uma fonte próxima a Attal à Reuters.
O líder da extrema esquerda, Jean-Luc
Mélenchon, disse que a aliança NFP, que ficou em segundo lugar, retirará todos
os seus candidatos que ficaram em terceiro lugar no primeiro turno. “Nossa
diretriz é simples e clara: não mais um voto para o Reunião Nacional.”
Jordan Bardella, o presidente do RN de 28
anos, disse que está pronto para ser primeiro-ministro — desde que o seu
partido conquiste a maioria absoluta. Ele descartou tentar formar um governo
minoritário e nem Macron nem a NFP formarão uma aliança com ele.
“Serei um premiê de ‘coabitação’, respeitoso
da constituição e do cargo de Presidente da República, mas intransigente quanto
às políticas que implementaremos”, afirmou Bardella, que colocou a imigração e
o aumento do custo de vida no centro da sua campanha. Ele critica o presidente
por causa da inflação e promete virar a página de sete anos de “macronismo”.
Se o RN repetir o desempenho no próximo
domingo e conquistar a maioria na Assembleia Nacional, Macron terá de dividir o
poder com o primeiro governo de extrema direita desde a França de Vichy —
quando o Estado francês colaborou com os nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial. O sistema de partilha de poder conhecido como “coabitação” irá
enfraquecer o presidente Macron, que tem um mandato garantido até 2027,
internamente e no cenário mundial.
Bardella falou logo depois que a principal
figura do partido, Marine Le Pen, que fez um apelo aos franceses: “Precisamos
de maioria absoluta para que Jordan Bardella seja nomeado premiê em oito dias
por Emmanuel Macron”.
Cálculo complexo
O RN saiu na frente na disputa pela maioria
na Assembleia Nacional, mas apenas um dos institutos de pesquisa — Elabe —
projeta que o partido de extrema direita conquiste a maioria absoluta de 289
assentos no segundo turno.
Especialistas dizem que as projeções de
assentos com base na votação do primeiro turno podem ser altamente imprecisas,
especialmente nesta eleição, que atraiu uma participação alta em comparação com
as eleições parlamentares anteriores. Isso ilustra o fervor político que Macron
provocou com sua decisão surpreendente de antecipar a eleição parlamentar após
o RN ter derrotado seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu no início
de junho. Decisão essa que mergulhou a França em incerteza política, gerou
ondas de choque em toda a Europa e provocou uma venda de ativos franceses nos
mercados financeiros.
Pária de longa data, o RN está agora mais
perto do poder do que nunca. Le Pen tem procurado limpar a imagem de um partido
racista e antissemita, uma tática que funcionou em meio à frustração dos
eleitores com Macron, o alto custo de vida e preocupações crescentes com a
imigração.
A participação nesta eleição legislativa foi de quase 60%, em comparação com 39,42% há dois anos — os números mais altos desde a votação legislativa de 1986, disse Mathieu Gallard, diretor de pesquisa da Ipsos França. Alguns analistas sugerem que a elevada participação poderá moderar o resultado do RN, possivelmente indicando que os eleitores fizeram um esforço extra para se manifestarem por receio de uma vitória da extrema direita. (Com Associated Press)
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