1) As duas primeiras e significativas manifestações de Dilma Rousseff como presidente eleita – o “discurso da vitória”, feito logo após concluída a apuração do 2 turno, e a entrevista ao Jornal Nacional da Globo, na segunda-feira à noite – surpreenderam pelos temas que ela destacou e pelas posições que explicitou sobre questões macro e microeconômicas e as de caráter político e institucional. Entre as primeiras: defesa do tripé da estabilidade, da melhoria do gasto público, do respeito aos contratos, da livre concorrência, da autonomia das agências reguladoras. Entre as que dizem respeito às ações do governo, à institucionalidade e às relações políticas: a meritocracia no preenchimento dos cargos federais, o combate a escândalos administrativos, a garantia de que não praticará “discriminação, privilégios e compadrios”, o respeito à “irrestrita” liberdade de imprensa, a abertura conciliadora à oposição.
2) As avaliações pelos grandes veículos da mídia desse conjunto de manifestações da presidente eleita incluíram – como não poderiam deixar de fazê-lo – claras ressalvas de desconfiança, indicativas do receio de que elas possam constituir apenas ou predominantemente uma manobra tática de resposta às reações críticas de quase metade do eleitorado a muitas práticas e atitudes do governo federal, do presidente Lula e de sua candidata: a escalada dos gastos eleitoreiros este ano, o abusivo aparelhamento partidário e sindical, as tentativas de acobertamento de escândalos, os ataques à liberdade de imprensa, na campanha eleitoral a agressividade entre a candidata oficial e o da oposição. Reações essas que empurraram a disputa pelo controle do Palácio do Planalto para o 2º turno, no qual o quadro político nacional se reequilibrou significativamente.
3) Mas, de par com ressalvas prudenciais, a Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e a grande maioria dos veículos da mídia impressa e eletrônica receberam bem, agradavelmente surpresos, as declarações com as quais Dilma Rousseff se dirigiu ao país logo após sua eleição. Seguem-se trechos dos editoriais, de ontem, dos três referidos jornais. Da Folha, com o título “Boa impressão”: “Foi promissor o discurso proferido pela presidente eleita, na noite de domingo. O pronunciamento, que se revestiu de características de uma carta de intenções, convidou o país à conciliação, prestigiou a ordem democrática e sugeriu diretrizes de governo elogiáveis”. “A futura mandatária comprometeu-se com os direitos e garantias constitucionais. Incisivamente, com o intuito de diminuir suspeitas, prometeu zelar “pela mais irrestrita” liberdade de imprensa e religião. Na economia, foi além das promessas protocolares de responsabilidade, respeito a contratos e estímulo ao crescimento. Em considerações que poderiam ser endossadas por apostadores e críticos dos atuais rumos do governo, fez questão de citar a “melhoria da qualidade do gasto público” e a “atenuação da tributação”. “... Foi auspiciosa a menção às melhorias microeconômicas, com a valorização de “mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo”.
4) Do Globo, com o título “Defesa das liberdades unifica país”: “O primeiro discurso de Dilma infunde esperança de que será possível construir pontes entre governo e oposição, necessárias para o manejo de questões sérias, como a das bases frágeis e até injustas do sistema previdenciário do país...”. “Fez bem Dilma Rousseff ao estender a mão à oposição, garantindo que não haverá “discriminação, privilégios e compadrios”.A postura coincide com a do senador eleito Aécio Neves, considerado o grande nome da oposição no Congresso.Não poderia mesmo ser desconsiderado que, se Dilma obteve 55,7% milhões de votos, o candidato oposicionista José Serra atraiu 43,7 milhões, quase 44% do total. Além disso,os tucanos elegeram oito governadores, três deles na região mais desenvolvida do país (São Paulo, Minas e Paraná)”. “Registre-se, ainda, a defesa das liberdades feita pela presidente eleita – de imprensa, religião, culto. Este é um passo concreto para unificar o país, em torno de direitos fundamentais inscritos na Constituição, acima de partidos e ideologias”.
5) Do Estadão, com o título “A eleição de Dilma Rousseff”: “No discurso da vitória, por sinal no único trecho em que se emocionou abertamente, contendo as lágrimas, Dilma avisou que baterá muito à porta desse homem (Lula) “de tamanha grandeza e generosidade”. Mas várias de suas declarações chamaram a atenção por se referir a questões em relação às quais Lula fez má figura. Sobre corrupção, por exemplo, ela prometeu que “não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito”. Em contraste com o governante que se permitiu investir contra a imprensa do alto do palanque, ela agradeceu à mídia e disse que não carregará “nenhum ressentimento” pelas críticas recebidas porque prefere “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. “Dir-se-á que a distância entre intenções e atos é irremediavelmente imensa. Mas não há como negar que Dilma começou bem o percurso entre as urnas e o poder e que sua primeira fala desperta esperanças que não apareciam no horizonte da campanha”.
