terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PSDB retoma negociação com Gabeira para garantir palanque a Serra no Rio

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Paola de Moura, do Rio

Após bater o martelo e se ver num beco sem saída para dar palanque à campanha presidencial do governador de São Paulo, José Serra, no Rio, o PSDB voltou a negociar com o deputado Fernando Gabeira (PV) o apoio a sua candidatura a governador ou a senador, para ter algum espaço relevante no Estado. O projeto tinha sido engavetado em dezembro quando a senadora Marina Silva (PV-AC) anunciou que também concorreria à Presidência.

A situação do Rio é muito favorável à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Liderando as pesquisas feitas em dezembro com até 38% das intenções de voto no Datafolha e 35% no Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), o governador Sérgio Cabral (PMDB) é o principal palanque para a ministra no Rio.

Seu maior oponente até agora, o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que também vem crescendo nas pesquisas e fechou o ano com 24% das intenções de votos no Datafolha e 21% no IBPS, também dará palanque para Dilma Rousseff, conforme declarou em recente entrevista ao Valor.

Garotinho chegou a ter um pequeno flerte com o DEM, que apoia Serra. Na terça-feira da semana passada, levou sua filha, a vereadora Clarissa Garotinho (PR-RJ), e o deputado federal Geraldo Pudim (PR) para almoçar na casa do deputado federal e presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), e o vereador Caiado (DEM-RJ). No cardápio uma possível união para enfrentar a liderança de Cabral e dar mais espaço a Serra na televisão. Mas o namoro ficou inviável devido aos apoios às campanhas presidenciáveis.

Segundo Garotinho, Cesar Maia argumentou que Lula estava com Cabral. Garotinho, no entanto, reiterou seu apoio a Dilma. Cesar Maia confirmou o almoço e a falta de acordo.

Garotinho disse ao Valor que algo foi negociado, dando a entender que talvez seja possível um acordo num eventual segundo turno contra o governador.

Gabeira então voltou a ser valorizado pela oposição. Na semana passada chegou a dizer que a única saída que tinha era concorrer à reeleição a deputado federal. Isto porque, como o PV tem pouco tempo de televisão, não teria capacidade financeira para levantar uma campanha cara a governador ou a senador. Mas o deputado que perdeu a eleição para prefeito da capital numa disputa acirrada no segundo turno em 2008 - diferença de apenas 1,6 ponto percentual para Eduardo Paes (PMDB) - diz que sonha em ser senador. "O Rio não tem um voz forte no Senado. Posso dar minha contribuição para a Casa e para o Estado". No entanto, ele diz que nada está definido. "Na rua, peço votos. As pessoas perguntam para quê e eu digo que ainda não sei, mas que votem em mim", brinca.

Gabeira não é um candidato a ser descartado. Num cenário em que disputa as eleições com Cabral e Garotinho, o deputado fica em terceiro, com 17% dos votos, segundo o Datafolha. O mesmo resultado foi medido pelo IBPS, que incluiu também o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria (PT), na cédula. O prefeito, no entanto, desistiu de concorrer depois de seu candidato ter perdido a eleição do PT no Rio e da forte oposição do PT nacional, que apoia Cabral, à sua candidatura.

Por enquanto, Cabral lidera as pesquisas. Sua ação contra a violência nas favelas, através da implantação da Unidade da Polícia Pacificadora (UPP), tem rendido bons resultados nas pesquisas. "Como a violência era considerada de longe o principal problema, a aprovação do governador começa a subir", explica o diretor-presidente do IBPS, Geraldo Tadeu. "Além disso, a virtual saída de Lindberg e também de Gabeira o ajudaram com transferência de voto".

Ricardo Ismael, professor da PUC-RJ, lembra que o governador terminou o ano como vencedor político no Estado. "Ele conseguiu fortalecer seu palanque, ao conseguir a desistência de Lindberg e ao mostrar que o PT nacional está com ele, ao ver as UPPs darem resultado, o que agrada a classe média, e ainda com a expansão das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), para a classe mais baixa".

Tudo isso, dificulta muito a situação de Serra no Rio. O professor do Instituto de Pesquisas Universitárias do Rio de Janeiro (Iuperj) Renato Lessa não acredita que o PSDB consiga alguma força para dar palanque a Serra no Rio. "O DEM está desgastado pela administração Arruda em Brasília e a Marina cortou qualquer chance de palanque com o Gabeira", analisa.

"Além disso, o partido não tem representação. O quadro para oposição no Estado é ruim", concluiu.

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