sábado, 31 de agosto de 2019

Uma cronologia da troca de farpas entre presidente e governador

Antes aliados, Jair Bolsonaro e João Doria se distanciam em estratégia para eleições presidenciais de 2022

João K'er | O Estado de S.Paulo

A aliança das eleições de 2018 estampada pelo slogan Bolsodoria, usado pelo governador paulista, João Doria (PSDB-SP), para vencer a disputa na onda que elegeu Jair Bolsonaro (PSL), ficou para trás. Nesta quinta-feira, 29, o distanciamento entre os dois ficou mais evidente após quase dois meses de farpas trocadas. Nas redes, Bolsonaro acusou o tucano de “mamar nas tetas” do PT, ao comentar o financiamento pelo BNDESde um jatinho particular do governador. Nesta sexta, 30, Doria rebateu: “Nunca precisei mamar em teta nenhuma”.

De olho nas eleições de 2022, ambos deixaram para trás os tempos em que faziam flexões de braço lado a lado. Abaixo, o Estado relembra em ordem cronológica os desentendimentos públicos entre Bolsonaro e Doria:

“Não é hora de eleição. É momento de gestão” - 24 de junho

O primeiro ‘conflito’ entre Bolsonaro e Doria esteve relacionado à disputa entre São Paulo e Rio pela realização do GP Brasil de Fórmula 1, cujo contrato vence em 2020. O presidente afirmou que a disputa tem “99% ou mais” de chance em ser transferida para o Rio de Janeiro, enquanto defendeu a ida da prova para a capital carioca.

Na mesma ocasião, Bolsonaro também aproveitou a oportunidade para provocar Doria: “A imprensa diz que ele será candidato à Presidência em 2022, então ele tem de pensar no Brasil. Se ele disputar a reeleição, aí ele pensa no seu Estado”, afirmou, dois dias após confirmar sua própria candidatura à reeleição para o cargo. “A questão da Fórmula 1 não é política. É econômica. Não é hora de eleição. É momento de gestão”, rebateu o tucano.

“Declaração infeliz” - 29 de julho

Quatro dias após o presidente ter provocado polêmica nas redes sociais ao afirmar que sabia o que ocorreu com Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que foi morto durante a ditadura militar. O governador afirmou que a fala (“Se ele quiser saber como o pai morreu, eu conto”) foi “infeliz”.

“Como filho de um deputado que foi cassado na época do regime militar, eu acho que foi uma declaração infeliz”, disse sobre os comentários do presidente de que Santa Cruz desapareceu no Rio de Janeiro.

“Nunca tivemos alinhamento” - 30 de julho

Um dia depois da crítica, Doria foi questionado em entrevista à rádio CBN sobre seu apoio ao presidente durante a campanha eleitoral de 2018, ocasião em que afirmou: “Nunca tivemos alinhamento com o governo Bolsonaro”.

“A história não se apaga com decretos ou declarações” - 8 de agosto

Em entrevista concedida ao Estado, Doria voltou a criticar as declarações de Bolsonaro sobre o pai de Santa Cruz. “Sou filho de uma vítima da ditadura e não posso me calar. A história não se apaga com decretos ou declarações. O Brasil teve uma ditadura e um golpe em 1964, mas isso não significa que vamos fazer tribunais condenatórios eternamente”, disparou o governador.

Ao longo de sua carreira política, Bolsonaro sempre defendeu a ditadura militar (1964-1985): “Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor”, disse em entrevista de 2018. Este ano, ele recomendou que quartéis celebrassem a “data histórica” e referiu-se ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar condenado por sequestro e tortura durante a ditadura, como “herói nacional”.

“Jamais nomearia meu filho embaixador” - 21 de agosto

A indicação do presidente para que seu filho Eduardo Bolsonaro assuma o comando da Embaixada do Brasil em Washington também foi alvo de críticas pelo tucano: “Eu jamais nomearia meu filho nem ninguém da minha família para nenhuma função pública, ainda mais numa circunstância de uma embaixada que é a mais importante embaixada brasileira no exterior”, declarou em entrevista ao UOL.

No início do mês, Bolsonaro havia defendido a indicação de Eduardo com o argumento “tem que ser filho de alguém, por que não meu?”. A essa altura, os ataques de Doria ao presidente já tinham chamado atenção da alta cúpula do PSDB, que ainda não havia dado respaldo à estratégia do governador.

“Doria mamou nos governos do PT! Ihuuu” - 29 de agosto

A situação escalou para um confronto direto na última live feita pelo presidente da República em suas redes sociais, nesta quinta, 29, quando ele acusou Doria de ter se beneficiado durante os governos do PT.

“João Doria, comprou também? Explica isso aí. Só peixe, amigão do Lula e da Dilma. Vejo Doria falando ‘minha bandeira jamais será vermelha’. É brincadeira. Quando estava mamando a bandeira lá, a bandeira era vermelha foiçasso e um martelo sem problema nenhum, né?”, disse o presidente, referindo-se à compra de aviões com financiamento do BNDES.

Mais cedo no mesmo dia, o governador tucano, durante viagem à Alemanha, afirmou que a crise ambiental estava gerando preocupação em investidores europeus e que “é preciso que o Brasil, como país, manifeste claramente seu respeito pela opinião pública, seja europeia, seja internacional”.

“Nunca mamei em teta nenhuma” - 30 de agosto

Em resposta à provocação do presidente, Doria respondeu, durante entrevista ao Broadcast em Berlim, se manteria alguma relação de amizade com os ex-presidentes do PT. "Não, ao contrário. Tenho posição bem distinta. Nunca precisei mamar em teta nenhuma. Quero Lula e Dilma distantes. Se possível, do Brasil até".

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