O Estado de S. Paulo
As coisas parecem como sempre foram no País,
em meio à grande mediocridade
Há um ar de modorrenta normalidade nos
debates sobre a regulamentação da reforma tributária. Ela segue exatamente o
caminho “lógico”: quem é mais organizado garante para si o que acha ser seu
direito. Não há uma discernível noção de conjunto e o grosso volume da conta
será pago no final com pesada carta tributária.
O Congresso brasileiro é um fiel retrato dessa normalidade. Fora uma ou outra explosão de temas como aborto e saidinhas, trata-se de tocar os negócios como sempre foram tocados. Ou seja, é a representação de interesses regionais, setoriais ou corporativistas sem que se registre uma “força condutora” por parte de lideranças ou partidos nacionais.
Faz parte dessa modorrenta normalidade também
a instituição de um sistema tricameral. Temos Câmara, Senado e STF — como sempre, acionado pelos mesmos partidos que se
queixam de sua excessiva intromissão. Esse ativismo não tem volta para um ponto
qualquer no passado que se poderia chamar de “adequado”.
O sistema todo evoluiu para ter o STF como
ele hoje é. Com a “normalização” de decisões individuais e a condução de
inquéritos, como o das milícias digitais, sem data para terminar. Virou
paisagem à qual o sistema político se acomodou.
A modorrenta normalidade significa admitir
que a Lava Jato foi um “erro” que deixou como consequências
empreiteiras falidas e reputações destruídas. Tudo isso está sendo corrigido
com notável rapidez, e as mesmas figuras envolvidas nos escândalos de corrupção
recuperaram capital político e social — tão relevante no “networking” que foi,
como sempre, fator preponderante no crescimento e prosperidade de grupos
privados associados à máquina do Estado ou dela dependente para seus negócios.
Admita-se também como volta à normalidade
constatar que a influência e loteamento políticos de grandes estatais, com
destaque para a Petrobras, voltaram a ser tratados como assunto corriqueiro.
Sempre foi assim, incluindo políticas públicas fracassadas e a impressão de que
podemos comprar pipoca para ver a reprise do filme.
O que foi “novo” nas últimas eleições, o
surgimento de bolhas até aqui bastante herméticas, já se traduziu em
normalidade. Na qual as correntes políticas antagônicas parecem ter direito a
“fatos” próprios, sequer reconhecidos como tais pelo outro lado.
Há uma patente mediocridade no debate
político, na capacidade dos sistemas político e de governo de entregar as
respostas que a sociedade brasileira demanda para os severos desafios — os
mesmos de sempre. É a nossa modorrenta normalidade.
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