sábado, 31 de agosto de 2019

Aloísio Toledo César*: A instabilidade e suas razões

- O Estado de S.Paulo

Se depender de Bolsonaro, corremos, sim, o risco de um governo autoritário

Neste momento em especial da vida política brasileira, temos à frente da República um presidente que busca livrar-se psicologicamente de culpa e de atos social e politicamente inaceitáveis, atribuindo-os a outros.

Todos nós, brasileiros, estamos percebendo que não é fácil conhecer um governante e por isso mesmo vale um rápido mergulho na psicanálise, como fez Freud, para melhor compreender o comportamento humano. Aquele extraordinário psicanalista foi talvez quem mais se aprofundou no reino inconsciente de desejos reprimidos que levam os homens a se afastar das regras de condutas aceitáveis.

Freud observou que no reino político, mais do que em qualquer outro, o inconsciente se manifesta e por isso os homens raramente admitem motivos egoístas, ao mesmo tempo que procuram racionalizar e criar bodes expiatórios para justificar crueldades. Esse o motivo também por que projetam a culpa sobre os outros, responsabilizando-os – como, por exemplo, no caso das queimadas na Amazônia.

Para predizer e compreender o comportamento de políticos com essa natureza, a atenção deve estar voltada não apenas para os seus atos, mas para os motivos psicológicos existentes por detrás deles. É extremamente preocupante, no caso do nosso presidente, que ele não se preocupe em ser compreendido nem demonstre que é capaz de compreender a realidade que enfrenta no dia a dia.

Neste momento em especial, pesa sobre ele uma forte incompreensão universal, à qual não parece dar muita importância. Praticamente todos os países se incomodam com a destruição da Amazônia, mas nosso presidente age como se todos estivessem errados e somente ele estivesse certo. Às vezes parece preferir o isolamento, abandonando de vez o caminho mais seguro da diplomacia (de outra parte, é incrível não perceber que a indicação de um de seus filhos para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos choca grande parcela dos brasileiros, soando como algo leviano e ao mesmo tempo autoritário).

Essa conduta faz lembrar Erich Fromm, outro psicólogo de expressão, para quem o homem moderno está possuído por sentimentos de inferioridade, insegurança, impotência, solidão, humilhação e insignificância. Por isso é muitas vezes levado a aparentar superioridade, segurança, poder, integração, prestígio e glória na área política, “especialmente por meio de ideologias e movimentos totalitários”.

João Domingos: Freios e contrapesos

- O Estado de S. Paulo

Mesmo em choque, as instituições democráticas têm funcionado bem

É possível que, da Proclamação da República para cá, não tenha sido testada tão insistentemente, como tem sido testada no governo de Jair Bolsonaro, a Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu, conhecida também como Sistema de Freios e Contrapesos. Por essa teoria, na qual se baseia a maioria das nações democráticas modernas, um poder vigia o outro, evitando excessos, desmandos, quedas pelo autoritarismo, omissões e descumprimento da lei, de forma que cada um fique ali no seu quadradinho.

Não há uma semana em que o Congresso ou o Supremo Tribunal Federal não mande um recado para o presidente Bolsonaro, naquele bom estilo do “menas, menas”. Brigado com o presidente da França, Emmanuel Macron, o presidente Bolsonaro fez beiço e decidiu rejeitar a ajuda de cerca de R$ 83 milhões oferecida para ajudar no combate às queimadas na Amazônia. Para Bolsonaro, tratava-se de uma esmola, de uma tentativa de comprar o Brasil em suaves prestações. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu. Disse que não se deve dispensar nenhum dinheiro que vier, mesmo que seja apenas R$ 1.

Quando Bolsonaro, ainda irritado, atacou a França, Maia contemporizou. Num encontro com empresários franceses ele destacou que muitas das instituições brasileiras foram criadas com base no modelo francês. Além de elogiar a tradição libertária da França e o principal legado da Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Adriana Fernandes: Sob sigilo

- O Estado de S.Paulo

Os militares serão os únicos contemplados com reajustes salariais no Orçamento

A pressão externa sobre a Receita Federal colocou em evidência a segurança do armazenamento dos dados dos contribuintes pelos servidores do órgão.

