Apesar dos sinais de desaquecimento da economia brasileira, os preços continuaram subindo em setembro (0,53%) e o IPCA acumulado em 12 meses bateu em 7,3% -maior marca desde maio de 2005, quando atingiu o valor de 8,05%. O índice contrariou as expectativas do BC, que no início do ano previa que a inflação em 12 meses teria um pico em agosto e começaria a recuar em setembro.
Inflação volta a subir e realimenta dúvidas sobre Banco Central
Preços medidos pelo IPCA sobem 7,31% em 12 meses, taxa mais elevada verificada pelo IBGE em seis anos
Aposta do BC é que a crise externa ajudará a esfriar economia e reaproximar a inflação da meta do governo
Leila Coimbra, Denise Menchen e Mariana Schreiber
RIO/SÃO PAULO - Os preços continuaram subindo com força em setembro, realimentando dúvidas dos economistas sobre a estratégia adotada pelo Banco Central para controlar a inflação e mantê-la dentro da meta estabelecida pelo governo.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), principal índice de preços do país, subiu 0,53% em setembro, segundo o IBGE. A variação foi maior do que a registrada em agosto, 0,37%.
Nos 12 meses até setembro, a inflação acumulou alta de 7,31%, maior taxa observada pelo IBGE desde maio de 2005, quando o índice acumulou 8,05% em 12 meses.
A aceleração da alta de preços contrariou as expectativas do BC, que no começo do ano imaginava que ela atingiria um pico em agosto e começaria a ceder em setembro. Agora o BC diz que esse processo só terá início neste mês.
Faltando menos de três meses para acabar o ano, economistas acham que será muito difícil para o BC cumprir a meta fixada pelo governo para este ano, de 4,5%, com tolerância até 6,5%.
Apesar da aceleração dos preços, o BC começou em agosto a baixar a taxa básica de juros da economia, o principal instrumento de que dispõe para controlar a inflação.
A instituição aposta que os efeitos da crise global, que contribuirão para esfriar a economia brasileira neste ano, ajudarão a segurar a inflação sem a necessidade de taxas de juros mais elevadas.
O professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira acha que o BC foi muito otimista ao calcular os efeitos do agravamento da crise externa. "O cenário é de inflação generalizada", afirmou.
Embora a indústria tenha perdido fôlego, o mercado de trabalho continua muito aquecido no Brasil, observa a economista Tatiana Teixeira, do banco Santander. Isso reforça a demanda por serviços como transporte aéreo, o que realimenta a inflação.
As passagens aéreas subiram 23,4% em setembro. Segundo o IBGE, a alta foi influenciada especialmente pelo Rock in Rio, o festival de música que atraiu cerca de 100 mil pessoas por noite.
Também pressionaram a inflação preços de alimentos, vestuário e combustíveis. Mesmo quando efeitos passageiros como os do Rock in Rio são excluídos da conta, a inflação continua em patamares elevados, nota o economista Thiago Curado, da consultoria Tendências.
A expectativa dos economistas é que a inflação acumulada em 12 meses recuará a partir de outubro, mas em ritmo mais lento do que o BC espera, continuando acima do centro da meta em 2012.
Mesmo assim, o mercado espera que o BC continuará reduzindo os juros para evitar que a economia esfrie demais. As apostas se dividem entre um novo corte de 0,5 ponto percentual ou de 0,75 ponto em outubro.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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