CUSTO DE VIDA
Cidades como Montes Claros, Viçosa, Uberlândia e Lavras sofrem com reajustes de preços no ano, puxados por alimentos e combustíveis, que chegam a superar o índice da capital
Marta Vieira e Luiz Ribeiro
A população do interior de Minas Gerais sofre tanto ou mais que o consumidor de Belo Horizonte com a volta da inflação, principalmente a alta dos alimentos e dos combustíveis. Baixa concorrência no varejo, entre os supermercados e sacolões e as redes de eletroeletrônicos e a falta de um sistema eficiente de distribuição de bens e serviços, que muitas vezes percorrem longas distâncias até chegar à mesa do consumidor ou abastecer o carro, encarecem o custo de vida em municípios de diferentes regiões do estado. Com índices próprios de inflação, Viçosa, na Zona da Mata mineira, Lavras, no Sul de Minas, Montes Claros, no Norte, e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, são exemplos dos efeitos das novas pressões de preços desde janeiro, depois de fortes reajustes verificados no ano passado.
De janeiro a abril, os Índices de Preços ao Consumidor (IPCs) medidos nesses quatro municípios variaram de 3,06% em Uberlândia a 4,67% em Viçosa. Na capital mineira, a inflação apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, acumulou 4,47% no período. Independentemente das diferenças entre os índices, formados por metodologia de levantamento de preços também diferentes, é comum a preocupação quanto aos aumentos das despesas com as carnes, hortaliças e frutas, gasolina e álcool e os gastos com saúde e moradia.
Em Lavras, a inflação de abril, que atingiu 1,39%, surpreendeu os pesquisadores do Departamento de Economia da Ufla, representando o maior IPC já registrado pela universidade federal nos últimos quatro anos. Segundo o coordenador da pesquisa, Ricardo Pereira Reis, os alimentos e os preços dos serviços de manutenção da habitação foram os principais vilões da carestia no município de 91,3 mil habitantes. Além da produção local restrita de alimentos, característica também presente em Viçosa, falta concorrência entre as lojas num comércio concentrado em uma grande rede local e pequenos estabelecimentos distribuídos entre os bairros. “A gasolina vendida em Lavras é uma das mais caras do Sul de Minas”, afirma Ricardo Reis. O litro da gasolina era encontrado ao preço médio de R$ 2,89 até semana passada.
SERVIÇOS CAROS
Os aluguéis são mais um caso à parte dentro do grupo de serviços medido pelo IPC de Lavras, que subiu 2,71% de janeiro a abril e 5,62% nos últimos 12 meses até o mês analisado. Com o crescimento do número de cursos de graduação e pós-graduação na Ufla, há dois anos, a cidade tipicamente universitária enfrenta uma forte valorização universitária. Aluguéis de apartamentos de três quartos alcançam R$ 1 mil, ante antigos R$ 650.
Alimentos e combustíveis também formam uma dupla de tormenta da inflação medida em Montes Claros pela universidade estadual Unimontes. Os preços da alimentação consomem mais de 35% do orçamento das famílias, turbinados por um amargo passeio da produção local até o entreposto da Ceasa Minas, em Contagem, na Grande BH, onde os produtos são vendidos aos distribuidores para, então, retornarem ao comércio do município do Norte de Minas. Carne de boi, que já encareceu 18% neste ano, portanto mais de cinco vezes acima do IPC de 3,58% apurado de janeiro a abril, puxou a fila do aumento dos alimentos, segundo a economista Vânia Silva Villas Boas, coordenadora do IPC.
No supermercado, as reclamações são cada vez mais frequentes. A dona de casa Célia dos Reis Silva, de 49 anos, reclama, em especial, dos reajustes do açúcar, do arroz e da carne. “Retiramos a carne da mesa. Tudo aumentou e de forma abusiva”, desabafa. O recuo da inflação ainda pode demorar, de acordo com Vânia Villa Boas. “Estamos torcendo para que as chuvas cheguem mais cedo e amenizem a tradicional alta das carnes nos próximos meses, com a entressafra. Os combustíveis também não dão o sinal de queda esperado”, observa.
O cinturão de fornecedores e grandes atacadistas instalados no Triângulo favorece o consumidor em Uberlândia, de acordo com o economista Carlos José Diniz, coordenador do IPC local. Os preços dos serviços, entretanto, assustaram, ao pressionar a inflação de 3,06% medida neste ano. “A inflação de abril (de 1,07%) foi a maior dos últimos dois anos. Agora, esperamos que o IPC comece a ceder”, afirma.
IPC-S DESACELERA
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) perdeu força, segundo dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice registrou alta de preços de 0,51% na quadrissemana encerrada terça-feira, uma taxa bem menor que a apurada no IPC-S até 30 de abril, quando houve aumento de 0,95%. O resultado também foi menor que o apurado pelo IPC-S imediatamente anterior, referente à quadrissemana finalizada em 22 de maio, quando o indicador subiu 0,96%. A taxa ficou dentro das estimativas dos analistas do mercado financeiro, que esperavam inflação entre 0,49% e 0,85%. Segundo a FGV, essa foi a menor taxa para o indicador desde a quarta semana de fevereiro, quando o índice subiu 0,49%. Com o resultado anunciado ontem, o indicador acumula alta de 3,98% no ano e de 6,37% nos 12 meses encerrados.
DINHEIRO SEM VALOR
O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central decidiram que as notas manchadas de vermelho/rosa por dispositivo antifurto (que tinge o dinheiro em caso de explosão) de caixas eletrônicos não terão mais validade. O portador da nota não terá direito a ressarcimento e, caso o dinheiro seja proveniente de furto, a pessoa pode ser investigada. A recomendação é que ninguém aceite notas manchadas pelo dispositivo. Em caso de defeito, o cliente que retirar uma nota manchada do caixa eletrônico deve entregá-la à gerência. Se o saque ocorrer fora do horário bancário, o cliente deve retirar um extrato em seguida, para comprovar o saque feito naquele momento, e registrar um boletim de ocorrência (BO) em uma delegacia. As notas, o extrato e o BO deverão ser apresentados ao banco, para ressarcimento, após análise das notas.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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