O Fisco tem hoje 600 sistemas de informações dos contribuintes empresas e pessoas físicas. Garantir sua inviolabilidade é função primordial de um País com economia do tamanho da brasileira.

Essa proteção ganhou ainda mais importância no momento atual, em que o órgão é alvo de críticas de ministros do STF, do presidente Jair Bolsonaro e de outras autoridades que foram investigadas por auditores fiscais da elite da Receita. Informações sigilosas sobre os negócios e a vida privada dos contribuintes e de seus familiares é munição certeira para uso político, independentemente do espectro ideológico em que ele esteja. A punição da corregedoria do órgão para esse tipo de prática tem que ser exemplar.

É por meio das informações de “log” de consultas que o Fisco consegue identificar que servidor fez o acesso, horário, modificação de conteúdo, tempo de permanência, quantidade de cópias impressas de dados e tudo que possa apontar depois,se houve acesso imotivado para fins não republicanos. Funciona como uma espécie de impressão digital do usuário do sistema.

Os “logs” de acesso, a depender das suas características, ficam armazenados por um período de 8 a 16 anos. A Receita paga por esse serviço ao Serpro e ao Dataprev, empresas de processamento de dados do governo federal.

Todo cuidado é pouco com esse tema tão delicado para que não haja motivo também de ataques aos procedimentos de fiscalização do órgão. Muita coisa está em jogo nesse momento, inclusive o trabalho de anos de fortalecimento das investigações. Uma vez perdida, a confiança no sigilo fiscal, muito tempo se leva para recuperá-la.

A pressão por mudanças na Receita teve como origem o vazamento de investigações realizadas por auditores envolvendo autoridades do STF e reclamações de Bolsonaro sobre investidas do órgão contra seus familiares. A crítica é de atuação política de auditores do órgão. A crise ganhou força após a recomendação, por pessoas ligadas a Bolsonaro, para a demissão de José Alex Nóbrega de Oliveira, titular da Delegacia da Aduana de Porto de Itaguaí.

À coluna, a Receita informou que não há intenção de reduzir o tempo de retenção dos “logs”. Pelo contrário: o órgão diz que avalia aumentar ainda mais o controle sobre as consultas realizadas pelos auditores fiscais.

O sistema responsável pelos relatórios dos “logs” de acesso é o DW-LEL, mas ele não é único. Há outros mecanismos de consulta aos “logs” de sistemas. A alegação de que a auditoria dos “logs” seria inviável não merece prosperar, diz a Receita. Mas é inegável também que precisa reforçar os controles.

O assunto ganha mais importância nesse momento em que o governo incluiu o Serpro e a Dataprev na lista das estatais que serão privatizadas. Como o governo vai garantir a segurança dos dados sigilosos é uma resposta a ser dada rapidamente.

Merval Pereira: A perda da esperança

- O Globo

Falta ao presidente a compreensão de que é o representante de um país, e não de um restrito grupo de apoiadores

A incongruência desse governo, em dizer-se parte do mundo ocidental e defender posições completamente em desacordo com os legados mais básicos da cultura desse mundo, ficou patente na recente crise das queimadas da Amazônia.

Como se fosse uma síntese de suas convicções mais arraigadas, no mesmo episódio o presidente Bolsonaro menosprezou os problemas do meio-ambiente, embora tenha sido avisado pelos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e entrou em conflito, direto e pessoal, com o presidente Emmanuel Macron, da França, país símbolo das liberdades individuais e dos direitos humanos, legados fundamentais do Ocidente à civilização.

Civilidade que não esteve presente no desacato à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Embora tenha dito que não a ofendeu, Bolsonaro apagou sua mensagem misógina do twitter, numa autoincriminação.

