segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Irapuã Santana - É o eleitor quem manda

O Globo

Candidatos de mau comportamento não são a causa, mas sim a consequência do que a população quer

Muito se reclama de xingamento de sobra e proposta de política pública de menos. A primeira medida tomada pela maioria dos analistas é dizer que a culpa é do político X,Y, ou Z e, em seguida, tentar buscar soluções para reprimir o mau comportamento dos candidatos por meio de multas, ações judiciais ou desqualificação deles.

Não poderia discordar mais. A culpa não é do político A, B ou C. E a repressão estatal tende sempre a fortalecê-los, em vez de diminuir sua popularidade. Eles não são a causa, mas sim a consequência do que a população quer.

O que vemos hoje só tem um culpado: o eleitorado. Se a maioria dos eleitores busca líderes que gerem conexão intensa, os políticos farão de tudo para atender a essa demanda.

A opinião pública tem papel fundamental na moldagem do comportamento político. Se o enfrentamento, a falta de educação e a ofensa atraem votos, é isso que os candidatos proporcionarão na corrida eleitoral.

Quando os analistas batem nos candidatos e os desqualificam, na verdade ofendem o próprio eleitor que se identifica com eles, gerando maior afastamento e desacreditando o próprio emissor da mensagem.

Esse fenômeno está longe de ser novo. Em 1989, Fernando Collor de Mello espalhou que Lula oferecera dinheiro à ex-companheira para abortar a filha que tiveram. Além disso, afirmou que Lula tomaria a poupança dos brasileiros.

Em 1994, em entrevista à rádio CBN, Lula disse que o TSE “desviar 2 ou 3 milhões de votos neste país é mais fácil que tirar pirulito de criança”. Em 2014, houve “derramamento de sangue”: o PT acusou Marina Silva de atuar em nome dos banqueiros e afirmou que, se eleita, ela acabaria com o Bolsa Família.

O ano de 2018 ficou marcado pelo uso das redes sociais por Jair Bolsonaro, que chegou a um novo nível de propagação de mentiras. Nas últimas eleições, os dois principais candidatos a presidente nem sequer apresentaram plano de propostas estruturado e só trocavam acusações.

Isso tudo mostra que o país inteiro deu um grande cheque em branco a ambos, e as eleições, na verdade, são um concurso de popularidade. A ciência política explica que eleitores não têm tempo ou conhecimento suficiente para analisar todas as informações disponíveis sobre os candidatos e suas propostas.

A psicologia social diz que os eleitores usam atalhos mentais para simplificar sua decisão, como a identificação partidária ou a avaliação da competência de um candidato com base em sua aparência.

Emoções negativas, como medo e raiva, podem impulsionar os eleitores a buscar candidatos que prometam mudanças radicais ou representem uma figura de autoridade forte. Esperança e euforia podem levar os eleitores a apoiar quem promete um futuro melhor. A capacidade de um candidato de se conectar emocionalmente com o público, por meio de um discurso inspirador ou de uma personalidade carismática, pode ser um fator decisivo.

Por isso, se queremos mudança na política, precisamos modificar o que aprovamos como postura dos candidatos. Afinal, não podemos obter resultado diferente fazendo sempre as mesmas coisas.

 

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