Jarbas de Holanda é jornalista
2) As avaliações pelos grandes veículos da mídia desse conjunto de manifestações da presidente eleita incluíram – como não poderiam deixar de fazê-lo – claras ressalvas de desconfiança, indicativas do receio de que elas possam constituir apenas ou predominantemente uma manobra tática de resposta às reações críticas de quase metade do eleitorado a muitas práticas e atitudes do governo federal, do presidente Lula e de sua candidata: a escalada dos gastos eleitoreiros este ano, o abusivo aparelhamento partidário e sindical, as tentativas de acobertamento de escândalos, os ataques à liberdade de imprensa, na campanha eleitoral a agressividade entre a candidata oficial e o da oposição. Reações essas que empurraram a disputa pelo controle do Palácio do Planalto para o 2º turno, no qual o quadro político nacional se reequilibrou significativamente.
3) Mas, de par com ressalvas prudenciais, a Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo e a grande maioria dos veículos da mídia impressa e eletrônica receberam bem, agradavelmente surpresos, as declarações com as quais Dilma Rousseff se dirigiu ao país logo após sua eleição. Seguem-se trechos dos editoriais, de ontem, dos três referidos jornais. Da Folha, com o título “Boa impressão”: “Foi promissor o discurso proferido pela presidente eleita, na noite de domingo. O pronunciamento, que se revestiu de características de uma carta de intenções, convidou o país à conciliação, prestigiou a ordem democrática e sugeriu diretrizes de governo elogiáveis”. “A futura mandatária comprometeu-se com os direitos e garantias constitucionais. Incisivamente, com o intuito de diminuir suspeitas, prometeu zelar “pela mais irrestrita” liberdade de imprensa e religião. Na economia, foi além das promessas protocolares de responsabilidade, respeito a contratos e estímulo ao crescimento. Em considerações que poderiam ser endossadas por apostadores e críticos dos atuais rumos do governo, fez questão de citar a “melhoria da qualidade do gasto público” e a “atenuação da tributação”. “... Foi auspiciosa a menção às melhorias microeconômicas, com a valorização de “mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo”.
4) Do Globo, com o título “Defesa das liberdades unifica país”: “O primeiro discurso de Dilma infunde esperança de que será possível construir pontes entre governo e oposição, necessárias para o manejo de questões sérias, como a das bases frágeis e até injustas do sistema previdenciário do país...”. “Fez bem Dilma Rousseff ao estender a mão à oposição, garantindo que não haverá “discriminação, privilégios e compadrios”.A postura coincide com a do senador eleito Aécio Neves, considerado o grande nome da oposição no Congresso.Não poderia mesmo ser desconsiderado que, se Dilma obteve 55,7% milhões de votos, o candidato oposicionista José Serra atraiu 43,7 milhões, quase 44% do total. Além disso,os tucanos elegeram oito governadores, três deles na região mais desenvolvida do país (São Paulo, Minas e Paraná)”. “Registre-se, ainda, a defesa das liberdades feita pela presidente eleita – de imprensa, religião, culto. Este é um passo concreto para unificar o país, em torno de direitos fundamentais inscritos na Constituição, acima de partidos e ideologias”.
5) Do Estadão, com o título “A eleição de Dilma Rousseff”: “No discurso da vitória, por sinal no único trecho em que se emocionou abertamente, contendo as lágrimas, Dilma avisou que baterá muito à porta desse homem (Lula) “de tamanha grandeza e generosidade”. Mas várias de suas declarações chamaram a atenção por se referir a questões em relação às quais Lula fez má figura. Sobre corrupção, por exemplo, ela prometeu que “não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito”. Em contraste com o governante que se permitiu investir contra a imprensa do alto do palanque, ela agradeceu à mídia e disse que não carregará “nenhum ressentimento” pelas críticas recebidas porque prefere “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. “Dir-se-á que a distância entre intenções e atos é irremediavelmente imensa. Mas não há como negar que Dilma começou bem o percurso entre as urnas e o poder e que sua primeira fala desperta esperanças que não apareciam no horizonte da campanha”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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