Jarbas de Holanda
O cenário político parecia, até há pouco, tão bom para a presidente Dilma Rousseff que só os efeitos, não imediatos, da má condução macroeconômica poderiam afetar negativamente seu elevado índice de popularidade (com expectativa favorável inclusive nos segmentos sociais melhor informados em face do estilo sóbrio que adotou, bem distinto do palanquismo de Lula) e, por extensão, abalar ou desarticular a amplíssima base parlamentar governista, com as contradições, básicas, entre o PT e o PMDB reduzindo-se à disputa de cargos na máquina federal. E tal cenário era reforçado pela paralisia dos oposicionistas (enredados na contestação por Serra de liderança emergente de Aécio Neves), bem como pelo encolhimento de seus quadros, sobretudo os do DEM, promovido pelo novo PSD com o apoio do Palácio do Planalto. Num contexto de desequilíbrio institucional tão agudo e sem horizonte visível de mudança que induzia o conjunto dos agentes econômicos, mesmo aqueles mais críticos das tendências e ações estatizantes do governo, a aproximar-se dele através do moderado e pragmático chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
Mas uma inesperada cadeia de fatos e eventos desencadeou substancial movimentação do cenário, da metade para o final de maio, interrompendo de súbito a “lua de mel” da nova presidente com a população e gerando consistentes incertezas sobre sua capacidade de manter a coesão da base parlamentar governista e de comandar efetivamente as decisões políticas do Executivo após o vazio de poder preenchido pelo ex-presidente Lula. Quadro desfavorável que poderá ser atenuado com possível manutenção de Palocci na Casa Civil, ou complicar-se ainda mais com o afastamento dele. Que se torne inevitável se não tiverem razoável credibilidade as explicações que lhe são amplamente cobradas sobre as denúncias de que o grande salto patrimonial que teve nos últimos anos deveu-se à prática de tráfico de influência no Planalto. Os dois fatores básicos da sucessão de acontecimentos negativos para a presidente Dilma foram essas denúncias, lançadas pela Folha de S. Paulo no dia 15 de maio, e a derrota, acachapante, sofrida elo governo na Câmara dos Deputados, no dia 14, na votação do projeto do Código Florestal.
Eis os desdobramentos e algumas das implicações dos dois fatores: sensível fragilização administrativa e política do governo; definição do conjunto da bancada do PMDB e da maioria da base governista de apoio ao referido projeto, em choque com a orientação oposta do Planalto e com a postura do PT; acirramento desse choque com a ameaça da presidente – transmitida por Palocci – de demissão de ministros do PMDB, se confirmada tal definição, ameaça incisivamente repelida pelo vice Michel Temer; reentrada ostensiva na cena política do ex-presidente Lula, para recompor a relação do PMDB com o governo e evitar a instalação de CPI (na Câmara, no Senado, ou mista) sobre as denúncias contra o chefe da Casa Civil; com a debilitação da presidente, aumento do peso das demandas dos peemedebistas e demais partidos de base governista para ocupação de cargos na máquina federal que ela tem restringido em nome de critérios técnicos ou tecnocráticos. A esses fatos negativos somaram-se problemas com a saúde de Dilma Rousseff, tudo isso – segundo a colunista do Globo, Míriam Leitão – “diminuindo a musculatura do governo”. Malgrado o que, em plena fase de tumulto no relacionamento com o Congresso, ela tornou público que se oporá duramente a proposta de limitações ao uso de MPs que está sendo encaminhada no Senado, por iniciativa de Aécio Neves e com apoio da liderança do PMDB. Limitações defendidas por sucessivos presidentes do Senado e da Câmara (menos pelo atual, que é o PT).
Outro fator de mudança do cenário político, na movimentada segunda quinzena de maio terminada ontem, foi o resultado da convenção nacional do PSDB. Que – preservando a unidade partidária com a reserva de espaço no comando da legenda para o grupo de José Serra – afirmou o papel de Aécio Neves como principal liderança dos tucanos e nome capaz de aglutinar o conjunto da oposição, além de atrair boa parte da atual base governista para uma competitiva candidatura presidencial em 2014. A partir não de mera contraposição ao Executivo mas da proposta de alternativas – econômicas, políticas e sociais – ao governo Dilma e ao petismo, que poderão ser testadas já nas eleições municipais do próximo ano.
Jarbas de Holanda é jornalista
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