DEU EM GRAMSCI E O BRASIL
As próximas eleições já se mostram em delineamentos bastante claros. O futuro do pais se joga, como todos sabem, entre as candidaturas de Dilma, pelo PT, e Serra, pelo PSDB. Imposta por Lula, a candidatura de Dilma é a expressão do continuísmo. Dilma parece encarnar o papel da conservação e não o da mudança. Em discurso que fez recentemente em Nova York enfatizou que na economia não se mexe. E fala isso em relação a uma economia que cresce pouco em relação à média mundial: em 2009, a participação da economia brasileira no produto mundial era de 2,79%, menos do que os 2,81% de 2002, o último ano de FHC. O crescimento anual sob Lula foi de 3,6%, mesmo percentual que o Brasil apresentava na economia mundial no final dos anos 80. Dilma e a maior parte dos seus apoiadores parecem não querer levar esses dados em consideração.
Analistas apontam, quase consensualmente, continuidade entre FHC e Lula no que se refere aos fundamentos da política econômica. Lula pouco alterou a orientação da economia. No plano econômico, Lula mostrou-se um astucioso conservador. A manutenção da estabilidade econômica, como se sabe, garantiu a possibilidade de aprofundar diversas das políticas sociais que passaram a ser a pedra de toque de seus governos.
Em outro plano de continuidade, o enfrentamento da questão social via políticas focalizadas também cria outro laço entre FHC e Lula. Mas o país não vivenciou o tão esperado “espetáculo do crescimento”. Desafortunadamente, Dilma parece querer repetir a dose.
Ocorre que o contexto mudou vertiginosamente. A crise que explodiu em 2008 e jogou as principais economias do mundo no chão não foi apenas financeira. Expressa um desequilíbrio enorme na economia real. O adensamento da esfera produtiva do mundo na Ásia deslocou também para lá os veios da riqueza mundial. A crise de 2008 veio mostrar que uma economia de serviços e sustentada no consumo não produz e, portanto, não reserva riqueza para seus povos. EUA e Europa foram, por isso, os mais atingidos.
O Brasil conseguiu surfar nos bons e maus momentos da economia globalizada. Acreditou, nos anos FHC, que uma inserção que abrisse nosso mercado e privatizasse boa parte do patrimônio público geraria crescimento in continuum, mas não foi o que aconteceu, e não só em razão das crises.
Hoje, com Lula, acredita-se que exportar commodities e elevar o consumo, alargando o espaço das importações, com um câmbio voltado para essa estratégia, pode garantir um crescimento sustentável. Isso não se comprova. Ainda assim Dilma parece imaginar que a popularidade de Lula lhe dará tanto a eleição como todas as benesses da economia globalizada.
O que parece estar claro é que a crise produziu uma clivagem na globalização. Entramos numa segunda fase desse grande processo, e as revisões já se encontram em andamento. É ilusório imaginar que a questão possa ser colocada politicamente como um dilema entre “mais ou menos Estado”. É a economia real que necessita ser repensada. E, se o fazemos em relação ao Brasil, talvez uma espécie de “inserção negativa” na globalização nesse momento nos ajudasse a repensar sua economia real, para além dos sonhos de consumo. Essa questão deveria invadir o debate eleitoral com a urgência, amplas dimensões e consequências que daí podem advir.
Alberto Aggio é professor titular de História da Unesp/Franca.
As próximas eleições já se mostram em delineamentos bastante claros. O futuro do pais se joga, como todos sabem, entre as candidaturas de Dilma, pelo PT, e Serra, pelo PSDB. Imposta por Lula, a candidatura de Dilma é a expressão do continuísmo. Dilma parece encarnar o papel da conservação e não o da mudança. Em discurso que fez recentemente em Nova York enfatizou que na economia não se mexe. E fala isso em relação a uma economia que cresce pouco em relação à média mundial: em 2009, a participação da economia brasileira no produto mundial era de 2,79%, menos do que os 2,81% de 2002, o último ano de FHC. O crescimento anual sob Lula foi de 3,6%, mesmo percentual que o Brasil apresentava na economia mundial no final dos anos 80. Dilma e a maior parte dos seus apoiadores parecem não querer levar esses dados em consideração.
Analistas apontam, quase consensualmente, continuidade entre FHC e Lula no que se refere aos fundamentos da política econômica. Lula pouco alterou a orientação da economia. No plano econômico, Lula mostrou-se um astucioso conservador. A manutenção da estabilidade econômica, como se sabe, garantiu a possibilidade de aprofundar diversas das políticas sociais que passaram a ser a pedra de toque de seus governos.
Em outro plano de continuidade, o enfrentamento da questão social via políticas focalizadas também cria outro laço entre FHC e Lula. Mas o país não vivenciou o tão esperado “espetáculo do crescimento”. Desafortunadamente, Dilma parece querer repetir a dose.
Ocorre que o contexto mudou vertiginosamente. A crise que explodiu em 2008 e jogou as principais economias do mundo no chão não foi apenas financeira. Expressa um desequilíbrio enorme na economia real. O adensamento da esfera produtiva do mundo na Ásia deslocou também para lá os veios da riqueza mundial. A crise de 2008 veio mostrar que uma economia de serviços e sustentada no consumo não produz e, portanto, não reserva riqueza para seus povos. EUA e Europa foram, por isso, os mais atingidos.
O Brasil conseguiu surfar nos bons e maus momentos da economia globalizada. Acreditou, nos anos FHC, que uma inserção que abrisse nosso mercado e privatizasse boa parte do patrimônio público geraria crescimento in continuum, mas não foi o que aconteceu, e não só em razão das crises.
Hoje, com Lula, acredita-se que exportar commodities e elevar o consumo, alargando o espaço das importações, com um câmbio voltado para essa estratégia, pode garantir um crescimento sustentável. Isso não se comprova. Ainda assim Dilma parece imaginar que a popularidade de Lula lhe dará tanto a eleição como todas as benesses da economia globalizada.
O que parece estar claro é que a crise produziu uma clivagem na globalização. Entramos numa segunda fase desse grande processo, e as revisões já se encontram em andamento. É ilusório imaginar que a questão possa ser colocada politicamente como um dilema entre “mais ou menos Estado”. É a economia real que necessita ser repensada. E, se o fazemos em relação ao Brasil, talvez uma espécie de “inserção negativa” na globalização nesse momento nos ajudasse a repensar sua economia real, para além dos sonhos de consumo. Essa questão deveria invadir o debate eleitoral com a urgência, amplas dimensões e consequências que daí podem advir.
Alberto Aggio é professor titular de História da Unesp/Franca.
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