DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Editorial
No que foi, para todos os efeitos, o maior comício até aqui da campanha que oficialmente ainda não começou para fazer da ex-ministra Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula, 5 das 6 centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho reuniram terça-feira, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, perto de 15 mil pessoas - metade do esperado, por sinal. O pretexto para o evento - a assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) - era aprovar uma agenda de 290 propostas a ser entregue aos presidenciáveis.
Na realidade, foi uma escancarada mobilização eleitoral pela "continuidade" do governo lulista, para "impedir o retrocesso". Os nomes Dilma Rousseff e José Serra não foram pronunciados, nem seria preciso, embora um espectador menos avisado ? e havia muitos entre os homens e mulheres trazidos pelas centrais com as despesas pagas e mais algum ? pudesse achar que estava sendo convocado a votar em Lula. O disfarce era roto. "Para não ser tachado de fazer campanha", entoou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, do PDT paulista, "quero cantar o Hino à Bandeira."
Na véspera, o notório Paulinho da Força tinha sido mais autêntico. Fez pouco da Justiça Eleitoral ao dizer que não adiantaria processá-lo (pela quinta vez), pois "continuaria a falar". E investiu contra "esse sujeito", José Serra, que irá "tirar os direitos dos trabalhadores", caso se eleja. De uma forma ou de outra, os dirigentes da Força, da CUT e outras centrais alinhadas com os interesses do governo que as acolheu no seu bojo montaram uma linha de produção em série de ilícitos. Proibidas de fazê-lo, engajam-se ostensivamente em campanhas eleitorais, desrespeitando, além disso, as restrições legais que se aplicam ao chamado período de pré-campanha.
E tudo com dinheiro do imposto sindical instituído pelo Estado Novo de Getúlio Vargas ? o dia de salário que os trabalhadores, sindicalizados ou não, têm descontado uma vez por ano. A bolada vai para os sindicatos únicos (no Brasil, como se sabe, apenas uma entidade pode representar determinada categoria profissional em determinada base territorial) e daí para as centrais. Graças a esse arranjo perverso, as oligarquias sindicais têm meios de sobra para fazer política ? corajosamente a favor, como se diz, do governo com o qual vivem em mancebia, arquivados os antagonismos não raro ferozes entre elas.
Apenas no mês passado, por exemplo, a União repassou para as 5 centrais que promoveram o comício do Pacaembu um total de R$ 70,2 milhões. Perto disso, a conta do evento ? R$ 800 mil, entre aluguel do estádio, infraestrutura do espetáculo, custeio dos participantes e gastos com a coordenação do trânsito ? chega a parecer uns trocados. Há mais, muito mais, proporcionado por esse modelo contra o qual outrora Lula, o metalúrgico, se insurgia.
O imposto sindical é o que torna possível o novo pelegato, a cooptação dos controladores das máquinas sindicais pelo lulismo, fazendo lembrar a Era Vargas e o peronismo na Argentina. É o sindicalismo de Estado.
A eleição de Lula produziu na estrutura do setor público federal uma troca de guarda como não se via desde a Revolução de 1930. A nova elite do poder vem dos quadros do PT - muitos de origem sindicalista - e dos cristãos-novos do lulismo, entre os quais se destacam as corriolas do sindicalismo de resultados. "Uma vez que a Força Sindical e a CUT foram adversários históricos, a aproximação entre elas não tem nada de programático ou ideológico", observa o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor titular aposentado da USP e da Unicamp, estudioso do sindicalismo.
A convergência oportunista não se limita, evidentemente, às duas maiores centrais. Também as outras, com exceção da pequena UGT, sob influência do PPS, entraram na roda. "É visível o esforço dos seus dirigentes para se legitimar perante o PT e serem bem aceitos pelos cutistas", aponta o especialista. Nessa geleia geral, não é descabida a sua hipótese da formação de "uma só entidade sindical gigante", que seria conduzida por ninguém menos do que o futuro ex-presidente Lula.
