Valor Econômico
Por que mesmo com controle do governo
federal, a segunda bancada no Congresso e uma das maiores fatias do fundão o PT
foi tão mal nas eleições?
Muito já se discutiu, nos últimos dias, a
respeito do resultado insatisfatório do Partido dos Trabalhadores nas eleições
de domingo passado. O fato de o principal partido de esquerda, que também é o
partido do presidente da República, que vem a ser um dos políticos mais
populares da história, ter feito apenas 248 prefeituras no país despertou muita
conversa sobre a perda de competitividade de Lula, do PT e da esquerda.
Os dados são desanimadores para os afiliados ao partido. O PT foi apenas a nona legenda em número de municípios conquistados, assim como os 3.128 futuros vereadores petistas colocam o partido no longínquo oitavo lugar no ranking. Em ambos os casos, o PT perde para o PSB, desde 2016 a maior força em bases locais entre os partidos que ocupam o espectro de diversos tons de vermelho que representam a esquerda brasileira.
É bem verdade que o PT melhorou o desempenho
em relação ao fundo de poço observado em 2020, quando fez apenas 185 prefeitos
e 2.673 vereadores. Mas mesmo essa boa notícia se esvai ao se perceber que a
sigla de Lula, neste ano, trocou de posições com o PSDB no ranking geral - os
tucanos ficaram em oitavo em quantidade de prefeitos e nono em número de
vereadores. Afinal, há muito o PSDB é aquele partido do qual se diz que morreu,
e só se esqueceram de enterrar.
Nas eleições em que as emendas orçamentárias
foram apontadas como a mais poderosa arma para eleger prefeitos Brasil afora, o
PT, mesmo com o controle do governo federal e mais uma bancada de 68 deputados
e 9 senadores, não conseguiu tirar proveito do seu controle nem sobre o
orçamento impositivo do Congresso, nem tampouco o discricionário, comandado por
Lula.
Tampouco os R$ 619,9 milhões recebidos pelo
PT do fundão eleitoral, a segunda maior fatia do bolo de tamanho recorde
distribuído neste ano, serviram de muita coisa. Em termos de taxa de
aproveitamento (número de candidatos eleitos em relação ao total de candidatos
lançados), o PT conseguiu eleger apenas 18,1% dos seus postulantes a prefeito
(16º geral segundo esse indicador) e 11,9% dos aspirantes a vereador (11º
lugar).
No quesito produtividade, o partido comandado
por Gleisi Hoffmann se saiu pior do que o PDT ou o PC do B, siglas de muito
menores expressão e dinheiro no caixa.
“O PT é um partido que envelheceu e não soube
renovar os seus quadros” foi um diagnóstico muito utilizado na semana passada.
Não é isso o que dizem os números. Entre os dez maiores partidos brasileiros, a
agremiação fundada por Lula e seus companheiros em 1980 é aquela que
proporcionalmente mais elegeu candidatos novatos na política neste ano.
De todos os prefeitos e vereadores eleitos
pelo partido, 18,5% disputaram sua primeira eleição neste ano, taxa só igualada
pelo PSB - todos os demais tiveram proporcionalmente menos estreantes eleitos.
O problema, portanto, não está na idade dos
candidatos e nem na atratividade que a legenda exerce sobre os jovens políticos
alinhados à esquerda.
Para tentar entender o que aconteceu com o
PT, resolvi voltar a 2012, o ano em que o partido teve o melhor desempenho da
sua história nas eleições municipais.
Antes das jornadas de junho de 2013, da Lava
Jato, do impeachment de Dilma e da prisão de Lula, os petistas conquistaram 651
prefeituras e elegeram 5.181 vereadores - ficando atrás apenas do PMDB e do
PSDB no cômputo geral daquele ano.
Em busca de explicações para a perda de
competitividade do PT, mergulhei nos dados do Tribunal Superior Eleitoral para
identificar o que aconteceu com aqueles 651 prefeitos eleitos pelo partido de
Lula e Dilma na sua mais proveitosa eleição municipal.
O resultado diz muito sobre as transformações
vividas pelo PT nestes 12 anos em que a maré do partido virou algumas vezes.
Quase um terço dos prefeitos eleitos pela sigla em 2012 deixou o partido (210,
para ser mais exato) em pelo menos uma das seis eleições seguintes. Engana-se,
porém, quem acredita que eles migraram para os outros partidos de esquerda
(Psol, PC do B, PV, Rede, PDT ou PSB). A maioria dos prefeitos petistas de 2012
trocou o partido por alguma sigla de centro ou de direita, o que mostra que a
sigla deixou de oferecer uma perspectiva de carreira política de sucesso para
esses políticos.
E mais: dos 273 prefeitos de 2012 que
permaneceram fiéis ao PT, apenas 41,7% vieram a ganhar alguma eleição
posteriormente, contra uma taxa de sucesso de 54,1% de quem trocou o PT por uma
sigla de centro ou de direita.
O dado mais chocante, porém, é que do total
de 651 prefeitos petistas naquele ano, os dados do TSE indicam que 168 nunca
mais disputaram uma eleição. Trata-se de um resultado a ser pesquisado: o que
fez um quarto dos governantes municipais do partido simplesmente abandonar a
carreira político-eleitoral a partir de 2016?
Esses dados indicam que talvez o problema do
PT não esteja na idade dos seus quadros, mas sim na sua perda de vitalidade
enquanto partido - seja em relação aos políticos e, principalmente, o
eleitorado.
3 comentários:
Excelente análise !
Nas cidades ninguém votam em partidos.
Sim, excelente análise!
Postar um comentário