DEU NO JORNAL DO BRASIL (ONLINE)
Não é preciso ser assíduo à leitura das cartas de baralho ou freqüentador de tendas sobrenaturais para saber que nem sempre a tempestade precede a bonança, e que pode perfeitamente ocorrer o contrário. Também vale. Depende até dos ventos. Lula é apontado como o presidente de mais sorte dentre os que passaram pela República e também dos que levaram com eles a intenção de voltar, e a amargura de não terem conseguido.Há fatores que independem dos interessados e recomendam atenção quando o vento sopra ao contrário.
Previsível, por enquanto, apenas que um dos dois, Dilma Rousseff ou José Serra, presidirá a república nos quatro anos pela frente. Antes, porém, naquele curto período entre a eleição e a posse, o vencedor anestesiado pela expectativa se beliscará para confirmar se foi mesmo preferido pelos milhões de votos que reforçam a democracia entre idas e vindas ao Brasil.
Já em relação ao presidente (mais ou menos) de saída, uma luz crepuscular o mostra, aqui e ali, mais reflexivo do que explosivo, interessado em saber onde foi mesmo que errou.Certa indefinição diz mais sobre ele do que as pistas deixadas pelo caminho. No espaço entre uma situação e outra, estará mais sozinho do que nunca. Será a hora em que a solidão oferecerá seus préstimos e os erros operacionais se encarregarão do que tiver de ser quitado.
Conseqüências se apresentam voluntariamente. Principalmente quando deixam de ser pessoais e se tornam assunto de interesse público. Por tudo que fez de diferente do ritual republicano tradicional, o presidente Lula não conseguirá impedir o fluxo do que circulou em voz baixa e ficou reservado para, em alguma altura do futuro, ser reaproveitado (se bem que não chega a ser matéria prima histórica). Até na internet se notou algum cuidado em relação a versões que se tornarão mais aceitáveis pela mão do tempo.
Vitórias dispensam explicações e derrotas se abstêm de oferecer conselhos porque as situações não se repetem com exatidão. A História se recusa a facilitar reincidências.Com a eleição presidencial nos termos em que foi armada, dadas as condições exclusivas que a marcaram, não se pode esperar que aspectos favoráveis prevaleçam impunemente sobre as transgressões ao espírito republicano. As conseqüências se apresentarão quando for a hora. No segundo turno, o presidente da República – interrompendo um simulado cuidado para salvar as aparências _ voltou à campanha eleitoral e pediu pela televisão que os cidadãos elejam a candidata à qual vinculou ostensivamente sua volta ao poder. Lula não interpretou corretamente a ausência de reação pública a atos que mostram, por parte da sociedade, clara consciência da necessidade de preservar a normalidade política.
Da parte dele, o teor ostensivo tem sido de provocação. Desde 1988, felizmente, a maioria absoluta blindou a sucessão presidencial e acabou com os sofismas dos derrotados e as reinterpretações cabalísticas de resultados eleitorais.
O comportamento imprevisível por um lado, mas previsível pelo lado oposto, precipitou a sucessão presidencial e perturbou o presidente Lula, diante da hipótese de insucesso da candidatura Dilma Rousseff. A participação direta dele na campanha se expandiu por omissão da opinião pública e equivoco das vozes que não se fizeram ouvir em tempo. Eram e são previsíveis conseqüências da metamorfose pessoal nele, agravada pela vitória paga com as três primeiras derrotas: Lula aceitou o risco de ser interpretado ao contrário do que pretendeu. Mas, o presidente não está nem aí, nem por perto. Pode haver conseqüências que ainda não passam pelas cabeças.Dessa transição que se desenha por mãos anônimas, e não deixam impressão digital, uma é certa: quem se eleger não escapará da reforma política já na tocaia.
Dilma ou Serra terão de se haver com a reforma política porque nada de bom se pode esperar de políticos, desde que se perdeu a oportunidade oferecida pelo mensalão. Aquela foi a hora de enfrentar os costumes que roem a República no que ela tem de mais delicado, que são as relações entre eleitores e eleitos, cidadãos e representantes políticos, no espaço de responsabilidade compartilhado pelo Executivo e o Legislativo.A vida pública brasileira, no varejo cotidiano, se tornou um campo propício à intermediação de interesses múltiplos no comércio de compra e venda de votos.Um estado de espírito amorfo está no ar, além da sombra que espreita os candidatos e se adianta por conta própria.
