sábado, 23 de abril de 2011

Ditadura da Síria mata mais de 80 opositores

Um dia após o governo ter decretado o fim do estado de emergência, forças do ditador sírio, Bashar Assad, atiraram em manifestantes e mataram mais de 80, segundo relato de ativistas. Foi o dia mais violento desde o início da onda de protestos, em 15 de março. Vídeos veiculados pela rede Al Jazeera mostram opositores sem armas sendo fuzilados em Homs (oeste).

ONDA DE REVOLTAS

Pior massacre na Síria deixa pelo menos 88 mortos

Governo do ditador Bashar Assad reprime protestos pelo país, poucos dias após fazer acenos à oposição

Para analista, anúncio de fim da legislação de emergência pelo regime foi uma medida que teve caráter "cosmético"

Marcelo Ninio

JERUSALÉM -  No dia mais violento desde o início dos protestos contra o regime do ditador Bashar Assad, forças de segurança da Síria abriram fogo ontem contra manifestantes.

Segundo ativistas, ao menos 88 pessoas foram mortas nas manifestações de ontem, que se espalharam pelo país.

Vídeos amadores veiculados pela rede de TV Al Jazeera mostram manifestantes aparentemente desarmados sendo atingidos por disparos quando participavam de um protesto em Homs (oeste).

Testemunhas com medo de identificar-se contaram a agências de notícias que atiradores posicionados no telhado de prédios estavam atirando contra manifestantes em Hama (centro).

"Vi pelo menos duas pessoas serem mortas pelos atiradores", contou um morador de Hama à Reuters.

Há relatos de combates sangrentos em ao menos 20 cidades do país, incluindo a capital, Damasco.

Na esteira das revoluções na Tunísia, Egito e Líbia, as cinco semanas de crescentes protestos e a repressão policial cada vez mais violenta colocaram contra a parede um dos regimes mais repressores do mundo árabe.

Desde o início dos protestos, contando com o dia sangrento de ontem, a estimativa é de que mais de 300 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança.

COSMÉTICA

A estratégia do ditador Bashar Assad diante do maior desafio ao regime ditatorial que herdou de seu pai, Hafez, em 2000, tem sido uma combinação de concessões e coação.

Na véspera dos protestos de ontem, o governo da Síria anunciara o fim da lei de emergência em vigor há 48 anos no país, atendendo a uma das principais reivindicações dos manifestantes.

"A medida é só cosmética", afirmou à Folha o professor Moshe Maoz, considerado o maior especialista israelense em Síria. "Assad não vai abrir mão de reprimir a oposição, pois é assim que ele mantém o controle."

Para Maoz, é improvável que a Síria siga o mesmo roteiro da queda de Hosni Mubarak. A diferença é que no Egito a cúpula do Exército podia colocar Mubarak para fora e continuar no poder.

"Na Síria, os principais comandantes são da minoria alauíta [vertente do xiismo], a mesma do presidente. Se Assad cair, eles caem juntos", diz Maoz.

A maioria da população síria é sunita.

Os EUA e a França condenaram o uso da violência.

Embora não seja rica em petróleo, a Síria é um país-chave na geopolítica regional, pela aliança com o Irã e a influência sobre os movimentos radicais Hizbollah (Líbano) e Hamas (Gaza).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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