Filiação do ex-presidente do Banco Central ao PSD de São Paulo, conforme antecipou o Correio, surpreende PT e PSDB e pode provocar reviravolta na eleição à prefeitura paulistana. Cartada que pegou caciques como Lula e Serra no contrapé evidencia habilidade de Kassab como articulador político.
O nó que Kassab deu em Lula e Temer
Filiação de Henrique Meirelles ao PSD em São Paulo pega legendas adversárias no contrapé, isola o PMDB, e pressiona PT e PSDB a definirem candidatos
Denise Rothenburg
Antecipada ontem pelo Correio, a filiação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao PSD de São Paulo provocou um nó no PT e no PMDB e surpreendeu os tucanos. Todos agora se preparam para reajustar os movimentos, já que o economista faz sombra como pré-candidato a prefeito da maior cidade do país. Na tarde de sexta-feira, o PT acelerava o passo no sentido de tentar evitar uma prévia entre os vários pretendentes. Ao mesmo tempo, Meirelles chegava ao cartório da 1ª Zona Eleitoral paulistana para formalizar a transferência do domicílio de Goiás para São Paulo e pegar o novo título. No PMDB, a ideia é reforçar a busca de aliados para não deixar partidos pequenos expostos ao assédio de Gilberto Kassab — hoje mais respeitado como articulador político hábil e interessadíssimo em conquistar tempo de tevê para seu partido na sucessão paulista. O PSDB avalia o novo quadro.
O que tornou Gilberto Kassab um articulador dos bons aos olhos de adversários e aliados foi o silêncio com que agiu nos últimos dias. A estratégia evitou o vazamento de informações sobre os movimentos políticos do prefeito até aos caciques do PSD. Os petistas, também surpreendidos, não tiveram tempo de acionar Lula para tentar abortar a operação. "O Meirelles será um candidato forte, ajudou muito o nosso governo, tem competência. Se for mesmo candidato, é da democracia. Mas o Haddad é daqui de São Paulo e tem história. Se conseguirmos evitar a prévia será melhor", afirma o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Ontem, a barca de Haddad ganhou como integrante outro parlamentar, Arlindo Chinaglia (PT-SP), do Movimento PT.
Dentro do PMDB, a informação chegou à cúpula na quinta-feira apenas porque o presidente do PMDB de Anápolis, Air Ganzarolli, estava almoçando com a deputada Íris de Araújo (PMDB-GO), quando o advogado de Henrique Meirelles telefonou pedindo a assinatura na ficha de desfiliação. Mas, em São Paulo, não houve o cuidado sequer de avisar os partidários do deputado Gabriel Chalita. O pré-candidato peemedebista tinha Meirelles no figurino de colaborador do programa de governo para 2012. Agora, o economista vestiu o de potencial adversário pela prefeitura.
Contra-ataque
No PSDB, José Serra, amigo de Kassab, também foi surpreendido. "Meirelles tem o título em São Paulo?!", reagiu ele, em notícias postadas na internet no mesmo momento em que Meirelles saía do cartório. A aposta de muitos tucanos é a de que, a partir de agora, haverá uma pressão para que Serra seja candidato de forma a ajudar a neutralizar o jogo de Kassab. Mas o ex-governador não quer disputar a prefeitura e há um grupo considerável no partido que acha mais natural a legenda investir na renovação e nas prévias. A avaliação é de que isso movimentaria o PSDB paulistano a apresentar novidades capazes de competir com outros novos, como Henrique Meirelles e Fernando Haddad.
Um dos trunfos do ex-presidente do Banco Central é ter sido tão ministro do governo Lula quanto Haddad. Há farto material gravado de Lula com elogios a ele. Pelas qualidades e a simpatia que nutre no mercado financeiro, o PSD comemorou a filiação. O contato inicial entre Kassab e Meirelles se deu há dois meses, quando, antes do convite formal para filiação ao PSD, o prefeito reeditou o movimento Viva o Centro de São Paulo, do qual o neo-pessedista havia sido cofundador há 20 anos. As honrarias foram tantas que Meirelles e Kassab marcaram novas conversas. O convite oficial, com vista inclusive à prefeitura, foi formalizado há 15 dias. O ex-presidente do BC ficou de pensar e deu a resposta na quinta-feira, colocando os advogados numa maratona a fim de cumprir o prazo legal para filiação e transferência.
Meirelles é gato escaldado. Nômade político, ingressou em 2001 no PSDB, com a perspectiva de se tornar candidato ao Senado ou ao governo estadual. Terminou eleito deputado federal. Não chegou a assumir o posto, desfiliando-se do partido para tomar posse no BC. Em 2009, ingressou no PMDB pronto para ser vice na chapa de Dilma Rousseff ou candidato a governador. Não conseguiu nem uma coisa nem outra.
Quando a presidente montou a sua equipe, o PMDB nem sequer colocou o nome de Meirelles entre os ministeriáveis. A cúpula peemedebista, aliás, nunca o tratou como um dos seus. Kassab, entretanto, tenta dar a certeza de que no PSD tudo será diferente: "Uma pessoa como Meirelles não chega para ficar no banco", comenta o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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