quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lula: oposição não deve agir com raiva

DEU EM O GLOBO

Na primeira entrevista coletiva após as eleições, o presidente Lula pediu que a oposição não aja com raiva contra a presidente eleita, Dilma Rousseff, como, segundo disse, fez com ele. Ao lado de Dilma, em tom duro, afirmou: "Que dentro do Congresso, a oposição não faça contra a Dilma a política que fez comigo, a política do estômago, a política, eu diria, da vingança, do trabalhar para não dar certo.” Lula disse que não haverá medidas impopulares agora, descartou voltar em 2014 e afirmou que o novo governo terá a cara de Dilma:"Rei morto, rei posto."

Lula critica a oposição

E, na primeira aparição após a eleição, diz que novo governo terá "a cara de Dilma"

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA - Bem à vontade ao lado de sua eleita, na sua primeira manifestação pública sobre o resultado da eleição de domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não dará palpites sobre a montagem do governo de Dilma Rousseff, e aproveitou para alfinetar a oposição. Pediu que a oposição seja menos raivosa do que teria sido com seu governo. Declarou que não pretende voltar ao poder em 2014, quando terminará o mandato de Dilma.

Para ele, rei morto, rei posto.

Lula também afirmou que o governo Dilma precisa ter a cara de Dilma.

Veja os principais trechos da entrevista de Lula, ao lado da presidente eleita, no Palácio do Planalto:

EQUIPE DILMA 1: Pela minha experiência de vida, o governo da Dilma tem que ser a cara e a semelhança da Dilma. É ela, e somente ela, quem pode dizer quem ela quer e quem ela não quer; somente ela é quem pode dizer aos partidos aliados se concorda ou não com as pessoas, e somente ela e os partidos aliados irão construir a coalizão.

EQUIPE DILMA 2: Tenho a exata noção da sensação da montagem de um governo. Você se levanta pela manhã, vê um jornal, está a fotografia de uma pessoa que nunca pensou em colocar no governo, mas está lá como escolhida; ou uma pessoa que você quer colocar, que está lá, destituída. É um samba maluco, alucinante.

EX-PRESIDENTE: Na minha cabeça funciona a seguinte tese: rei morto, rei posto. Eu disse a vocês que eu ia dar lição de como se comporta um ex-presidente da República: ele não indica, ele não veta; ele poderá dar algum conselho se, um dia, for pedido e se for para ajudar; para atrapalhar, nunca.

OPOSIÇÃO: Fui oposição muito tempo e fui governo muito tempo. (..) O que eu poderia dizer neste momento para a oposição? A Dilma é outra pessoa. Contra mim não tem problema, podem continuar raivosos, continuar do jeito que sempre foram.

Mas, a partir do dia 1º de janeiro, que eles olhassem um pouco mais o Brasil, torcessem para que o Brasil dê certo (...), porque, cada vez que tomam alguma atitude, em vez de prejudicar o presidente, eles prejudicam a parte mais pobre da população.

SEM VINGANÇA: Queria apenas pedir a compreensão... que, dentro do Congresso Nacional, a nossa oposição não faça contra a Dilma a política que fez comigo, a política do estômago, a política, eu diria, da vingança, a política do trabalhar para não dar certo.

SAÚDE: Não esqueço nunca que, por conta disso (da oposição), essas pessoas tiraram R$ 40 bilhões anuais da saúde.

SEM ÓDIO: A Dilma sabe que ela não pode ficar com raiva do que aconteceu no processo eleitoral. (..) na cabeça de um presidente da República não tem que ter o pensamento da vingança, da raiva, do ódio.

MÍNIMO DE R$ 600: Era promessa do Serra, que eles poderiam ter feito quando governaram o país.

Como o povo não acredita em promessa feita de última hora... Tem gente que ainda trata o povo como se fosse boiada: toca o berrante, e o povo vai atrás. Não é mais assim. O povo está sabido, sabe o que é política séria e o que é promessa. É por isso que a Dilma ganhou sem precisar entrar na fase das promessas fáceis.

MAIORIA: O que ela vai ter melhor do que eu tive? Ela vai ter, teoricamente, bancadas mais consolidada na Câmara e no Senado. Certamente, teremos senadores com menos raiva do que alguns que saíram.

Só o fato de o cidadão não ter raiva, de o cara ser civilizado e, em vez de gritar, conversar. Em vez de querer bater, negociar, já é meio caminho andado.

CPMF: É importante lembrar que aprovamos tudo o que queríamos no Congresso Nacional, com exceção da CPMF. Mas, agora, essa nova safra de governadores que vai vir aí, eles vão dizer o que vão querer, e todo mundo sabe que vai precisar de dinheiro para a saúde.

Se alguém souber de onde é possível tirar dinheiro, que nos diga.

MINISTROS: Como vou pedir? Ela tem que montar o time dela. Ela é, agora, a pessoa que vai ser o técnico titular dessa seleção. Então, ela vai escolher quem ela quiser, para a posição que quiser. A continuidade é na política, e não nas pessoas

CONSELHO: É difícil dar conselho.

A Dilma conviveu comigo nesses oito anos (..) E a Dilma sabe que ela tem que montar uma equipe que, primeiro, seja harmoniosa.

(...) se o time não estiver coeso (...) se os jogadores estiverem brigando entre si, o jogo não dá certo

2014: Essa é uma grande bobagem que se fala. Quando eu falo rei morto, rei posto, é porque acho que quem vai sair do governo tem a responsabilidade de pensar, e contar até um milhão, para voltar algum dia.

Porque chegar ao fim do mandato com o reconhecimento popular que tem o governo, com a aprovação pessoal minha, voltar é uma temeridade porque a expectativa gerada é infinitamente maior. (...) entendo um pouco de política, entendo um pouco de sentimento da sociedade.

2014/DILMA: Tudo o que desejo na vida, tudo o que peço a Deus é que a Dilma faça as coisas que ela sabe fazer. Não precisa inventar nada.

Eu tenho certeza que, se ela fizer tudo o que sabe que tem que fazer, ela tem todo o direito de, em 2014, ser candidata outra vez (...) E deixa para discutir as eleições um pouco mais para a frente, porque, se não, vai ter uma enxurrada de bolinha de papel batendo nas nossas cabeças até 2014, e nós não queremos isso.

SAUDADE: Não estou saudoso coisíssima nenhuma. Quando entrei aqui, sabia que tinha data para entrar e para sair. Portanto, é que nem contrato de aluguel: no dia 31, tenho que dar o fora.

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