Aproveitando-se de uma demagogia ecológica de Macron, que tentou levar a discussão para o lado da internacionalização da Amazônia, Bolsonaro tirou da manga a carta do patriotismo que, como disse Samuel Johnson, numa versão amenizada, é o último refúgio dos sem argumentos.

Não era preciso, Macron foi isolado pelos demais líderes europeus de peso, como Angela Merkel, da Alemanha e Boris Johnson, da Inglaterra.

Míriam Leitão: Mais emprego, mais informais

- O Globo

Dois milhões de pessoas ocupadas a mais do que há um ano, mas ainda há muitos sinais deque precariedade no mercado de trabalho

O Brasil tinha no trimestre de maio a julho 2,2 milhões de pessoas a mais trabalhando do que no mesmo período do ano anterior. Essa é uma boa notícia na vastidão das más notícias quando o assunto é desemprego. É o melhor número no dado divulgado ontem, que tem que ser entendido por inteiro. O percentual do desemprego caiu de 12,3% no mesmo período do ano passado para 11,8%. Porém, o próprio IBGE diz que ficou “estatisticamente estável”. Parece contraditório, mas não é.

É preciso olhar com calma os números que vivem sendo atacados pelo presidente da República quando trazem notícias desagradáveis. O aumento da população ocupada aconteceu no segmento que não tem carteira assinada e nos trabalhadores por conta própria. O total de pessoas desempregadas era 12,8 milhões há um ano e agora é 12,6 milhões. Ou seja, em número de pessoas está quase igual, mas em percentual caiu.

Parece estranho que tenha mais de dois milhões de novos trabalhadores na população ocupada, e ao mesmo tempo se diga que a desocupação está “estatisticamente estável”. O que se mede é o número de pessoas procurando emprego sem encontrar, por isso o total de trabalhadores ocupados pode crescer, sem que o estoque de desocupados caia fortemente. Além disso, há os jovens que entram no mercado todos os anos, e isso influencia no cálculo da taxa.

Marcus Pestana: Sonhos, conquistas e tropeços de uma geração

- O Tempo (MG)

O artigo poderia se chamar simplesmente “Por que não vou assumir”. Nas últimas eleições obtive 72.099 votos para deputado federal. Votação maior que a de dezenove dos eleitos e a maior entre centenas de suplentes. Fiquei como primeiro suplente da coligação. Agora, com a licença temporária do experiente deputado Bilac Pinto, fui convocado para assumir a vaga.

A vida pública e a militância política sempre foram o centro de minha trajetória. Comecei muito cedo. Em 1976, com apenas dezesseis anos, liderei a maior manifestação secundarista pós-68 em Juiz de Fora. Em sequência, participei do movimento pela Anistia e presidi o Diretório Acadêmico de Economia e o Diretório Central dos Estudantes da UFJF. Fruto dessa experiência, aos 22 anos, em 1982, me elegi vereador na histórica campanha ao lado de Tancredo Neves, Itamar Franco e Tarcísio Delgado. As forças democráticas conquistaram uma grande vitória abrindo o horizonte para a Nova República. Minha motivação sempre foi alimentada pela busca da liberdade, da justiça social e do desenvolvimento econômico sustentável. Portanto, a minha recusa em assumir o mandato temporário nada tem a ver com qualquer postura antipolítica. Ao contrário, é uma homenagem e um reconhecimento a todos aqueles que se dedicam a mais nobre atividade humana, a maior ferramenta para melhorar o mundo e transformar a vida.

