O Globo / Mayra Castro e Marcos Furtado
Taxa caiu para 6,6%, e ocupação atinge
recorde de 102 milhões. Renda cresce
A taxa de
desemprego foi de 6,6% no trimestre encerrado em agosto, a menor
para o período desde 2012, quando começou a série histórica da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que foi divulgada ontem
pelo IBGE. O mercado de trabalho aquecido fez a população ocupada atingir novo
pico de 102,5 milhões, aumentando em mais de 1 milhão em um trimestre. O
rendimento médio subiu para R$ 3.228, numa alta de 0,5% frente a trimestre
anterior.
Rodolpho Tobler, economista do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), diz que o
resultado veio levemente abaixo do esperado, com a redução do número dos
desempregos (menos 502 mil) acompanhado de um aumento na força de trabalho:
— Mercado de trabalho aquecido e renda subindo estimulam as pessoas a voltarem ao mercado. E essas pessoas têm conseguido emprego. Houve alta em todas as atividades econômicas, com destaque para construção e comércio, mas disseminada pelos setores. É um resultado bastante positivo.
O índice caiu frente ao trimestre anterior
que fora de 7,1%.
Emprego formal
O comércio se destacou, com aumento de 1,9%
no trimestre. Foram mais 368 mil trabalhadores no setor. De acordo com Adriana
Beringuy, coordenadora da pesquisa, o baixo desemprego é resultado da expansão
da demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas, o que faz com
que a taxa de desocupação chegue a valores próximos aos de 2013, quando o
indicador estava em seu menor patamar.
— Essa redução é fruto de um efeito acumulado
de aumento da população ocupada que vemos assistindo há vários trimestres.
Embora o comércio tenha sido o grande destaque, nenhuma atividade econômica
recusou trabalhador. Elas estão, em sua maioria, retendo os trabalhadores, com
recordes de ocupação — explica.
E, mais uma vez, houve recorde de empregados
com carteira de trabalho assinada, 38,6 milhões, e dos ocupados sem carteira,
13,2 milhões. Rafael Perez, economista da Suno Research, chamou a atenção para
esse resultado, por aumentar a renda média dos trabalhadores, já que os
empregos formais pagam mais em média, mesmo que não sejam aos mais altos já
registrados, com mais contratações em setores nos quais o salário é menor:
— As vagas com carteira assinada estão nas
máximas históricas, só que esse emprego não é exatamente aquele que paga
altíssimos salários. São mais vagas no setor de serviços, no varejo, em
construção civil.
Após mais de cinco anos desempregado, Luiz
Cláudio Rodrigues começou a trabalhar na última quinta-feira, como auxiliar de
serviços gerais em um hospital, no Rio de Janeiro:
— Consegui esse emprego por meio de uma amiga
que encaminhou meu currículo aos profissionais do hospital. Agora, estou no
período de experiência de três meses.
Para pagar as contas, ele passou a realizar
trabalhos pontuais como jardineiro. O carioca atribui a dificuldade de se
recolocar no mercado de trabalho formal à sua idade, 57 anos, e ao fato de não
ter concluído o ensino fundamental:
— Fiquei muito tempo sem contribuir para o
INSS, e com as mudanças na lei, eu já tive dois pedidos de aposentadoria
negados. A gente começa a sentir o cansaço e as dores no corpo, mas atualmente
as oportunidades de trabalho são voltadas aos mais jovens.
O salário de R$ 3.228 representou uma alta de
5,1% frente ao mesmo período do ano passado. Com isso, a massa de rendimentos
mensal, que é a soma das remunerações de todos os trabalhadores, chegou a R$
326,2 bilhões, mostrando altas de 1,7% no trimestre e de 8,3% na comparação
anual.
Tobler afirma que o rendimento acompanha a
melhora do mercado de trabalho. Porém, ele considera que uma das consequências
dessa alta é a escassez de mão de obra, principalmente qualificada, e a
dificuldade de contratação em alguns setores, como o de construção. Outro ponto
de atenção, em sua opinião, é a qualidade dos empregos gerados, que muitas
vezes são temporários.
— A gente tem tido muito aumento de
contratação via emprego sem carteira nesse mês, no setor público e privado.
Isso tem uma relação forte com empregos temporários. É um ponto de alerta,
porque possivelmente essas pessoas vão voltar a procurar emprego nos próximos
meses — explica.
Pressão na inflação
Analistas afirmam que o mercado de trabalho
aquecido aumenta a renda das famílias e o consumo, principalmente de serviços,
o que pode gerar pressão na inflação.
— Não à toa, o Banco Central tem citado
bastante essa questão do mercado de trabalho aquecido como um risco para a
inflação. É algo bom para a economia real, mas é um risco para o Banco Central
— explica Perez, que projeta taxa de desemprego ficando próxima de 6,5% no ano.
Já Bruno Imaizumi, economista da LCA
Consultores, projeta queda maior. Para ele, o desemprego deve chegar a 6% no
fim do ano.
— No fim do ano, temos a incorporação de
temporários para suprir demandas de Black Friday, Natal, ano-novo. Por isso, a
taxa de desemprego pode ir ainda mais para baixo, chegando próxima de 6%.
O que seria a menor taxa de desemprego desde
2012, em qualquer comparação temporal. A menor até agora é de 6,3% em dezembro
de 2013.
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