quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Morada de transgressões, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O passivo de infrações à lei e ao regimento se acumula sem que o presidente da Câmara se oponha

Hugo Motta não é permissivo sozinho: tem a colaboração da Mesa Diretora e do colégio de líderes

Como chefe da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) tem se mostrado um compassivo presidente de agremiação corporativa conivente com ilícitos —legais e regimentais— em defesa de seus filiados.

Do mais grave ao mais imperdoável na escala de inadmissível tolerância, temos os casos de descumprimento de ordem judicial até a impunidade de promotores de motim, passando pela convivência pacífica com deputado em exercício no exterior.

Motta não presta esse desserviço sozinho. Tem a colaboração da Mesa Diretora e do colégio de líderes da Casa —note-se— de Leis. Certamente há os deputados e deputadas que discordam, mas só poderiam reclamar de ser postos no mesmo saco caso se organizassem para denunciar o descalabro.

Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) estão condenados pelo Supremo Tribunal Federal à prisão e consequente perda de mandato a ser confirmada pela direção da Câmara. Uma presa na Itália, outro fugitivo nos Estados Unidos.

O caso de Zambelli zanza há meses na Câmara e, ainda que a Comissão de Constituição e Justiça se manifeste, falta o plenário, que, a rigor, não precisaria dar opinião. Sobre Ramagem, Motta ainda estuda o rito. Se não for semelhante ao da deputada, terá sido por exposição da vergonha no noticiário.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA, assim como os outros, segue gerando despesas com os gabinetes. O corte de salários é o mínimo. Foi proibido de votar, mas na primeira chance valeu-se do sistema do Senado para desafiar a decisão da Câmara. Ele não é antiético, decidiu semanas atrás o Conselho —note-se— de Ética.

Daqueles muitos promotores de motim de agosto último, temos notícia de apenas três passíveis de leves punições que ainda não foram aplicadas. O presidente não parece se incomodar por ter sido tratado aos trancos pelos companheiros ao tentar presidir uma sessão.

Talvez Motta não se dê conta, mas a leniência no comando o leva à conivência e a Câmara a ser morada de transgressões.

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