Nos trinta e três anos do ciclo da Nova República avançamos muito. Consolidamos a democracia, derrotamos a hiperinflação, iniciamos o combate às desigualdades, construímos as bases do SUS, universalizamos o ensino fundamental, modernizamos o Estado, privatizamos estatais ineficientes, introduzimos a preocupação com a responsabilidade fiscal. Mas é inevitável sentir nos resultados de 2018 certo gosto amargo de fracasso geracional. A criminalização da política, a forte rejeição no seio da sociedade aos políticos, a desmoralização do quadro partidário tradicional, a corrupção endêmica revelada pela Lava Jato e a radicalização extrema do jogo político foram me transformando em uma “ideia fora do lugar”, um “peixe fora d’água”.

Demétrio Magnoli*: Soldados de Caxias

- Folha de S. Paulo

Maduro utiliza, para as ONGs de direitos humanos, a mesma linguagem que Bolsonaro usa para as ONGs ambientalistas

“Os governos imperialistas aproveitam a crise para lançar uma ofensiva em torno da questão ambiental para atacar a soberania nacional brasileira. Aos incautos que insistem em tutelar os desígnios da brasileira Amazônia, não se enganem: os soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para repelir qualquer tipo de ameaça.”

Quem escreveu isso? Assim, ninguém. A primeira frase é do Partido da Causa Operária, um grupúsculo de ultraesquerda (e, nela, depois da “crise”, aparece um “criada por Bolsonaro”).

Já a segunda é do general Edson Pujol, comandante do Exército, na Ordem do Dia lida no último dia 23. Mas as duas ficam bem juntas, abraçadas no ninho do nacionalismo. A nação, ensinou Benedict Anderson, é uma “comunidade imaginada”. O patriotismo nacionalista, registrou Samuel Johnson, é “o último refúgio dos canalhas”.

A invocação da soberania nacional é o refúgio clássico de governantes quando estrangeiros apontam rupturas dos compromissos internacionais assumidos pelo país, desrespeito às leis nacionais ou violações dos direitos dos cidadãos. Os canalhas perfilam-se à sombra da bandeira sempre que emergem temas diplomáticos globais, como as políticas ambientais e os direitos humanos. Nessas horas, a extrema direita e a esquerda tradicional revelam suas notáveis semelhanças. Então, uns e outros começam a empregar as palavras “imperialismo” e “colonialismo”.

Julianna Sofia: Quando a poeira baixar

- Folha de S. Paulo

Tentativa de Bolsonaro e Moro de mostrar que ainda é possível colar os caquinhos é trégua de araque

O teatrelho de Jair Bolsonaro e Sergio Moro nos salões do Palácio do Planalto na quinta-feira (29) tapeia poucos. Blandícias em excesso num esforço para demonstrar publicamente que ainda é possível colar os caquinhos depois de todo o desgaste da relação entre o presidente e seu (ex-super) ministro da Justiça. Trégua de araque.

Na Polícia Federal, o clima se deteriora progressivamente desde que Bolsonaro atropelou Moro e declarou que poderia trocar superintendente, diretor-geral e o escambau. Não há superbonder que dê jeito nisso. Aliás, a ausência de Maurício Valeixo (o DG) foi notada na plateia da ópera-bufa encenada por Jair e Sergio no palco palaciano. Na véspera do evento, sua permanência no cargo fora reafirmada por um ministro pouco convicto ("as coisas eventualmente podem mudar").

Oscar Vilhena Vieira*: Custos do Estado de Direito

- Folha de S. Paulo

O desafio é combater a corrupção, respeitando a lei

O processo do mensalão e a Operação Lava Jato estabeleceram um novo padrão de relacionamento entre os Poderes no Brasil.

A tradicional cordialidade e complacência dos agentes de aplicação da lei em relação ao corpo político, agraciada com generosos privilégios corporativos, foi subitamente substituída por uma postura de confronto.

Alavancados pela introdução das delações premiadas, instrumento essencial para o combate ao crime organizado, introduzido pela lei 12.850/13, agentes da lei foram expondo as teias de corrupção que enredaram nosso sistema representativo.

Com isso, juízes e procuradores alcançaram um enorme apoio da opinião pública, dos meios de comunicação e, sobretudo, daqueles que se opunham ao governo do PT, principal alvo das investigações.

