Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Bolsas emergentes ganham com calmaria nos países ricos e notícias ainda bem incertas de melhoras na economia chinesa
O IBOVESPA passa de 50 mil pontos e vai embora. Até ontem, subira 75% desde as profundezas de 27 de outubro de 2008. A partir dessa data, a Bolsa chinesa (Xangai Composite) subiu 50%, assim como a russa (RTS) e a indiana. Pelos padrões habituais, embora não muito eficazes, de medida de preço (relação entre lucros de empresas e preços dos papéis), tais Bolsas já estão caras de novo.
Este colunista, entre outros, acreditava que de abril a meados de maio haveria turbulência financeira devido a balanços ainda ruins nos EUA, indicadores econômicos de ambíguos a ruins e à ansiedade em relação ao resultado das auditorias que as autoridades americanas fizeram nos seus 19 maiores bancos. O resultado dos testes, homeopaticamente vazado e adaptado aos gostos da praça, ao que parece, será divulgado oficialmente hoje. Enfim, houve apenas ligeira turbulência. A avaliação do colunista foi furada.
Os balanços foram ruins nos EUA, mas sem "surpresas negativas". Os testes de estresse dos bancos acabaram por acalmar a praça. Os povos dos mercados, mais calmos, foram procurar risco rentável nas periferias mais ajeitadas do mundo.
Diz-se que melhorias na China dão impulso adicional à euforia nos emergentes, em especial nos exportadores de commodities. Em abril, um indicador que antecipa mais ou menos a atividade industrial, o de encomendas da indústria, ficou no azul pela primeira vez em nove meses. A produção industrial de março cresceu em ritmo três vezes maior que no primeiro bimestre. A China, enfim, começou a comprar mais matérias-primas e comida. Nota-se também que o FMI, na reunião do G20, recebeu a promessa de fundos e fez a promessa de que não deixaria emergentes menores quebrarem.
Mas quase nada mais no planeta está no azul. A atividade apenas piora a taxas decrescentes, menores, ou sobe timidamente em relação ao quinto dos infernos onde caíram.Mesmo assim, até o petróleo sobe. Porém, os indicadores menos inconfiáveis sugerem que sobra combustível na China e nos EUA. A China voltou a encher os silos. Compra mais metais, soja. Mas produz o que e para quem? O comércio mundial está na lama ainda. E soja pode ser estocada. Estava barata.
Bancos americanos e europeus ainda estão bichados, ficarão menores e por um tempo estarão sujeitos a mais controles, menos livres para criar dinheiro do nada (o Japão dos bancos bichados saiu de uma recessão feia para uma década de estagnação). E até quando o governo americano vai subsidiar seus bancos? Por falar nisso, ainda inunda o mercado de títulos públicos, a fim de financiar seu déficit monstruoso e crescente. A conjunção de dívida enorme, superoferta de títulos públicos e mercados mais otimistas pode dar em aumento de juros na praça. Não é para amanhã. Mas pode ser para daqui a seis meses, um ano, quando a economia ainda estará cheia dos respingos da lama por onde se arrastou na recessão.
Enfim, mesmo depois de décadas de bolhas é esquisito imaginar que os EUA possam imprimir dólares e o mundo achar que essa fabricação seja chamada de capital (cadê a poupança?). Ou o mundo ficará feliz com uma nova bolha?
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Bolsas emergentes ganham com calmaria nos países ricos e notícias ainda bem incertas de melhoras na economia chinesa
O IBOVESPA passa de 50 mil pontos e vai embora. Até ontem, subira 75% desde as profundezas de 27 de outubro de 2008. A partir dessa data, a Bolsa chinesa (Xangai Composite) subiu 50%, assim como a russa (RTS) e a indiana. Pelos padrões habituais, embora não muito eficazes, de medida de preço (relação entre lucros de empresas e preços dos papéis), tais Bolsas já estão caras de novo.
Este colunista, entre outros, acreditava que de abril a meados de maio haveria turbulência financeira devido a balanços ainda ruins nos EUA, indicadores econômicos de ambíguos a ruins e à ansiedade em relação ao resultado das auditorias que as autoridades americanas fizeram nos seus 19 maiores bancos. O resultado dos testes, homeopaticamente vazado e adaptado aos gostos da praça, ao que parece, será divulgado oficialmente hoje. Enfim, houve apenas ligeira turbulência. A avaliação do colunista foi furada.
Os balanços foram ruins nos EUA, mas sem "surpresas negativas". Os testes de estresse dos bancos acabaram por acalmar a praça. Os povos dos mercados, mais calmos, foram procurar risco rentável nas periferias mais ajeitadas do mundo.
Diz-se que melhorias na China dão impulso adicional à euforia nos emergentes, em especial nos exportadores de commodities. Em abril, um indicador que antecipa mais ou menos a atividade industrial, o de encomendas da indústria, ficou no azul pela primeira vez em nove meses. A produção industrial de março cresceu em ritmo três vezes maior que no primeiro bimestre. A China, enfim, começou a comprar mais matérias-primas e comida. Nota-se também que o FMI, na reunião do G20, recebeu a promessa de fundos e fez a promessa de que não deixaria emergentes menores quebrarem.
Mas quase nada mais no planeta está no azul. A atividade apenas piora a taxas decrescentes, menores, ou sobe timidamente em relação ao quinto dos infernos onde caíram.Mesmo assim, até o petróleo sobe. Porém, os indicadores menos inconfiáveis sugerem que sobra combustível na China e nos EUA. A China voltou a encher os silos. Compra mais metais, soja. Mas produz o que e para quem? O comércio mundial está na lama ainda. E soja pode ser estocada. Estava barata.
Bancos americanos e europeus ainda estão bichados, ficarão menores e por um tempo estarão sujeitos a mais controles, menos livres para criar dinheiro do nada (o Japão dos bancos bichados saiu de uma recessão feia para uma década de estagnação). E até quando o governo americano vai subsidiar seus bancos? Por falar nisso, ainda inunda o mercado de títulos públicos, a fim de financiar seu déficit monstruoso e crescente. A conjunção de dívida enorme, superoferta de títulos públicos e mercados mais otimistas pode dar em aumento de juros na praça. Não é para amanhã. Mas pode ser para daqui a seis meses, um ano, quando a economia ainda estará cheia dos respingos da lama por onde se arrastou na recessão.
Enfim, mesmo depois de décadas de bolhas é esquisito imaginar que os EUA possam imprimir dólares e o mundo achar que essa fabricação seja chamada de capital (cadê a poupança?). Ou o mundo ficará feliz com uma nova bolha?
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