Folha de S. Paulo
Deixar
golpistas fora do segundo turno em São Paulo seria uma enorme vitória para a
democracia
Ricardo Nunes foi
um prefeito ruim demais para se reeleger sem o voto de fanáticos que não se
importam com a realidade. Sabendo disso, o prefeito de São Paulo foi
atrás do apoio de Jair
Bolsonaro para a eleição deste ano.
Jair
inclusive indicou o candidato a vice de Nunes, Ricardo Mello
Araújo, que Bolsonaro vê como uma coleira puxada por ele e amarrada
no pescoço de Nunes.
Até aí, um defensor de Nunes poderia dizer: bom, ainda não prenderam Bolsonaro. Enquanto não prenderem, ele ainda tem o direito constitucional de participar da vida política. Nunes é um candidato de direita, Bolsonaro ainda tem muitos votos na direita, a aliança é natural. Se Nunes fosse um prefeito competente e popular, talvez conseguisse atrair os eleitores de direita sem concessões ao golpismo. Mas Nunes não é nada disso.
Esse
papo colou até que Bolsonaro traiu Nunes. Durante algumas semanas, o
bolsonarismo esteve inteiro —embora nunca oficialmente— com Pablo Marçal,
que crescia rapidamente nas pesquisas. Marçal de fato tinha mais dos defeitos
que atraem o eleitorado bolsonarista.
Enquanto
Marçal crescia, era estrategicamente compreensível —mas nunca perdoável— que
Nunes se esforçasse para segurar os bolsonaristas do seu lado. Afinal, sem o
apoio dos golpistas, corria risco real de não ir para o segundo turno.
Mas as
pesquisas viraram. Marçal parece ter atingido, além da cadeira do
Datena, seu teto. A máquina municipal começou a dar votos a Nunes, que parece
bem posicionado para enfrentar Boulos no segundo turno. Nunes não deve nada
desse crescimento a Bolsonaro: cresceu apesar do entusiasmo bolsonarista por
Pablo Marçal.
Seria
a chance de Nunes se distanciar dos golpistas, certo? Deixá-los fora do segundo
turno em São Paulo seria uma enorme vitória para a democracia.
Mas
não.
Já
depois de ter descoberto que não precisa de Bolsonaro para vencer, Nunes deu
uma entrevista para o marginal Paulo Figueiredo, cuja participação na tentativa
de golpe de 2022/23 é bem documentada pela polícia. Figueiredo leu na rádio
Jovem Pan o manifesto golpista de oficiais da ativa. Também usou a rádio para
"denunciar" generais que não aderiam ao golpe, a quem atribuía os
piores motivos possíveis.
Na
entrevista, Nunes admitiu a possibilidade de impeachment de Alexandre de Moraes
e disse que se arrependeu de ter defendido a
obrigatoriedade da vacina durante a pandemia. Antes disso, já havia
dito que o 8 de janeiro não havia sido um golpe. Ao final da conversa, o atual
prefeito de São Paulo já estava a uma peruca ruiva de virar Carla
Zambelli.
É
por isso que os bolsonaristas te desprezam, Nunes. Porque sabem que você vai se
render mesmo quando estiver vencendo.
Para Guilherme
Boulos ficar tão distante do centro quanto o Ricardo Nunes de
2024, o Movimento dos Sem-Teto já teria que ter pelo menos tentado explodir o
aeroporto de Brasília na véspera de Natal, como fez o bolsonarismo em 2022.
Mas
a turma de sempre vai votar em Nunes contra Boulos. Vão votar no extremista e
continuar distribuindo uns para os outros carteirinhas de centrista, diplomas
de moderado e certificados de voz da razão, tudo depois de meses fingindo que
não viam Tabata Amaral ali
no canto defendendo as propostas que eles mentem que apoiam.
Um comentário:
Muito bom!
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