Fundamental para o avanço da Operação Lava Jato foi o respaldo conferido pelos tribunais superiores, que raramente impuseram limites à atuação de magistrados e membros do Ministério Público.

Com a expansão da Lava Jato em relação a importantes membros da oposição —e governistas que abandonaram Dilma— o corpo político começou a se reposicionar em relação à operação.

Também o Supremo Tribunal Federal, a partir da alteração de posicionamento de alguns de seus membros, passou a impor alguns importantes limites à operação, restringindo o uso de conduções coercitivas, separando crimes de corrupção e lavagem de dinheiro dos delitos eleitorais, retirando os últimos da Justiça comum.

A própria questão da prisão em segunda instância, elemento essencial para o sucesso da operação, está em xeque no tribunal.

Com a adesão do ex-juiz Sergio Moro ao governo Bolsonaro e a divulgação dos diálogos entre membros da operação pelo The Intercept Brasil, abusos na condução do processo e a própria quebra do primado da imparcialidade judicial, que já vinham sendo denunciados há muito, passaram a ser criticados de forma mais ampla e contundente, abrindo espaço para que o Congresso Nacional, com razoável facilidade, aprovasse uma nova lei de abuso de autoridade.

Ao presidente da República caberá determinar a extensão dos limites impostos aos agentes da lei, ao sancionar ou vetar a nova legislação, sabendo que eventual veto poderá ser derrubado no parlamento.

Uma cronologia da troca de farpas entre presidente e governador

Antes aliados, Jair Bolsonaro e João Doria se distanciam em estratégia para eleições presidenciais de 2022

João K'er | O Estado de S.Paulo

A aliança das eleições de 2018 estampada pelo slogan Bolsodoria, usado pelo governador paulista, João Doria (PSDB-SP), para vencer a disputa na onda que elegeu Jair Bolsonaro (PSL), ficou para trás. Nesta quinta-feira, 29, o distanciamento entre os dois ficou mais evidente após quase dois meses de farpas trocadas. Nas redes, Bolsonaro acusou o tucano de “mamar nas tetas” do PT, ao comentar o financiamento pelo BNDESde um jatinho particular do governador. Nesta sexta, 30, Doria rebateu: “Nunca precisei mamar em teta nenhuma”.

De olho nas eleições de 2022, ambos deixaram para trás os tempos em que faziam flexões de braço lado a lado. Abaixo, o Estado relembra em ordem cronológica os desentendimentos públicos entre Bolsonaro e Doria:

“Não é hora de eleição. É momento de gestão” - 24 de junho

O primeiro ‘conflito’ entre Bolsonaro e Doria esteve relacionado à disputa entre São Paulo e Rio pela realização do GP Brasil de Fórmula 1, cujo contrato vence em 2020. O presidente afirmou que a disputa tem “99% ou mais” de chance em ser transferida para o Rio de Janeiro, enquanto defendeu a ida da prova para a capital carioca.

Na mesma ocasião, Bolsonaro também aproveitou a oportunidade para provocar Doria: “A imprensa diz que ele será candidato à Presidência em 2022, então ele tem de pensar no Brasil. Se ele disputar a reeleição, aí ele pensa no seu Estado”, afirmou, dois dias após confirmar sua própria candidatura à reeleição para o cargo. “A questão da Fórmula 1 não é política. É econômica. Não é hora de eleição. É momento de gestão”, rebateu o tucano.

“Declaração infeliz” - 29 de julho

Quatro dias após o presidente ter provocado polêmica nas redes sociais ao afirmar que sabia o que ocorreu com Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que foi morto durante a ditadura militar. O governador afirmou que a fala (“Se ele quiser saber como o pai morreu, eu conto”) foi “infeliz”.

“Como filho de um deputado que foi cassado na época do regime militar, eu acho que foi uma declaração infeliz”, disse sobre os comentários do presidente de que Santa Cruz desapareceu no Rio de Janeiro.

