Marcos Coimbra
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Para quem acha que as coisas funcionam bem atualmente nas relações entre o governo e os partidos, pode ser até barato deixar tudo como está e ganhar alguns minutos selando uma “aliança” com o PMDB. Quem, contudo, desconfia que as coisas precisam mudar deve avaliar com cuidado o que está comprando.
Os dicionários brasileiros mais famosos não registram o sentido moderno da palavra palanque. No Houaiss, por exemplo, a primeira acepção nos leva a pensar que ela é quase um arcaísmo. Palanque seria um “tablado com degraus para participantes e/ou espectadores de eventos ao ar livre”, coisa que já não existe mais, a não ser nas mais simples cidade do interior. Onde ainda se empregam tábuas para fazer estruturas como essas?
No Aurélio, a definição é praticamente igual: palanque é um “estrado de madeira com degraus, construído para os espectadores de uma festa ao ar livre”. Nele, como no Houaiss, registram-se outros sentidos da palavra (tronco para prender cavalos, poste para amarrar potros para curar bicheira etc.), mas nenhum se aproxima do que tem hoje em dia, especialmente nas discussões políticas.
Nelas, ela é utilizada para descrever o lugar onde ficam aqueles que falam ou, por metonímia, os que sobem nesses “estrados” para se dirigir aos espectadores de comícios. É nos palanques que os políticos discursam.
Hoje, ela designa duas coisas distintas: os palanques propriamente ditos e os “palanques eletrônicos”. Só que, no Brasil, do modo como funcionam o sistema político e as campanhas eleitorais, os primeiros perdem, a cada eleição, importância, e os outros ganham. Os comícios querem dizer menos e a televisão mais. Basta fazer as contas. Em uma eleição presidencial, em qualquer dia normal de veiculação da propaganda eleitoral, os programas dos candidatos têm uma audiência potencial (medida pelo número de aparelhos ligados) que equivale a uma cobertura de cerca de metade do eleitorado, ou seja, de mais ou menos 65 milhões de pessoas.
Se considerarmos a audiência efetiva (domicílios onde pelo menos uma pessoa assiste a pelo menos parte do programa), ficamos com 30 milhões e, mesmo se quisermos apenas a audiência ativa (onde alguém assiste, com atenção, à maior parte do programa), temos 15 milhões. Agora façamos uma especulação sobre uma campanha que fosse capaz, nos 90 dias permitidos, de fazer um grande comício por dia, com 20 mil pessoas em média (sem artistas e sem atrações), apenas para ouvir os candidatos. Nessa hipótese altamente improvável, ela levaria 1,8 milhões de pessoas a eles. Ou seja, perto de 10% apenas da audiência ativa do programa em um só dia. Isso para não falar das inserções, que atingem 130 milhões de eleitores diariamente.
Existem dezenas de estudos que mostram que, se há uma coisa que desagrada ao eleitor na TV, é ver desfile de políticos. No programa de Dilma, por exemplo, abusar da presença de personagens pouco ou nada conhecidos fora de seus estados só faz com que ninguém queira vê-lo. Mesmo onde atuam, sua aparição rouba o tempo da candidata, que precisa de várias coisas, menos de patronos demais. É igual para o candidato que ela enfrentará do PSDB.
A importância da televisão é tão grande que alguns estrategistas acham que qualquer concessão vale a pena, na busca de coligações partidárias que aumentem o “tempo de antena” de uma candidatura. É o que faz com que o PMDB seja tão cortejado, tanto pelo governo, quanto pela oposição. O cálculo dos benefícios não é simples, no entanto. Se um partido tem, sozinho e com seus aliados tradicionais, tempo suficiente para ser notado pelo eleitor, a vantagem da maior exposição pode ser pequena.
Há, além disso, o problema do preço. Para quem acha que as coisas funcionam bem atualmente nas relações entre Executivo e Congresso e entre o governo e os partidos, pode ser até barato deixar tudo como está e ganhar alguns minutos selando uma “aliança” com o PMDB. Quem, contudo, desconfia que as coisas precisam mudar deve avaliar com cuidado o que está comprando. PSDB e PT já ganharam eleições sem o PMDB. Quanto a Serra, já perdeu com ele.
