O Globo
Candidatos de mau comportamento não são a
causa, mas sim a consequência do que a população quer
Muito se reclama de xingamento de sobra e
proposta de política pública de menos. A primeira medida tomada pela maioria
dos analistas é dizer que a culpa é do político X,Y, ou Z e, em seguida, tentar
buscar soluções para reprimir o mau comportamento dos candidatos por meio de
multas, ações judiciais ou desqualificação deles.
Não poderia discordar mais. A culpa não é do
político A, B ou C. E a repressão estatal tende sempre a fortalecê-los, em vez
de diminuir sua popularidade. Eles não são a causa, mas sim a consequência do
que a população quer.
O que vemos hoje só tem um culpado: o eleitorado. Se a maioria dos eleitores busca líderes que gerem conexão intensa, os políticos farão de tudo para atender a essa demanda.
A opinião pública tem papel fundamental na
moldagem do comportamento político. Se o enfrentamento, a falta de educação e a
ofensa atraem votos, é isso que os candidatos proporcionarão na corrida
eleitoral.
Quando os analistas batem nos candidatos e os
desqualificam, na verdade ofendem o próprio eleitor que se identifica com eles,
gerando maior afastamento e desacreditando o próprio emissor da mensagem.
Esse fenômeno está longe de ser novo. Em
1989, Fernando
Collor de Mello espalhou que Lula oferecera
dinheiro à ex-companheira para abortar a filha que tiveram. Além disso, afirmou
que Lula tomaria a poupança dos brasileiros.
Em 1994, em entrevista à rádio CBN, Lula disse que
o TSE “desviar
2 ou 3 milhões de votos neste país é mais fácil que tirar pirulito de criança”.
Em 2014, houve “derramamento de sangue”: o PT acusou
Marina Silva de atuar em nome dos banqueiros e afirmou que, se eleita, ela
acabaria com o Bolsa Família.
O ano de 2018 ficou marcado pelo uso das
redes sociais por Jair
Bolsonaro, que chegou a um novo nível de propagação de mentiras. Nas
últimas eleições, os dois principais candidatos a presidente nem sequer
apresentaram plano de propostas estruturado e só trocavam acusações.
Isso tudo mostra que o país inteiro deu um
grande cheque em branco a ambos, e as eleições, na verdade, são um concurso de
popularidade. A ciência política explica que eleitores não têm tempo ou
conhecimento suficiente para analisar todas as informações disponíveis sobre os
candidatos e suas propostas.
A psicologia social diz que os eleitores usam
atalhos mentais para simplificar sua decisão, como a identificação partidária
ou a avaliação da competência de um candidato com base em sua aparência.
Emoções negativas, como medo e raiva, podem
impulsionar os eleitores a buscar candidatos que prometam mudanças radicais ou
representem uma figura de autoridade forte. Esperança e euforia podem levar os
eleitores a apoiar quem promete um futuro melhor. A capacidade de um candidato
de se conectar emocionalmente com o público, por meio de um discurso inspirador
ou de uma personalidade carismática, pode ser um fator decisivo.
Por isso, se queremos mudança na política,
precisamos modificar o que aprovamos como postura dos candidatos. Afinal, não
podemos obter resultado diferente fazendo sempre as mesmas coisas.
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