Desemprego recua com recorde de trabalho informal

Taxa de desemprego caiu para 11,8% e atingiu 12,6 milhões de pessoas no trimestre, diz IBGE

Diego Garcia | Folha de Paulo

RIO DE JANEIRO - A taxa de desemprego recuou no país, mas devido à criação de vagas no mercado informal, que bateu novo recorde.

O número de empregados sem carteira assinada atingiu 11,7 milhões no trimestre encerrado em julho, enquanto os trabalhadores por conta própria —cuja maior parte não tem CNPJ— chegaram a 24,2 milhões, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (30).

Os números são os mais altos já registrados pelo IBGE na série da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

No período, a taxa de desocupação no Brasil caiu para 11,8%, o que representa 12,6 milhões de pessoas desempregadas, contra 12,5% no trimestre imediatamente anterior (fevereiro a abril de 2019).

“Desde o início da crise econômica a inserção por conta própria vem sendo ampliada em função da falta de oportunidade no mercado formal”, afirmou Cimar Azeredo, gerente da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE.

O total de empregados do setor privado sem carteira de trabalho assinada teve um aumento de 3,9% (441 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e de 5,6% (619 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2018.

Já o número de trabalhadores por conta própria subiu 1,4% (343 mil pessoas) na comparação trimestral e 5,2% (1,2 milhão de pessoas) em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo Azeredo, experiências de crises anteriores apontam que, quando o mercado de trabalho se recupera, o emprego informal cai, em vez de aumentar. Ou seja, o recorde da informalidade indica que o mercado de trabalho ainda não se recuperou, apesar da queda na taxa de desemprego.

Como vagas informais costumam pagar menos que as formais, um aumento no número de postos sem carteira reduz a média salarial da população. Segundo o IBGE, o rendimento médio real habitual do trabalhador chegou a R$ 2.286, contra R$ 2.311 nos três meses antes.

O número de empregados no setor privado com carteira assinada marcou 33,1 milhões, estável em comparação ao trimestre anterior e ao mesmo período do ano passado.

Populismo, o corruptor da democracia

Ação de Boris Johnson para ampliar recesso parlamentar é última de uma série que mina lentamente valores liberais

- The Economist*| O Estado de S.Paulo

No geral, o que persiste é a noção de que as democracias morrem por um cano de revólver, em golpes e revoluções. Hoje, entretanto, é mais provável que ela seja estrangulada lentamente em nome do povo. Veja o caso da Hungria, onde o partido no governo, o Fidesz, utiliza sua maioria parlamentar para tomar conta das agências reguladoras, dominar o mundo empresarial, controlar os tribunais, comprar a mídia e manipular as normas eleitorais.

O primeiro-ministro Viktor Orbán não precisa infringir a lei, porque o Parlamento que ele controla pode alterá-la. E não necessita da polícia secreta para subtrair seus inimigos durante a noite. Eles podem ser colocados no devido lugar sem violência, pela imprensa dominada ou pelo fisco. Na forma, a Hungria é uma democracia florescente, mas no espírito é um Estado de um único partido.

As forças que atuam na Hungria estão socavando outros sistemas de governo também. Isso vem ocorrendo não apenas em jovens democracias, como a Polônia, onde o Partido da Lei e da Justiça decidiu copiar o Fidesz, mas mesmo em outras mais perenes como Reino Unido e Estados Unidos. Esses sistemas de governo já estabelecidos não estão prestes a se tornar Estados de um único partido, mas já mostram sinais de decadência. E quando a deterioração se instala, é extremamente difícil de conter.

No âmago da degradação da democracia húngara está o cinismo. Depois que o chefe de um governo socialista visto como corrupto admitiu ter mentido para o eleitorado em 2006, os eleitores aprenderam a imaginar o pior dos seus políticos.

