segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Daniela Chiaretti - Lula na ONU: mas quem o escutou na plateia?

Valor Econômico

Presidente da República bateu na falta de vigor, atualidade e relevância da ONU e suas instituições, mas nenhum dos chefes de Estado dos cinco países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU estava presente

Em sua primeira aparição pública em Nova York, na sede das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso em que bateu na falta de vigor, atualidade e relevância da ONU e suas instituições.

O maior problema do discurso não foram as palavras do brasileiro, coerentes com a visão que o governo tem levado às COPs e ao G20. O desastre estava na falta de líderes dos países ricos na plateia. À exceção do premiê alemão Olaf Scholz, ninguém foi.

Nenhum dos chefes de Estado dos cinco países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido) ouviu Lula dizer que “a legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”.

Joe Biden, Xi Jinping, Vladimir Putin, Emmanuel Macron e Keir Starmer passaram a manhã de domingo (22) longe das filas para entrar na sede da ONU.

Só o alemão, entre os líderes de países ricos, ouviu o brasileiro dizer que o financiamento climático é insuficiente, que naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas é vergonhoso e que não se pode recuar na promoção de igualdade de gêneros, na luta contra o racismo e em outras formas de discriminação. Ou voltar a viver ameaçados pelas armas nucleares.

O evento foi convocado pelo Secretário-Geral da ONUAntónio Guterres, para estruturar o que seria o legado de sua gestão e a visão de futuro que o mundo urgentemente precisa.

Guterres deve deixar o posto em dezembro de 2026. No ano que vem a ONU faz 80 anos.

O político português tem procurado dizer, a cada discurso, que a crise do clima está levando o mundo para o abismo. Outro dia, a jornalistas, reconheceu que as instituições da Casa que preside foram desenhadas por nossos avôs e não têm a menor condição de solucionar os desafios assustadores que estarão na vida dos nossos filhos e netos.

O secretário-geral, infelizmente, tem toda razão. Scholz estava no evento porque Alemanha e Namíbia foram os países que coordenaram o Pacto para o Futuro e não tinha outra saída.

documento aprovado hoje é vago, não tem força de lei e, mesmo assim, foi aceito com tensões.

O texto, que fala na crise do clima, na necessidade de desarmamento, na urgência pela reforma da ONU – ao lado de outros dois igualmente importantes, um deles focado na juventude e outro na necessidade de se criar algum tipo de regulação do mundo digital – é o melhor resultado possível quando se busca consenso entre quase 200 países.

Muito necessário, trata-se apenas uma declaração de boas intenções – e nem tão boa assim porque a Rússia declarou não estar feliz com o texto. O Pacto para o Futuro tem promessas, verbos no futuro e não obriga os países a nada.

O esvaziamento da plateia do Summit for the Future indica o que já se sabe – a espinha vertebral do regime multilateral está quebrada. O governo brasileiro (e muitos outros) defende o seu fortalecimento, atualidade, transparência e efetiva inclusão. Até porque o mundo não tem nada, de base democrática, para colocar no lugar.


2 comentários:

Anônimo disse...

Assim como os indivíduos, os países cada vez mais ocupados com seus próprios interesses.

Anônimo disse...

Agora vou falar o que os jornalistas evitam comentar, o Lula teve o microfone desligado no discurso da ONU , quando terminou seu tempo e não sei se dando uma de bobo ou de gaga, continuou falando sem condições de tradução simultânea para plateia e ninguém ouvindo a voz do velho presidente Brasileiro , foi muito comedia e vergonhoso mas com o Lula a gente já está acostumado, se tiver bebido então o vexame é maior ainda