O Estado de S. Paulo
Nada melhor para a ONU revelar a sua competência do que fazer chegar ao fim o conflito do Oriente Médio
Tenho visto fotos dos bombardeios realizados
no Líbano. São dolorosas, já que mostram crianças despedaçadas pelas bombas
jogadas pelo governo do primeiro-ministro. São centenas de libaneses mortos
nesses conflitos. De fora a parte outros milhares de palestinos mortos em Gaza
ou quando dela saem para buscar entrada no Egito.
Também doloroso foi verificar logo no início do conflito a matança daqueles jovens judeus que se divertiam numa festa que veio a ser invadida por integrantes do Hamas. Como angustiante é saber dos reféns que se encontram detidos pelo Hamas. Imagino a dor sentida pelas famílias desses aprisionados. Como sou capaz de imaginar o desespero das famílias palestinas e libanesas que perderam seus entes queridos sem nem sequer participarem diretamente da batalha.
Convém registrar que o Líbano, antiga Suíça
do Oriente Médio, não é o produtor dos conflitos. Ele é palco de conflitos
trazidos seja em função de entidades como o Hezbollah, seja em função de
ataques feitos por Israel. É justo que assim seja? É justo que muitos civis
sejam mortos tal como acontece no Líbano e na Faixa de Gaza? É justo, pergunto,
que os integrantes do Hamas praticassem aquela barbaridade matando dezenas de
civis israelenses que estavam simplesmente se divertindo numa festa da
juventude? Foi, aliás, o início da crise. Início que não significa,
convenhamos, a primeira vez, já que os conflitos perduram indefinidamente
naquela região. Verifique-se a autorização para os assentamentos de colonos
judeus em áreas destinadas aos palestinos. Bastaria verificar a Faixa de Gaza,
em princípio reservada aos palestinos, mas que não tem saída para as demais
regiões nem mesmo para o mar, permanentemente patrulhado pelas forças
israelenses. Não é sem razão que a única saída desse território se dá pelo
Egito. E nada mais.
Escrevo esses fatos com a dor de quem
verifica as fotos das atrocidades praticadas reciprocamente entre palestinos e
judeus. Nós, aqui no Brasil, vivemos em intensa harmonia. As comunidades árabe
e judaica lamentam esses tristes episódios. Aqui, judeus e árabes realizam
sociedades comerciais, trabalham juntos nos mais variados setores,
confraternizam, se abraçam. Isso se revela como verdadeiro exemplo de que essas
comunidades podem viver em paz. Mas estamos falando de uma triste realidade que
é o conflito interminável naquela região. Quando em 1947 a resolução da
Organização das Nações Unidas( ONU) criou dois Estados, o de Israel e um árabe,
os povos não se entenderam. Não posso deixar de reconhecer que o povo árabe
inadmitiu o Estado de Israel, e daí o conflito que se estende ao longo do
tempo.
Mas o tempo passa, as concepções mudam, as
certezas deixam de ser inafastáveis, levando à convicção de que a criação do
Estado palestino, ainda que em pequeno território, seria admitida por todos.
Daí que a únicas oluçãoé, efetivamente, a criação e instalação dos dois
Estados. Os palestinos perderiam seu argumento oposicionista e os israelenses
deixariam de buscar conquistara totalidade do território.
Figuras exponenciais do Estado de Israel
concordaram direta ou indiretamente co messa fórmula. Opre si denteShimonP ere
sé um exemplo claro, como oéo escritor Amos Oz.
Mas onde está a ONU nesse episódio? Criada
com o propósito de evitar os conflitos internacionais e locais logo após a 2.ª
Guerra Mundial, vem perdendo seu protagonismo nessa fundamental tarefa para a
paz mundial. Por que não envia ela esforços para o cumprimento da resolução
criadora dos dois Estados? Por que não cr iauma força de paz integrada por
membros dos vários países afim de evitaras contendas quelá se verificam? Não só
para coibir e impedira açã odo primeiro-ministro, como também para impedir a ação
do Hamas e do Hezbollah. Ficaria bem para os palestinos e para o povo de
Israel. Mais ainda: impediria massacres em países vizinhos como o Líbano, onde,
nestes últimos dias, centenas de pessoas foram eliminadas. E o mais doloroso é
verificar o ódio que alimenta aquelas nações. Será que as nações ganham alguma
coisa com essa situação dramática? Será que os países em que ambas as
comunidades convivem pacificamente estão a aplaudir o que lá ocorre?
Seguramente não.
É preciso tomar providências. E o órgão
habilitado para tanto é a Organização das Nações Unidas. Impõe-se até que, se
em dado momento for instalado o Estado árabe previsto na resolução inaugural de
1947, imperativa será a presença de uma força de paz para garantir a harmonia
entre os dois Estados. Falando em pacificação, a ONU poderia convidar, além das
autoridades já constituídas, lideranças globais pacifistas, tais como os
ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama, Nicolas Sarkozy e Tony Blair, entre
outras personalidades.
Penso que é hora de a ONU, acompanhada de
todos os homens de bem, dizer a que veio. Como ex-presidente da República e
propagador da paz, sinto-me no dever de fazer esse pronunciamento.
Nada melhor para a ONU revelar a sua
competência do que fazer chegar ao fim o conflito do Oriente Médio.
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