Esta tendência foi explorada entusiasticamente por Viktor Orbán. Em vez de apelar para a tolerância e generosidade dos seus compatriotas, ele semeia a divisão, instiga o ressentimento e explora seus preconceitos, especialmente no tocante à imigração. Este teatro político tem por finalidade desviar a atenção do seu objetivo real, a manipulação astuta de regras e instituições obscuras para garantir seu controle do governo.

Juan Arias: Na guerra sobre a Amazônia, o Brasil ganhou e Bolsonaro perdeu

- El País

Quem sai engrandecido dessa guerra são, de fato, os brasileiros e sua luta na defesa do meio ambiente

Na guerra sobre a destruição da Amazônia, o presidente, Jair Bolsonaro, saiu derrotado enquanto o Brasil e suas riquezas naturais foram defendidos em todo o mundo. As ideias destrutivas do líder brasileiro e seus comentários depreciativos e até grosseiros pronunciados, por exemplo, sobre presidentes europeus como Emmanuel Macron, da França, e Angela Merkel, da Alemanha, acabaram ofuscando ainda mais sua já surrada figura no exterior.

O presidente brasileiro que havia dito, dias atrás, que não iria ser um presidente “banana”, acabou sendo visto como tal pelos líderes mais importantes do estrangeiro. Suas chacotas sobre a Amazônia apelando até a uma linguagem de cunho anal como quando disse que bastava “um cocô petrificado de índio” para paralisar uma obra, não foram apreciadas fora do Brasil. O mundo sempre admirou e até invejou o santuário natural da Amazônia que abriga o maior bioma do planeta e que é reconhecido como um dos maiores tesouros ecológicos ainda vivos da Terra.

Também se tornaram um bumerangue as zombarias sobre o Presidente Macron nas redes sociais aplaudidas por Bolsonaro sobre a comparação entre sua esposa, Brigitte, já idosa, e a jovem Michelle, a esposa do Presidente brasileiro. E mesmo as brincadeiras de mau gosto do vice-presidente, o general Mourão, sobre os tremores que às vezes afetam a líder alemã Merkel. Todas essas atitudes serviram principalmente para que o mundo constatasse que o Brasil, possuidor não somente de imensas riquezas naturais, como também humanas, merecia alguém mais digno e preparado para ser governado.

A atitude do Presidente brasileiro e de seu governo durante o episódio da Amazônia, que abalou o mundo, serviu também para expor a ausência dramática de uma política externa à altura das circunstâncias, algo que sempre foi considerado como uma das glórias e acertos da política brasileira, seja de direita ou de esquerda.

O que pensa a mídia | Editoriais

Brasil precisa de política ambiental consistente: Editorial | O Globo

Bolsonaro quer construir proposta conjunta com Trump, mas EUA não são boa referência no setor

Antes mesmo de assumir, o presidente Jair Bolsonaro já demonstrava descaso com a proteção ao meio ambiente, tema prioritário na agenda de luta coletiva para redução do aquecimento global.

Bolsonaro pretendia fundir o Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura, o que representaria grande retrocesso. Felizmente, recuou da ideia, e a pasta foi mantida. Não significou muito. Em oito meses de gestão, construiu-se pouco e desconstruiu-se muito em termos de política ambiental.

Não faltaram sinais de alerta. Em maio, os ex-ministros do Meio Ambiente Rubens Ricupero, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira, José Sarney Filho e Edson Duarte subscreveram manifesto no qual advertiam: “A governança socioambiental do Brasil está sendo desmontada, em afronta à Constituição”.

O roteiro do desmonte parecia claro já antes da posse. Ao participar de solenidade na Academia Militar das Agulhas Negras, em dezembro, Bolsonaro disse que não admitiria mais que Ibama e ICMBio saíssem multando a torto e a direito: “Essa festa vai acabar”. Excessos, certamente, existiam, mas a mensagem presidencial foi percebida como uma liberação generalizada.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Música | Roberto Silva - Escurinho ( Geraldo Pereira)