A revelação, no portal UOL da manhã de ontem, de um negócio imobiliário do ministro Orlando Silva – a compra de grande lote de terreno num condomínio em Campinas, por onde passam dutos da Petrobras, ligada a possível uso de informação privilegiada da estatal sobre desapropriação que valorizaria muito a área – somou-se a sucessivas denúncias da imprensa sobre graves irregularidades no programa Terceiro Tempo, do ministério do Esporte.
Que ganharam ampla dimensão com acusações diretas ao titular da pasta, Orlando Silva, do PC do B, de participação pessoal nelas, feitas em entrevistas à Veja desta semana (e na sequência aos demais grandes veículos da mídia) por pessoas que eram ligadas a ele e ao seu partido e tinham papel importante no desvio de recursos do referido programa. Tais acusações, como prometem seus autores, serão “comprovadas” em depoimentos a autoridades policiais e ao Ministério Público. E deverão ser detalhadas pelos denunciantes no Congresso Nacional.
Cumprindo determinação da presidente Dilma Rousseff, Orlando Silva interrompeu estada no México (onde acompanhava os jogos Pan-Americanos) para defender-se das acusações – na Casa Civil, em veementes e agressivas declarações à imprensa e em visitas “voluntárias” à Câmara e ao Senado, promovidas por parte da bancada governista para evitar convocações impositivas e a constituição de uma CPI. Mas a enxurrada das denúncias provavelmente deverá levar a presidente a demiti-lo.
Independentemente disso, tais denúncias põem finalmente em xeque uma gravíssima distorção consagrada no final do primeiro governo Lula (com início, na área de esportes, pelo então ministro Agnelo Queiroz) e mantida no atual: o desvio de vultosos recursos federais para ONGs como as do Terceiro Tempo aparelhadas pelo PC do B e, certamente, numa escala bem mais ampla para as vinculadas a petistas. Distorção assim resumida num trecho do editorial do Estadão, de ontem, intitulado “O ministro tem de sair”: “Para embolso pessoal ou caixa 2 de partidos, desvios de recursos de convênios entre a administração pública e ONGs de fachada – não raro constituídas para esse fim em endereços fictícios, em nome de laranjas – são talvez o maior dos ralos por onde escorre o dinheiro dos contribuintes”.
Oposição. Ou projeta nova referência ou se esvazia na luta interna
A três anos ainda da próxima disputa presidencial, nem para o campo situacionista, nem para o oposicionista é hora de fechar definições sobre candidaturas ao comando do Palácio do Planalto. Há, porém, em relação a isso, diferenças básicas entre os dois polos. O primeiro – que bem antes terá de escolher a proposta da reeleição de Dilma Rousseff ou a da volta de Lula – se assenta numa ampla base de apoio partidário garantido pelo controle da máquina federal que, combinado com a persistência de altos índices de aprovação popular da presidente e do antecessor, propicia-lhe reter a iniciativa política, inclusive para dividir e paralisar o polo adversário. Enquanto o segundo, ou conseguirá aparecer perante a sociedade com as alternativas de um discurso crítico e reformista e de uma liderança referencial, (que constitua um agente aglutinador da oposição e capaz de capitalizar contradições e fraturas na heterogênea base governista), ou será progressivamente diluído e esvaziado, sobretudo a partir do pleito municipal de 2012.
Teve o sentido de projeção dessas alternativas o destaque conferido pela executiva nacional do PSDB (em seu programa de rádio e TV recentemente difundido) ao senador Aécio Neves. Destaque articulado com o resgate do legado econômico e social do ex-presidente FHC e com o cuidado de incluir a participação do ex-candidato presidencial do partido, José Serra. Sentido esse já antecipado numa entrevista do próprio Aécio (ao Estado de S. Paulo, no início deste mês), em que ele colocou-se à disposição de sua legenda e das demais forças oposicionistas para a disputa da presidência da República em 2014 “seja com Dilma, seja com Lula”. O que fez frisando a ressalva de que a definição da candidatura só se dará em 2013, reiterando postura de apoio à realização de prévias e com a explicitação de outros possíveis pré candidatos, entre os quais Serra.
Será, certamente, com o uso da principal e aglutinadora liderança oposicionista, Aécio, para a oferta à população e às diversas forças políticas de outra opção de poder federal, e não através de uma luta interna entre lideranças do PSDB (em boa parte superada com os resultados da recente convenção partidária) que o lulo-petismo – “já no nono ano de governo”, como afirmou o senador mineiro na referida entrevista - poderá ter de enfrentar contraposição político-eleitoral competitiva em 2014.
Jarbas de Holanda é jornalista
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