quinta-feira, 7 de maio de 2009

Para Mendonça de Barros, País passou no teste

Ricardo Leopoldo
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-ministro destaca combinação positiva entre governos FHC e Lula

O ex-ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, disse ontem, em palestra na Associação Comercial de São Paulo, que o País vive um momento extraordinário, inédito nos últimos 40 anos, e passou no teste da crise internacional. Porém, o economista ainda prevê recuo de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

"Em meio a uma crise internacional tão complicada como a atual, o Banco Central ontem interveio no mercado para comprar dólares", afirmou, referindo-se ao leilão de swap cambial reverso, no total de US$ 3,4 bilhões, que na prática equivale a uma compra de dólares no mercado futuro.

"No passado, havia uma relação quase pavloviana entre crise e desvalorização da moeda. E hoje, apesar da turbulência no mercado internacional nos últimos meses, as reservas estão perto de US$ 205 bilhões." Segundo Mendonça de Barros, a economia brasileira já começa a apresentar melhora no segundo trimestre. Ele destacou que, entre fatores favoráveis da economia, há o fato de o Brasil ser credor externo líquido.

"Por ter essa posição favorável, quando ocorreu a desvalorização do real recentemente, que ficou perto de 35%, o Banco Central ganhou R$ 100 bilhões." Por outro lado, "como havia muitas empresas que estavam apostando no real, grandes grupos balançaram".

De acordo com ele, há dois números que resumem de forma clara a boa saúde financeira do Brasil. De um lado, a dívida pública equivale a US$ 70 bilhões. Mas as reservas cambiais são quase o triplo disso, perto de US$ 205 bilhões.

Para o economista, o acúmulo de reservas nos últimos dois anos foi propiciado, sobretudo, pelo boom das commodities, que o Brasil soube aproveitar muito bem, pois foi o País que mais soube se beneficiar da expansão vigorosa da China nos últimos anos.

Na opinião do economista, o Brasil está saindo da crise de forma satisfatória porque houve uma combinação muito positiva dos oito anos de governo FHC com dois mandatos do governo Lula.

"Eu nunca pensei que falaria esse tipo de frase", comentou, referindo-se ao fato de que é vinculado ao PSDB, partido de oposição ao PT.

Segundo ele, a adoção de políticas econômicas consistentes por 15 anos, especialmente no combate vigoroso à inflação, com foco também no crescimento da economia e políticas sociais para melhorar a distribuição de renda, foram pilares importantes para o Brasil atingir o atual estágio internacional, que o tornou no ano passado investment grade.

"É muito importante aliar a economia de mercado com a presença do Estado em áreas importantes. Sabemos que a economia de mercado, que alguns chamam de capitalismo, é o sistema mais eficiente para gerar riquezas. Contudo, apresenta falhas para a distribuição de riquezas", disse. "Quando fui presidente do BNDES, sofri como um cachorro porque a ala mais liberal do governo FHC queria fechar o banco."

Para o economista, hoje os bancos públicos cumprem um papel relevante para reativar o crédito no País, pois são responsáveis por um terço dos financiamentos e vêm aumentando sua participação, já que os bancos privados estão reduzindo a concessão de crédito.

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