domingo, 26 de junho de 2011

Eike dá R$ 139 mi para projetos de Cabral

Empresário banca programas usados como vitrine eleitoral no Rio; deputado aponta conflito ético em doações

Estado diz não favorecer grupo EBX e se recusa a informar se Cabral usou jatinho do bilionário em outras viagens de lazer

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Além de bancar gastos de campanha do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o empresário Eike Batista assumiu o papel de patrocinador de programas usados como vitrine eleitoral do Estado.

Nos últimos três anos, ele anunciou doações de R$ 139 milhões a projetos de interesse do peemedebista, do policiamento de favelas à despoluição de cartões-postais.

A oposição aponta conflito de interesses na relação entre o governador e o bilionário, que emprestou um jatinho para Cabral fazer uma viagem de lazer ao litoral da Bahia no último fim de semana.

O dono do grupo EBX recebeu R$ 75 milhões em isenções fiscais na gestão do peemedebista. Os dois dizem ser amigos e afirmam que os laços pessoais não beneficiam as empresas em negócios com o governo fluminense.

O maior patrocínio de Eike é destinado às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora): R$ 80 milhões. O dinheiro será liberado em parcelas anuais de R$ 20 milhões até o fim do governo, em 2014.

O valor doado pelo bilionário supera os R$ 12,3 milhões que o Estado previa gastar com recursos próprios neste ano, segundo o projeto de Orçamento enviado à Assembleia Legislativa do Rio.

Os postos de policiamento em favelas foram o principal trunfo de Cabral em sua campanha à reeleição, em 2010.

Além do gasto em segurança, o empresário prometeu destinar outros R$ 13 milhões a ações sociais nas comunidades, incluindo a criação de um time de vôlei.

A candidatura do Rio a sede da Olimpíada de 2016 recebeu R$ 23 milhões. A assessoria do grupo EBX diz que a verba seguiu para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Mas foi Cabral quem recolheu dividendos políticos com a escolha da cidade, amplamente explorada em sua propaganda eleitoral.

A despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas, antiga promessa do governo do Rio, já ganhou R$ 15 milhões e deve obter mais R$ 3 milhões.

Outros R$ 5 milhões ajudarão a limpar a Marina da Glória, cuja concessão, outorgada pela Prefeitura do Rio, pertence ao bilionário.

No ano passado, Eike deu R$ 750 mil à campanha de Cabral e R$ 100 mil à do presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo (PMDB).

Na eleição anterior, repassou R$ 1 milhão à candidatura do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que é afilhado político do governador.

INVESTIGAÇÃO

A oposição, que reúne apenas 21 dos 70 deputados estaduais do Rio, quer investigar se Cabral beneficiou o grupo EBX com licenças ou vantagens indevidas.

Uma das suspeitas envolve o Porto do Açu, orçado em R$ 3,4 bilhões -o Ministério Público Federal processa o Estado para tentar anular a licença do empreendimento.

"Cabral e Eike têm uma relação nebulosa, em que o público se mistura muito com o privado", acusa o deputado Marcelo Freixo (PSOL).

A assessoria de Cabral disse à Folha que ele "separa o exercício da função pública das atividades de sua vida privada". Mas se recusou a informar se ele fez outros voos no jatinho do amigo.

"As viagens particulares do governador são relacionadas à sua vida pessoal, de foro íntimo", respondeu a assessoria, em nota oficial.

A EBX disse que os benefícios que recebeu seriam dados "a qualquer outra empresa". Sobre o empréstimo do avião a Cabral, Eike afirmou: "Sou livre para selecionar minhas amizades. (...) Faço tudo com dinheiro do meu bolso e me orgulho disso".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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