sábado, 28 de setembro de 2024

Alvaro Costa e Silva - A 'jenialidade' no transporte público

Folha de S. Paulo

Cinturão de teleféricos, tirolesa e Uber subsidiado estão entre as propostas dos candidatos

Uma pesquisa feita pelo Ipec mostrou que os passageiros de ônibus, metrô e trem perdem hoje em média duas horas e 47 minutos por dia nos deslocamentos em São Paulo, o que significa dez minutos a mais em comparação com 2023. Os motoristas de carro, no entanto, tiveram um refresco: gastam 18 minutos a menos do que há um ano. Ou seja, a tendência é que cresça ainda mais o uso do carro particular como meio de transporte.

Não é preciso ser especialista, tampouco candidato a prefeito da maior cidade do país, para perceber que o resultado da pesquisa contraria o consenso de que é necessário investir no transporte público para mitigar problemas como congestionamentos, emissão de poluentes e desigualdade de acesso à mobilidade urbana —pautas incontornáveis das campanhas não só de São Paulo como do Rio de Janeiro e outros grandes centros, só perdendo para a segurança, campeã absoluta das atenções.

Não por acaso, aumentou no pleito atual o interesse dos partidos de direita e de centro pelo tema passe livre, tradicionalmente uma bandeira da esquerda. A proposta já foi implementada em mais de 130 cidades brasileiras. O mesmo levantamento que mostra a piora do tempo do transporte público na capital paulista aponta que 66% dos entrevistados apoiam a ideia. A maioria dos candidatos não dá uma resposta direta, fica em cima do muro ou apresenta soluções a meio do caminho.

A sugestão de Maria Helena, do Novo, é espantosa. Numa sabatina, a economista ligada ao ex-ministro Paulo Guedes defendeu, como alternativa aos ônibus, que a prefeitura use dinheiro público em viagens por aplicativo: "A cidade se espraiou tanto que, chegando lá na periferia, não faz sentido você colocar um ônibus. Às vezes vale mais a pena o governo subsidiar para a pessoa pegar um Uber".

Delirante, Pablo Marçal (PRTB) quer um "cinturão de teleféricos" interligando as comunidades da periferia para reduzir o trânsito. Ricardo Nunes (MDB), talvez sob o impacto do show de Ivete Sangalo no Rock in Rio, ao ser questionado sobre acessibilidade saiu-se com essa: "Você faz a tirolesa com sua cadeira de rodas, é muito bacana".

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