Não é preciso ser assíduo à leitura das cartas de baralho ou freqüentador de tendas sobrenaturais para saber que nem sempre a tempestade precede a bonança, e que pode perfeitamente ocorrer o contrário. Também vale. Depende até dos ventos. Lula é apontado como o presidente de mais sorte dentre os que passaram pela República e também dos que levaram com eles a intenção de voltar, e a amargura de não terem conseguido.Há fatores que independem dos interessados e recomendam atenção quando o vento sopra ao contrário.
Previsível, por enquanto, apenas que um dos dois, Dilma Rousseff ou José Serra, presidirá a república nos quatro anos pela frente. Antes, porém, naquele curto período entre a eleição e a posse, o vencedor anestesiado pela expectativa se beliscará para confirmar se foi mesmo preferido pelos milhões de votos que reforçam a democracia entre idas e vindas ao Brasil.
Já em relação ao presidente (mais ou menos) de saída, uma luz crepuscular o mostra, aqui e ali, mais reflexivo do que explosivo, interessado em saber onde foi mesmo que errou.Certa indefinição diz mais sobre ele do que as pistas deixadas pelo caminho. No espaço entre uma situação e outra, estará mais sozinho do que nunca. Será a hora em que a solidão oferecerá seus préstimos e os erros operacionais se encarregarão do que tiver de ser quitado.
Conseqüências se apresentam voluntariamente. Principalmente quando deixam de ser pessoais e se tornam assunto de interesse público. Por tudo que fez de diferente do ritual republicano tradicional, o presidente Lula não conseguirá impedir o fluxo do que circulou em voz baixa e ficou reservado para, em alguma altura do futuro, ser reaproveitado (se bem que não chega a ser matéria prima histórica). Até na internet se notou algum cuidado em relação a versões que se tornarão mais aceitáveis pela mão do tempo.
Vitórias dispensam explicações e derrotas se abstêm de oferecer conselhos porque as situações não se repetem com exatidão. A História se recusa a facilitar reincidências.Com a eleição presidencial nos termos em que foi armada, dadas as condições exclusivas que a marcaram, não se pode esperar que aspectos favoráveis prevaleçam impunemente sobre as transgressões ao espírito republicano. As conseqüências se apresentarão quando for a hora. No segundo turno, o presidente da República – interrompendo um simulado cuidado para salvar as aparências _ voltou à campanha eleitoral e pediu pela televisão que os cidadãos elejam a candidata à qual vinculou ostensivamente sua volta ao poder. Lula não interpretou corretamente a ausência de reação pública a atos que mostram, por parte da sociedade, clara consciência da necessidade de preservar a normalidade política.
Da parte dele, o teor ostensivo tem sido de provocação. Desde 1988, felizmente, a maioria absoluta blindou a sucessão presidencial e acabou com os sofismas dos derrotados e as reinterpretações cabalísticas de resultados eleitorais.
O comportamento imprevisível por um lado, mas previsível pelo lado oposto, precipitou a sucessão presidencial e perturbou o presidente Lula, diante da hipótese de insucesso da candidatura Dilma Rousseff. A participação direta dele na campanha se expandiu por omissão da opinião pública e equivoco das vozes que não se fizeram ouvir em tempo. Eram e são previsíveis conseqüências da metamorfose pessoal nele, agravada pela vitória paga com as três primeiras derrotas: Lula aceitou o risco de ser interpretado ao contrário do que pretendeu. Mas, o presidente não está nem aí, nem por perto. Pode haver conseqüências que ainda não passam pelas cabeças.Dessa transição que se desenha por mãos anônimas, e não deixam impressão digital, uma é certa: quem se eleger não escapará da reforma política já na tocaia.
Dilma ou Serra terão de se haver com a reforma política porque nada de bom se pode esperar de políticos, desde que se perdeu a oportunidade oferecida pelo mensalão. Aquela foi a hora de enfrentar os costumes que roem a República no que ela tem de mais delicado, que são as relações entre eleitores e eleitos, cidadãos e representantes políticos, no espaço de responsabilidade compartilhado pelo Executivo e o Legislativo.A vida pública brasileira, no varejo cotidiano, se tornou um campo propício à intermediação de interesses múltiplos no comércio de compra e venda de votos.Um estado de espírito amorfo está no ar, além da sombra que espreita os candidatos e se adianta por conta própria.
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