segunda-feira, 1 de julho de 2024

Extrema direita de Marine Le Pen sai na frente no 1º turno na França

Juliette Jabkhiro e Layli Foroudi / Valor Econômico

Porém, o resultado final no Parlamento ainda é altamente incerto por causa da maior taxa de participação dos eleitores em 38 anos

O partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen venceu o primeiro turno das eleições parlamentares da França neste domingo (30), segundo apontaram as pesquisas de boca de urna, mas o resultado final dependerá de intensas negociações ao longo da semana antes do segundo turno no próximo domingo.

O RN obteve entre 33% e 34,2%, segundo pesquisas de boca de urna dos institutos Elabe, Ifop, Ipsos, OpinionWay e Toluna Harris Interactive.

Isso coloca a extrema direita à frente dos rivais de esquerda e de centro, incluindo a aliança Juntos do presidente Emmanuel Macron, cujo bloco deve obter entre 20,3% e 22,4% dos votos. A Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão de esquerda formada às pressas, deve conquistar entre 28,5% e 29,6% dos votos, segundo as projeções.

As pesquisas de boca de urna ficaram em linha com as pesquisas de intenção de voto antes do primeiro turno, mas forneceram pouca clareza sobre se o RN, anti-imigração e eurocético, será capaz de formar um governo para “coabitar” com Macron, um defensor do bloco europeu, após o segundo turno do próximo domingo.

As chances de o RN de ganhar o poder na próxima semana dependerão dos acordos políticos feitos por seus rivais nos próximos dias. No passado, partidos de centro-direita e centro-esquerda se uniram para impedir que o RN chegasse ao poder, mas essa dinâmica, conhecida como “frente republicana”, é mais incerta do que nunca.

Se nenhum candidato alcançar 50% no primeiro turno, os dois primeiros colocados se qualificam para o segundo turno, assim como todos aqueles com 12,5% dos votos dos eleitores registrados no distrito. No segundo turno, quem receber mais votos leva o distrito.

A alta participação no domingo sugere que a França está caminhando para um número recorde de disputas de segundo turno com três candidatos. Essas geralmente beneficiam o RN muito mais do que disputas de dois candidatos, segundo alguns especialistas.

As negociações começaram já na noite deste domingo (30). Em uma declaração escrita à imprensa, Macron pediu aos eleitores que apoiem candidatos que são “claramente republicanos e democráticos”, o que, com base em suas declarações recentes, excluiria candidatos do RN e do partido de extrema esquerda França Insubmissa (LFI).

Macron elogiou os eleitores por terem ido votar em massa, dizendo que a participação recorde “atesta a importância desta votação para todos os nossos compatriotas e o desejo de clarear a situação política”. “Diante do RN, chegou a hora de uma aliança ampla e clara entre as forças democráticas e republicanas para o segundo turno”, disse o presidente em comunicado.

O premiê francês, Gabriel Attal, do partido Renascimento de Macron, fez um apelo neste domingo (30) aos eleitores para impedir que a extrema direita obtenha a maioria absoluta no parlamento. “Nem um único voto deve ir para o RN. A França não merece isso”, disse Attal.

Após a nova derrota nas urnas, o premiê francês decidiu suspender o avanço de uma reforma no sistem de seguro-desemprego, que iria reduzido os benefícios dos que procuram um emprego, disse uma fonte próxima a Attal à Reuters.

O líder da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, disse que a aliança NFP, que ficou em segundo lugar, retirará todos os seus candidatos que ficaram em terceiro lugar no primeiro turno. “Nossa diretriz é simples e clara: não mais um voto para o Reunião Nacional.”

Jordan Bardella, o presidente do RN de 28 anos, disse que está pronto para ser primeiro-ministro — desde que o seu partido conquiste a maioria absoluta. Ele descartou tentar formar um governo minoritário e nem Macron nem a NFP formarão uma aliança com ele.

“Serei um premiê de ‘coabitação’, respeitoso da constituição e do cargo de Presidente da República, mas intransigente quanto às políticas que implementaremos”, afirmou Bardella, que colocou a imigração e o aumento do custo de vida no centro da sua campanha. Ele critica o presidente por causa da inflação e promete virar a página de sete anos de “macronismo”.

Se o RN repetir o desempenho no próximo domingo e conquistar a maioria na Assembleia Nacional, Macron terá de dividir o poder com o primeiro governo de extrema direita desde a França de Vichy — quando o Estado francês colaborou com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O sistema de partilha de poder conhecido como “coabitação” irá enfraquecer o presidente Macron, que tem um mandato garantido até 2027, internamente e no cenário mundial.

Bardella falou logo depois que a principal figura do partido, Marine Le Pen, que fez um apelo aos franceses: “Precisamos de maioria absoluta para que Jordan Bardella seja nomeado premiê em oito dias por Emmanuel Macron”.

Cálculo complexo

O RN saiu na frente na disputa pela maioria na Assembleia Nacional, mas apenas um dos institutos de pesquisa — Elabe — projeta que o partido de extrema direita conquiste a maioria absoluta de 289 assentos no segundo turno.

Especialistas dizem que as projeções de assentos com base na votação do primeiro turno podem ser altamente imprecisas, especialmente nesta eleição, que atraiu uma participação alta em comparação com as eleições parlamentares anteriores. Isso ilustra o fervor político que Macron provocou com sua decisão surpreendente de antecipar a eleição parlamentar após o RN ter derrotado seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu no início de junho. Decisão essa que mergulhou a França em incerteza política, gerou ondas de choque em toda a Europa e provocou uma venda de ativos franceses nos mercados financeiros.

Pária de longa data, o RN está agora mais perto do poder do que nunca. Le Pen tem procurado limpar a imagem de um partido racista e antissemita, uma tática que funcionou em meio à frustração dos eleitores com Macron, o alto custo de vida e preocupações crescentes com a imigração.

A participação nesta eleição legislativa foi de quase 60%, em comparação com 39,42% há dois anos — os números mais altos desde a votação legislativa de 1986, disse Mathieu Gallard, diretor de pesquisa da Ipsos França. Alguns analistas sugerem que a elevada participação poderá moderar o resultado do RN, possivelmente indicando que os eleitores fizeram um esforço extra para se manifestarem por receio de uma vitória da extrema direita. (Com Associated Press)

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