Editorial
No que foi, para todos os efeitos, o maior comício até aqui da campanha que oficialmente ainda não começou para fazer da ex-ministra Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula, 5 das 6 centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho reuniram terça-feira, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, perto de 15 mil pessoas - metade do esperado, por sinal. O pretexto para o evento - a assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) - era aprovar uma agenda de 290 propostas a ser entregue aos presidenciáveis.
Na realidade, foi uma escancarada mobilização eleitoral pela "continuidade" do governo lulista, para "impedir o retrocesso". Os nomes Dilma Rousseff e José Serra não foram pronunciados, nem seria preciso, embora um espectador menos avisado ? e havia muitos entre os homens e mulheres trazidos pelas centrais com as despesas pagas e mais algum ? pudesse achar que estava sendo convocado a votar em Lula. O disfarce era roto. "Para não ser tachado de fazer campanha", entoou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, do PDT paulista, "quero cantar o Hino à Bandeira."
Na véspera, o notório Paulinho da Força tinha sido mais autêntico. Fez pouco da Justiça Eleitoral ao dizer que não adiantaria processá-lo (pela quinta vez), pois "continuaria a falar". E investiu contra "esse sujeito", José Serra, que irá "tirar os direitos dos trabalhadores", caso se eleja. De uma forma ou de outra, os dirigentes da Força, da CUT e outras centrais alinhadas com os interesses do governo que as acolheu no seu bojo montaram uma linha de produção em série de ilícitos. Proibidas de fazê-lo, engajam-se ostensivamente em campanhas eleitorais, desrespeitando, além disso, as restrições legais que se aplicam ao chamado período de pré-campanha.
E tudo com dinheiro do imposto sindical instituído pelo Estado Novo de Getúlio Vargas ? o dia de salário que os trabalhadores, sindicalizados ou não, têm descontado uma vez por ano. A bolada vai para os sindicatos únicos (no Brasil, como se sabe, apenas uma entidade pode representar determinada categoria profissional em determinada base territorial) e daí para as centrais. Graças a esse arranjo perverso, as oligarquias sindicais têm meios de sobra para fazer política ? corajosamente a favor, como se diz, do governo com o qual vivem em mancebia, arquivados os antagonismos não raro ferozes entre elas.
Apenas no mês passado, por exemplo, a União repassou para as 5 centrais que promoveram o comício do Pacaembu um total de R$ 70,2 milhões. Perto disso, a conta do evento ? R$ 800 mil, entre aluguel do estádio, infraestrutura do espetáculo, custeio dos participantes e gastos com a coordenação do trânsito ? chega a parecer uns trocados. Há mais, muito mais, proporcionado por esse modelo contra o qual outrora Lula, o metalúrgico, se insurgia.
O imposto sindical é o que torna possível o novo pelegato, a cooptação dos controladores das máquinas sindicais pelo lulismo, fazendo lembrar a Era Vargas e o peronismo na Argentina. É o sindicalismo de Estado.
A eleição de Lula produziu na estrutura do setor público federal uma troca de guarda como não se via desde a Revolução de 1930. A nova elite do poder vem dos quadros do PT - muitos de origem sindicalista - e dos cristãos-novos do lulismo, entre os quais se destacam as corriolas do sindicalismo de resultados. "Uma vez que a Força Sindical e a CUT foram adversários históricos, a aproximação entre elas não tem nada de programático ou ideológico", observa o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor titular aposentado da USP e da Unicamp, estudioso do sindicalismo.
A convergência oportunista não se limita, evidentemente, às duas maiores centrais. Também as outras, com exceção da pequena UGT, sob influência do PPS, entraram na roda. "É visível o esforço dos seus dirigentes para se legitimar perante o PT e serem bem aceitos pelos cutistas", aponta o especialista. Nessa geleia geral, não é descabida a sua hipótese da formação de "uma só entidade sindical gigante", que seria conduzida por ninguém menos do que o futuro ex-presidente Lula.
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