Valor Econômico
Um movimento abrupto dos juros, não antecipado, teria deixado o mercado mais confuso sobre as intenções do BC, e no fim adicionaria mais prêmio de risco
A julgar pela reação dos mercados no dia
seguinte à sua última reunião, na semana passada, o Comitê de Política
Monetária (Copom) fez a sua mais bem-sucedida comunicação desde abril, quando
adotou um tom mais cauteloso.
A cotação do dólar caiu, houve redução na
inflação implícita em títulos públicos e diminuiu a inclinação da curva de
juros futuros. Na sexta, o dólar subiu, mas o que pesou foi a piora no ambiente
internacional.
Apesar da reação positiva, houve alguns comentários de especialistas sobre uma certa dissonância entre a descrição do cenário inflacionário feita pelo comitê, claramente desfavorável, e a ação tímida na alta de juros. Afinal, se o Copom está tão preocupado com a inflação, por que subiu os juros em apenas 0,25 ponto percentual, em vez de um aperto mais forte de 0,5 ponto?
O Copom está em período de silêncio, e é
preciso esperar pela ata da sua reunião, que sai nesta terça, para obter mais
explicações. Mas não parece haver relutância em apertar o juro. O comitê,
aparentemente, evita mudanças abruptas na política monetária, que só causam
incertezas e adicionam prêmios de risco desnecessários nos juros. Também
procura seguir a sinalização de política monetária feita anteriormente - que
não é uma camisa de força, mas não deveria ser desrespeitada sem que a evolução
concreta da economia se desviasse do cenário previsto.
Na reunião de julho, o Copom estava diante de
uma situação bem parecida com a atual. Sua projeção de inflação, então em 3,2%,
estava acima da meta, de 3%. O balanço de riscos para a inflação se deslocou
para o lado mais negativo, numa zona dúbia em que não se podia mais afirmar
categoricamente que os perigos altistas para a inflação se equiparavam com os
baixistas. Havia, portanto, argumentos para iniciar já naquele encontro o ciclo
de aperto monetário. A pergunta que surge agora foi feita em julho: por que não
subiu a Selic?
Alguns acharam que o BC não agiu logo de cara
porque queria esperar pela decisão do Fed (Federal Reserve, o BC americano).
Outros, que precisava formar um consenso no comitê pelo aperto.
As declarações feitas depois pelo diretor de
Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, eliminaram essas duas explicações.
Ele minimizou o efeito que o Fed poderia ter em dispensar a necessidade de alta
dos juros no Brasil. Também passou uma mensagem de unidade.
A explicação mais plausível é que o Copom
queria preparar os espíritos para uma alta de juros, evitando um movimento
abrupto. A aposta majoritária do mercado nas opções do Copom na B3 era
pela manutenção de juros. A maioria esmagadora dos analistas econômicos não
apenas previa, mas também recomendava que o Copom mantivesse os juros em 10,5%
ao ano. Nada disso deveria dar muito conforto ao BC, já que as apostas na
manutenção vinham combinadas com aumentos nas projeções de inflação, que iam se
distanciando das metas. Mas, de qualquer forma, o mercado ainda não precificava
o aperto.
A decisão do Copom foi não dar nenhuma
sinalização firme para a taxa de juros. Apenas passou os dois caminhos
possíveis de sua estratégia, a alta de juros ou sua manutenção. No dia seguinte
ao comunicado, o mercado reagiu mal. Mas depois se recuperou, quando Galípolo
explicou que o cenário precisava melhorar para que fosse dispensado um aperto.
Na semana passada, o comunicado do Copom foi
bem parecido com o de julho. Embora a descrição do cenário parecesse justificar
uma alta de 0,5 ponto, o movimento ficou circunscrito ao 0,25 ponto. Esse
percentual já estava sinalizado como possível desde julho, e foi sacramentado
quando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o ciclo
seria gradual.
Agora, o Copom, a rigor, não se compromete
com nada para as próximas reuniões. Mas passou sua avaliação de que o ciclo de
aperto precisa ser maior do que esperado pelo mercado, por meio de suas
projeções de inflação, balanço de riscos e reconhecimento de que a economia
está sobreaquecida. Como o ciclo é maior, o mercado cogita um ritmo mais forte
de alta da Selic.
Essa comunicação, que ainda precisa ser
ratificada na ata do Copom, teve efeitos no mercado. Os juros futuros de curto
prazo subiram, e esse é um dos canais mais importantes de transmissão da
política monetária. As condições financeiras estão mais apertadas porque os
participantes reviram a trajetória esperada da Selic.
Um movimento abrupto dos juros, não
antecipado, teria deixado o mercado mais confuso sobre as intenções do BC, e no
fim adicionaria mais prêmio de risco. Sempre que possível, o BC deve ser
coerente com o que sinalizou.
Isso não quer dizer que o BC não deva
surpreender nunca. Alguns analistas advogam o tratamento de choque. Um
argumento a favor dessa abordagem é que os custos nos prêmios de riscos seriam
mais do que compensados pelos ganhos de credibilidade, sobretudo quando o BC
precisa muito reconstruir a sua reputação.
Mas, no fim das contas, a reputação só é
ganha com a consistência da ação do Banco Central para cumprir as metas.
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