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Para quem acha que as coisas funcionam bem atualmente nas relações entre o governo e os partidos, pode ser até barato deixar tudo como está e ganhar alguns minutos selando uma “aliança” com o PMDB. Quem, contudo, desconfia que as coisas precisam mudar deve avaliar com cuidado o que está comprando.
Os dicionários brasileiros mais famosos não registram o sentido moderno da palavra palanque. No Houaiss, por exemplo, a primeira acepção nos leva a pensar que ela é quase um arcaísmo. Palanque seria um “tablado com degraus para participantes e/ou espectadores de eventos ao ar livre”, coisa que já não existe mais, a não ser nas mais simples cidade do interior. Onde ainda se empregam tábuas para fazer estruturas como essas?
No Aurélio, a definição é praticamente igual: palanque é um “estrado de madeira com degraus, construído para os espectadores de uma festa ao ar livre”. Nele, como no Houaiss, registram-se outros sentidos da palavra (tronco para prender cavalos, poste para amarrar potros para curar bicheira etc.), mas nenhum se aproxima do que tem hoje em dia, especialmente nas discussões políticas.
Nelas, ela é utilizada para descrever o lugar onde ficam aqueles que falam ou, por metonímia, os que sobem nesses “estrados” para se dirigir aos espectadores de comícios. É nos palanques que os políticos discursam.
Hoje, ela designa duas coisas distintas: os palanques propriamente ditos e os “palanques eletrônicos”. Só que, no Brasil, do modo como funcionam o sistema político e as campanhas eleitorais, os primeiros perdem, a cada eleição, importância, e os outros ganham. Os comícios querem dizer menos e a televisão mais. Basta fazer as contas. Em uma eleição presidencial, em qualquer dia normal de veiculação da propaganda eleitoral, os programas dos candidatos têm uma audiência potencial (medida pelo número de aparelhos ligados) que equivale a uma cobertura de cerca de metade do eleitorado, ou seja, de mais ou menos 65 milhões de pessoas.
Se considerarmos a audiência efetiva (domicílios onde pelo menos uma pessoa assiste a pelo menos parte do programa), ficamos com 30 milhões e, mesmo se quisermos apenas a audiência ativa (onde alguém assiste, com atenção, à maior parte do programa), temos 15 milhões. Agora façamos uma especulação sobre uma campanha que fosse capaz, nos 90 dias permitidos, de fazer um grande comício por dia, com 20 mil pessoas em média (sem artistas e sem atrações), apenas para ouvir os candidatos. Nessa hipótese altamente improvável, ela levaria 1,8 milhões de pessoas a eles. Ou seja, perto de 10% apenas da audiência ativa do programa em um só dia. Isso para não falar das inserções, que atingem 130 milhões de eleitores diariamente.
Existem dezenas de estudos que mostram que, se há uma coisa que desagrada ao eleitor na TV, é ver desfile de políticos. No programa de Dilma, por exemplo, abusar da presença de personagens pouco ou nada conhecidos fora de seus estados só faz com que ninguém queira vê-lo. Mesmo onde atuam, sua aparição rouba o tempo da candidata, que precisa de várias coisas, menos de patronos demais. É igual para o candidato que ela enfrentará do PSDB.
A importância da televisão é tão grande que alguns estrategistas acham que qualquer concessão vale a pena, na busca de coligações partidárias que aumentem o “tempo de antena” de uma candidatura. É o que faz com que o PMDB seja tão cortejado, tanto pelo governo, quanto pela oposição. O cálculo dos benefícios não é simples, no entanto. Se um partido tem, sozinho e com seus aliados tradicionais, tempo suficiente para ser notado pelo eleitor, a vantagem da maior exposição pode ser pequena.
Há, além disso, o problema do preço. Para quem acha que as coisas funcionam bem atualmente nas relações entre Executivo e Congresso e entre o governo e os partidos, pode ser até barato deixar tudo como está e ganhar alguns minutos selando uma “aliança” com o PMDB. Quem, contudo, desconfia que as coisas precisam mudar deve avaliar com cuidado o que está comprando. PSDB e PT já ganharam eleições sem o PMDB. Quanto a Serra, já perdeu com ele.
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