O Globo
Crises fabricadas pelo senador do Amapá independem de currículo dos indicados ao STF
Em 2021, Davi Alcolumbre retardou por longos
quatro meses a sabatina de André Mendonça, indicado ao Supremo. Queria forçar o
governo Bolsonaro a devolver o controle sobre a distribuição das emendas ao
Orçamento.
Em 2025, Davi Alcolumbre marcou uma sabatina
a jato para Jorge Messias, indicado ao Supremo. Quer forçar o governo Lula a
negociar, mas jura não estar em busca em nenhum “ajuste fisiológico, com cargos
e emendas”.
O presidente do Senado mudou a tática, mas
joga o mesmo jogo. Usa uma atribuição da Casa, a de avaliar os candidatos à
Suprema Corte, para barganhar interesses alheios aos currículos dos indicados.
A crise atual começou a ser fabricada em outubro, quando o ministro Luís Roberto Barroso antecipou sua aposentadoria. Alcolumbre tentou emplacar o aliado Rodrigo Pacheco, mas não foi atendido.
No dia em que Lula anunciou a escolha de
Messias, o presidente do Senado tirou da gaveta uma pauta-bomba com impacto
bilionário sobre os cofres públicos. No movimento seguinte, comandou a
derrubada de vetos presidenciais e depenou a legislação ambiental.
O objetivo da sabatina a jato era emparedar o
governo e derrubar um indicado ao Supremo, o que não ocorre desde 1894. O
Planalto farejou a derrota e segurou o envio da mensagem com o nome de Messias,
o que aumentou a irritação de Alcolumbre.
Ontem o senador do Amapá suspendeu a batalha,
mas não encerrou a guerra. Em mais uma nota furibunda, anunciou o cancelamento
da sabatina e acusou o governo de “omissão grave”. No domingo, ele se disse
ofendido pela sugestão de que desejaria mais cargos no Executivo.
A indicação de Messias tem problemas, a
começar pelo fato de ele ser visto no PT como um escudeiro disposto a usar a
toga a serviço do partido do presidente.
Mas o lulismo do chefe da AGU não é o fator
que ameaça sua nomeação em 2025. Assim como o bolsonarismo de Mendonça não foi
o motivo para atrasar sua sabatina em 2021.

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