Valor Econômico
Até o momento o presidente cedeu pouco espaço para aliados e governa em minoria no Congresso
O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o
partido mais votado no Brasil no primeiro turno das eleições municipais. A
porcentagem de 14% em relação aos 111 milhões de votos válidos computados em
todo o país impressiona pouco, é verdade, mas ganha relevância quando se
compara com os 7,9% conseguidos pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o
Brasil tivesse uma lógica binária, seria uma diferença de quase 2 para 1.
Mas a lógica não é binária, embute várias
nuances. O arco de partidos que apoiou a aliança de Lula em 2022 é um grande
derrotado, mas a vitória de Bolsonaro tem muitos sócios. Se Lula é maior que o
petismo, Bolsonaro é menor que o antipetismo. Basta ver o que aconteceu nos
Estados.
A começar de São Paulo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) colheu ou está para colher muitas vitórias nos grandes centros, ancorado em outros partidos: o PSD , que recebeu 13,5% dos votos válidos, o Republicanos, com 10% e o MDB, com 13,4% são os principais. Esses três partidos, sobretudo os dois primeiros, deverão estar com Tarcísio em 2026 na eleição que o governador de São Paulo decidir disputar. Já em relação a Bolsonaro a conversa é outra, e em relação ao MDB do prefeito paulistano Ricardo Nunes não deve ter conversa. Tarcísio afirmou sua liderança no Estado, comentou um dirigente empresarial atento observador da política.
Minas Gerais lança desafios aos analistas. Só
há duas lideranças no Estado: o governador Romeu Zema (Novo) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL). Mas o
partido mais votado, com 15,7% do total, foi o PSD do presidente do
Senado Rodrigo Pacheco (MG),
que vive um distanciamento da direita. O PT em Minas teve 8,6% dos votos. A
eleição em Belo Horizonte está em aberto, apesar da tendência conservadora do
Estado.
No Rio de Janeiro o prefeito Eduardo Paes (PSD) é
pule de dez para disputar o governo estadual em 2026, por mais que negue. Mas
no balanço geral dos votos fluminenses o PL ficou com 28,9% , ante 22,5% do
PSD. Sem alianças, Paes terá dificuldades para se viabilizar.
Em Goiânia o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil),
viu seu apoiado Sandro Mabel passar para o segundo turno atrás do
bolsonarista Fred
Rodrigues (PL). Mas Goiás não é Goiânia, do contrário Caiado
não teria chegado a ser governador. O União Brasil teve 27,7% dos votos válidos
para prefeito no Estado, e o MDB, que está sob influência de Caiado, conseguiu
14,9%. O governador tenta se viabilizar como presidenciável, e tem chances de
manter a sua sucessão sob controle.
No Paraná, terra de outro governador cogitado
às vezes para a Presidência, o PSD de Ratinho Júnior teve o triplo dos votos do
PL. O candidato do governador em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), tem boas chances de vencer,
mas a ida para o segundo turno da jornalista Cristina Graeml (PMB) indica
que a trilha da direita antissistema leva a algum lugar e não foi trafegada
apenas pelo influencer Pablo
Marçal (PRTB), terceiro colocado em São Paulo.
Marçal coloca-se como presidenciável em 2026
e tem densidade eleitoral nacional para ser levado muito a sério. A Justiça
Eleitoral, contudo, pode torná-lo inelegível, mas o que está acontecendo em
Curitiba indica que seu nome é legião. Há espaço para a direita antissistema e
calcada nas redes sociais aparecer na próxima eleição presidencial, seja por
meio de Marçal ou de outra pessoa.
O caminho da direita está congestionado
demais para a campanha por uma anistia de Bolsonaro, seja pelo Congresso
Nacional ou pelo Judiciário se desenvolver com a tranquilidade que o
ex-presidente e seus aliados imaginavam. Tantas variáveis tornam duvidoso
projetar o ex-presidente como única alternativa à oposição em 2026.
Na outra margem do rio, o resultado da
eleição municipal mostra um horizonte sombrio para o lulismo. É chocante
constatar que o PT não chegou a 6% dos votos para prefeito no Estado de São
Paulo, onde nasceu, tendo vencido no primeiro turno em apenas três localidades.
Saiu das urnas de 2020 com quatro. Ainda disputa em Mauá e Diadema, mas mesmo
se levar será um resultado demasiadamente pobre.
Tal resultado é visto por quem observa de fora como oportunidade para um freio de arrumação, já visando 2026. Até o momento o presidente cedeu pouco espaço para aliados e governa em minoria no Congresso, com custosas negociações caso a caso. Será suficiente para uma campanha de reeleição?
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