quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A reta final

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Ínstituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS



Talvez seja hora de olharmos as eleições municipais pela sua própria importância, não pelo que “querem dizer” a respeito das eleições presidenciais

Daqui a 10 dias, o evento político mais importante do ano estará em seus momentos finais. No próximo dia 5, à noite, na imensa maioria das cidades brasileiras, os resultados da eleição municipal serão conhecidos, salvo em um ou outro lugar onde a apuração estiver atrasada. Algumas ficarão para o último domingo de outubro, quando termina o segundo turno, mas serão poucas.

São mesmo importantes as eleições municipais? Parece uma pergunta de resposta óbvia, mas não é. Vale a pena discutir o porquê.Existe um tipo de importância que elas não têm. Ao contrário do que insistem em especular muitos analistas e observadores, as eleições municipais pouco ou nada impactam nos resultados das eleições presidenciais que a elas se seguem em nosso calendário eleitoral.

Já fizemos seis eleições municipais desde a redemocratização, quatro depois que voltamos a ter eleições presidenciais pelo voto direto. Não são muitas, mas são suficientes para aprender algumas coisas com elas.

Vimos partidos saírem grandes de algumas e nem conseguirem lançar candidato próprio a presidente dois anos depois. Vimos partidos médios, em termos do número de prefeitos eleitos, fazerem presidentes. Vimos lideranças receberem sua consagração no plano local e nada significar nacionalmente. Chegamos a ver um derrotado em disputa de prefeito virar presidente. Não foram poucas as tendências de uma eleição municipal que não tiveram qualquer conseqüência.

O que essas eleições mostraram são coisas que todo mundo sabe: que os governos estaduais quase sempre se saem vitoriosos, arrebanhando a maior parte das prefeituras; que elas cimentam o caminho de lideranças emergentes, seja em carreiras parlamentares ou no executivo nos estados; que nelas os partidos tendem a fazer combinações ditadas por lógicas estritamente locais, o que torna quase impossível contabilizar vencedores e vencidos no plano nacional.

As deste ano estão sendo assim, apesar da insistência de alguns em procurar nelas significados e projeções sobre o que pode acontecer em 2010. É mania que não dura muito, porém, pois logo estaremos discutindo os cenários da próxima eleição presidencial em seu lugar adequado.

Perde-se, contudo, algo relevante quando as eleições municipais são avaliadas dessa maneira. É como se elas só interessassem se tivessem um hipotético “significado nacional”, sem o qual se tornariam irrelevantes.

Note-se que os eleitores não pensam assim, pelo que se pode ver nas pesquisas. Muito ao contrário, as pessoas comuns olham as eleições locais com atenção e interesse. Maior, quanto mais intenso seu relacionamento com os serviços públicos municipais, como os de educação e saúde. Os eleitores de menor renda são os que mais sabem quanto é relevante o prefeito ou prefeita de suas cidades, assim como quem os vai representar nas Câmaras de Vereadores.

Talvez seja hora de olharmos as eleições municipais como esses eleitores, pela sua própria importância, não pelo que “querem dizer” a respeito das eleições presidenciais. É pura conseqüência do centralismo de nosso sistema político, em que a figura solar do presidente ofusca nossa visão a respeito de seu todo, cada parte do qual é relevante na democracia.

Sábias são as pessoas comuns, que, quando votam para prefeito, escolhem apenas os prefeitos.

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