terça-feira, 8 de outubro de 2024

César Felício - Eleição 2024 abre o leque para sucessão em 2026

Valor Econômico

Até o momento o presidente cedeu pouco espaço para aliados e governa em minoria no Congresso

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o partido mais votado no Brasil no primeiro turno das eleições municipais. A porcentagem de 14% em relação aos 111 milhões de votos válidos computados em todo o país impressiona pouco, é verdade, mas ganha relevância quando se compara com os 7,9% conseguidos pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o Brasil tivesse uma lógica binária, seria uma diferença de quase 2 para 1.

Mas a lógica não é binária, embute várias nuances. O arco de partidos que apoiou a aliança de Lula em 2022 é um grande derrotado, mas a vitória de Bolsonaro tem muitos sócios. Se Lula é maior que o petismo, Bolsonaro é menor que o antipetismo. Basta ver o que aconteceu nos Estados.

A começar de São Paulo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) colheu ou está para colher muitas vitórias nos grandes centros, ancorado em outros partidos: o PSD , que recebeu 13,5% dos votos válidos, o Republicanos, com 10% e o MDB, com 13,4% são os principais. Esses três partidos, sobretudo os dois primeiros, deverão estar com Tarcísio em 2026 na eleição que o governador de São Paulo decidir disputar. Já em relação a Bolsonaro a conversa é outra, e em relação ao MDB do prefeito paulistano Ricardo Nunes não deve ter conversa. Tarcísio afirmou sua liderança no Estado, comentou um dirigente empresarial atento observador da política.

Minas Gerais lança desafios aos analistas. Só há duas lideranças no Estado: o governador Romeu Zema (Novo) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL). Mas o partido mais votado, com 15,7% do total, foi o PSD do presidente do Senado Rodrigo Pacheco (MG), que vive um distanciamento da direita. O PT em Minas teve 8,6% dos votos. A eleição em Belo Horizonte está em aberto, apesar da tendência conservadora do Estado.

No Rio de Janeiro o prefeito Eduardo Paes (PSD) é pule de dez para disputar o governo estadual em 2026, por mais que negue. Mas no balanço geral dos votos fluminenses o PL ficou com 28,9% , ante 22,5% do PSD. Sem alianças, Paes terá dificuldades para se viabilizar.

Em Goiânia o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), viu seu apoiado Sandro Mabel passar para o segundo turno atrás do bolsonarista Fred Rodrigues (PL). Mas Goiás não é Goiânia, do contrário Caiado não teria chegado a ser governador. O União Brasil teve 27,7% dos votos válidos para prefeito no Estado, e o MDB, que está sob influência de Caiado, conseguiu 14,9%. O governador tenta se viabilizar como presidenciável, e tem chances de manter a sua sucessão sob controle.

No Paraná, terra de outro governador cogitado às vezes para a Presidência, o PSD de Ratinho Júnior teve o triplo dos votos do PL. O candidato do governador em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), tem boas chances de vencer, mas a ida para o segundo turno da jornalista Cristina Graeml (PMB) indica que a trilha da direita antissistema leva a algum lugar e não foi trafegada apenas pelo influencer Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado em São Paulo.

Marçal coloca-se como presidenciável em 2026 e tem densidade eleitoral nacional para ser levado muito a sério. A Justiça Eleitoral, contudo, pode torná-lo inelegível, mas o que está acontecendo em Curitiba indica que seu nome é legião. Há espaço para a direita antissistema e calcada nas redes sociais aparecer na próxima eleição presidencial, seja por meio de Marçal ou de outra pessoa.

O caminho da direita está congestionado demais para a campanha por uma anistia de Bolsonaro, seja pelo Congresso Nacional ou pelo Judiciário se desenvolver com a tranquilidade que o ex-presidente e seus aliados imaginavam. Tantas variáveis tornam duvidoso projetar o ex-presidente como única alternativa à oposição em 2026.

Na outra margem do rio, o resultado da eleição municipal mostra um horizonte sombrio para o lulismo. É chocante constatar que o PT não chegou a 6% dos votos para prefeito no Estado de São Paulo, onde nasceu, tendo vencido no primeiro turno em apenas três localidades. Saiu das urnas de 2020 com quatro. Ainda disputa em Mauá e Diadema, mas mesmo se levar será um resultado demasiadamente pobre.

Tal resultado é visto por quem observa de fora como oportunidade para um freio de arrumação, já visando 2026. Até o momento o presidente cedeu pouco espaço para aliados e governa em minoria no Congresso, com custosas negociações caso a caso. Será suficiente para uma campanha de reeleição?

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