quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A segunda divisão


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Muitos vaticinam o fim do DEM nas eleições municipais de 2008, ganhando ou perdendo a Prefeitura de São Paulo. O partido, que se renovou, entregou-se às mãos de políticos mais jovens, definiu uma estratégia oposicionista firme no Congresso e vinha tentando se consolidar desta forma, tem análises que asseguram que vai, sim, minguar, mas não desaparecerá do mapa. Há quatro anos, quando, na oposição e caracterizando-se como adversário de um presidente da República já à época com recordes de popularidade, o DEM elegeu 735 prefeitos Brasil afora e ainda se considerava na primeira divisão da política, formando entre os quatro partidos integrantes desta classe, PMDB, PT, PSDB e DEM.

Hoje, avaliações mais realistas do próprio partido indicam que poderá cair para a segunda divisão, se ficar com um perfil parecido ao do PSB, por exemplo, ou ao do PDT. Óbvio que não em ideologia, estratégia política ou método de ação. Mas em tamanho, organização e desempenho. Mais ao PSB que ao PDT.

Além de sobreviver em um patamar onde muitos partidos estão, e continuam fazendo a sua luta política, o DEM vê suas condições para as disputas eleitorais de 2010 de uma forma bastante favorável, a partir da insistência em permanecer na disputa de 2008. O Rio era uma base forte do DEM, mas uma candidata a prefeita sem carisma e um líder-prefeito exaurido, depois de vários mandatos, tiraram as chances do partido este ano. Contudo, e este é o raciocínio que se faz no DEM, não é possível decretar que Cesar Maia seja um peso morto para 2010. Pode liderar a votação do partido no Estado.

O mesmo ocorre em São Paulo, onde, se ganhar, Gilberto Kassab recoloca o DEM na política nacional, mas se perder reúne mesmo assim um tal número de votos que dá ao partido uma outra situação para 2010.

Pelo que conseguiu até agora, Kassab já justificou sua permanência na disputa, considerada absurda quando o adversário Geraldo Alckmin estava em primeiro lugar, com mais de 40%. Numa cidade importante do interior, como Ribeirão Preto, o DEM está em primeiro com 65% numa disputa em que o segundo tem 13%.

Em Curitiba o partido deu a volta na resistência de seus líderes locais e fez a irresistível aliança com Beto Richa (PSDB). Em Florianópolis, disputa uma vaga no segundo turno, ou seja, terá uma votação que pode ter significado no futuro. Porto Alegre é a capital onde o DEM vai pior. O vice-governador Paulo Feijó, que transformou-se em algoz da governadora Ieda Crusius, desfez todo o esforço partidário para dar visibilidade nacional a Ônix Lorenzoni, que não consegue chegar aos dois dígitos na preferência do eleitorado.

Em Belo Horizonte o partido não se intimidou com a força eleitoral do governador e do prefeito e os está desafiando com um candidato para fazer qualquer número de votos, além de disputar cidades, como Uberlândia, em boas condições de vitória.

No Norte, o partido só está competitivo em Belém. O Nordeste é um caso à parte: apenas o PT conseguiu ficar bem em toda a região. O PMDB, que dominava o Maranhão, por exemplo, perdeu o controle do Estado. No Recife, onde governador e prefeito duelam para ver quem vai controlar Pernambuco politicamente, o partido aguarda decisões judiciais que acredita poderem levá-lo a uma melhor situação na disputa agora e para o futuro. Em Salvador, está em primeiro lugar, com chances de vencer. Em Teresina tem a liderança de um dos seus principais políticos da velha guarda, Heráclito Fortes, e em Palmas, bem como no interior do Tocantins, a senadora Kátia Abreu está trabalhando muito para ampliar as bases do partido, com perspectivas de bons resultados. No Ceará há um "outsider" do DEM, Moroni Torgan, que é popular, tem seu eleitorado e não deixa o partido desaparecer no Estado.

O DEM fazia mais coligações antes, hoje está diretamente na briga em 12 capitais e dezenas de grandes cidades. Se confirmar-se a previsão de que vai se reduzir drasticamente, mas vencer em São Paulo, o DEM evitará o rebaixamento à segunda divisão.

Tucano-petismo

Uma antiga impressão sobre a índole política do PSDB deve sofrer agora mudança de rumo. Era evidência incontestável que o PSDB, com a boca torta de oito anos no poder federal, não sabia fazer oposição, e só por isso teria deixado correr solto o governo do PT. Melhor, além de não se opor, namorou o partido lulista em ocasiões especiais, furtivas ou não. O diretório paulista está mostrando que, quando se trata de oposição a si mesmo, o PSDB sabe, sim, fazer muito bem. O palavreado, os movimentos, as chantagens e ameaças dos dois grupos em disputa de poder é uma atividade frenética de oposição, a si mesmo.

É possível que o grupo de Geraldo Alckmin, em que o maior expoente é agora José Aníbal, líder na Câmara, leve adiante as conversas que vinha mantendo com a ministra Dilma Rousseff. O grupo pode somar sua interlocução, também, às estratégias da aliança PSDB-PT em Minas e PSDB-PSB no Ceará, formando um exército partidário com possibilidade, inclusive, de formação de uma nova legenda.

Seja qual for o desenlace, dificilmente o grupo de José Serra permitirá que o grupo de Geraldo Alckmin, minoritário em São Paulo, imponha novamente sua vontade aos demais, ainda que permaneçam todos no PSDB.

Federalização

Seis anos depois de iniciar sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera concluir, após as eleições municipais, uma proposta de reforma do ensino médio, grau da educação formal sempre rico em diagnósticos terríveis e pobre em soluções, em sucessivos governos.

A federalização - o ensino médio é, constitucionalmente, de competência dos Estados - é o que se vislumbra como uma das principais saídas para resolver o problema.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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