Renato Vasconcelos / O Globo
Coalizão governista e bloco de esquerda
anunciaram iniciativas para tentar 'conter danos'
A vitória da
extrema direita e de seus aliados no primeiro turno das
eleições legislativas na França, com 34% dos votos, fez mais do que confirmar o
favoritismo do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, como
já vinham apontando as mais recentes pesquisas de opinião. O sucesso eleitoral
consolidou o partido, outrora marginal na política francesa, como uma força
nacional capaz de chegar ao poder — imediatamente ou em 2027 — e testa a
capacidade das forças de centro e esquerda superarem suas crises internas e
dialogarem.
As reações imediatas dos partidos foram diversas. Macron fez um apelo a uma “aliança ampla, claramente democrática”. Gabriel Attal, seu protegido e atual primeiro-ministro, anunciou que os candidatos do partido que ficaram em terceiro lugar sairiam do 2º turno para facilitar a disputa com o Reagrupamento Nacional — mesma medida anunciada pelo líder do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que lidera a coalizão das forças de esquerda.
A tentativa de uma aliança — ou ao menos uma
coordenação — eleitoral é a reprodução de uma estratégia que o professor de
Relações Internacionais, David Magalhães, coordenador do Observatório da
Extrema Direita comparou a um “cordão sanitário”.
— [Ao convocar eleições antecipadas] Macron
apostou em um sistema que funciona desde 2002, que foi quando o Jean-Marie Le
Pen chegou ao 2º turno, contra o [Jacques] Chirac, e os partidos de esquerda e
de centro fecharam uma coalizão para aniquilar qualquer chance da então Frente
Nacional chegar ao poder. O mesmo sistema de “cordão sanitário” funcionou em
2017 e 2022, mas já dava sinais de que iria se romper — disse Magalhães. — Isso
forma um tipo de aliança entre o centro liberal de Macron e a esquerda, com
vistas a tentar diminuir o impacto. Reverter é difícil, praticamente
impossível. Mas talvez consiga diminuir o impacto. O que restou para as forças
democráticas é evitar uma maioria absoluta dominada pelo Reagrupamento
Nacional.
Ainda é cedo para especular se a estratégia
funcionará desta vez. Um dos pontos de incerteza é a capacidade de Macron de
realinhar o discurso, após um 1º turno em que atacou a esquerda e a extrema
direita como iguais.
— A campanha que Macron fez foi muito dura —
avaliou o cientista político Maurício Santoro, professor de Relações
Internacionais da Uerj. — Ele usou a expressão 'guerra civil' para se referir à
ameaça que essas outras forças representariam. O que ele vai ter que dizer
agora ao eleitor é que ele exagerou, e que parte daquelas pessoas que ele disse
que iam declarar uma guerra civil são aliados importantes contra o RN.
Em seus primeiros pronunciamentos, Le Pen e
Bardella resumiram a disputa à ameaça de esquerda e ao Reagrupamento Nacional.
A líder histórica do partido enfatizou que apenas uma vitória com maioria no
parlamento interessaria — o que permite projetar uma estratégia de longo prazo,
explicou ao GLOBO Magalhães.
— A sinalização de que não vão aceitar o cargo de premier em um governo que não seja de maioria é uma decisão pensando em 2027. Eles não querem ser governo, mas amarrados a outra coalizão que vai diminuir a margem de manobra deles, o que poderia diminuir o capital político até a próxima eleição presidencial, em 2027.
Nenhum comentário:
Postar um comentário