terça-feira, 8 de outubro de 2024

Hélio Schwartsman - 2º turno não é outra eleição

Folha de S. Paulo

Fatos e padrões que marcaram primeira etapa do processo eleitoral não são apagados na segunda

Uma das frases mais repetidas em colunas de opinião e análises nas primeiras segundas-feiras de outubro de anos eleitorais é que o segundo turno é uma outra eleição. Receio que não seja bem assim. Segundos turnos são, como indica o adjetivo numeral, uma continuação do primeiro.

É claro que só o fato de o processo eleitoral ainda não ter sido encerrado mantém aberto o espaço para contingências, mas os fatos e padrões que marcaram a primeira votação não são simplesmente apagados.

Assim, candidatos que ficaram a um ou dois pontos percentuais de atingir a metade dos votos válidos, como os prefeitos de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB, 49,72%), e de João Pessoa, Cícero Lucena (PP, 49,15%), estão praticamente com o diploma na mão.

É muito raro candidatos perderem votos do primeiro para o segundo turno e é muito difícil que não consigam entre os eleitores que ficaram "órfãos" a fração de pontos que faltou para a vitória. Foi o caso do próprio Lula em 2022, que saiu do primeiro turno com 48,43% dos votos válidos.

Outra característica que não vai embora é a rejeição. Um marqueteiro competente até consegue suavizá-la um pouco na curta campanha de segundo turno, mas dificilmente muda o quadro geral.

Em São Pauloisso é um problema para Guilherme Boulos, cuja rejeição no último Datafolha foi de 38%, contra 25% de Ricardo Nunes. Não é impossível para o psolista reverter o quadro, mas será um enorme desafio, especialmente porque os eleitores de Pablo Marçal, que agora estão sem candidato, tendem mais a Nunes do que a Boulos.

Não estou com essas observações, que são de natureza probabilística e não determinística, sugerindo que não há em eleições espaço para imponderáveis, muito pelo contrário. Em São Paulo, a disputa foi tão acirrada entre os três primeiros colocados que acho que dá para descrever como um golpe de sorte o fato de termos nos livrado do infame Marçal. E ele delinquiu tanto que é altamente provável que o TSE o torne inelegível por oito anos.

Neste caso específico, os deuses favoreceram a democracia.

 

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