quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Além da tapioca:: Ricardo Melo

Quando esta coluna chegar até você, leitor, não imagino por onde andará o ministro Orlando Silva. Se ainda estará no cargo ou se já terá virado mais um dos defenestrados do governo Dilma.

Tampouco sei se Orlando Silva levou dinheiro para casa ou apenas fez os desvios costumeiros em "nome do partido". É fato, no entanto, que se tornou comum na administração petista utilizar ONGs como fachada para descalabros. O expediente, retratado à exaustão pela imprensa, serviu e serve a ministros das mais diversas origens e tintas ideológicas.

O Partido Comunista do Brasil segue a regra. Por trás do rótulo de esquerda, o PC do B, vamos combinar, nunca quis mudar coisa nenhuma. Dissidência do velho PC stalinista, manteve a mesma essência da matriz, qual seja: usar um discurso "popular" para reforçar a barganha do aparelho partidário na negociação com o poder estabelecido.

O grupo fez isso ao longo da história; fez e faz isso na UNE; não é de estranhar o que faz no ministério.

Olhando para além do imediato, o grande prejuízo de toda essa história não é propriamente financeiro -embora os malfeitos, para usar a palavra da moda, com dinheiro público sejam indesculpáveis, independentemente do montante. Tanto faz se o numerário alheio custeou uma tapioca, uma uma suíte de hotel ou se encheu o bolso da burocracia partidária.

O mal maior é político e ideológico. Toda vez que uma legenda supostamente popular é pilhada com a mão no Tesouro, esparrama-se uma nova leva de desencanto. Queira-se ou não, ainda há muita gente iludida com a conversa dessas organizações. O custo disso não se mede em reais.

Siglas como o PCB, PC do B, MR8 e seus semelhantes nacionais e internacionais sempre terão sua parcela de culpa na onda de desesperança generalizada. A culpa de falar em nome do povo, mas agir contra ele. E o PT, no qual se viam chances de oxigenar esse cenário, só faz provar sua acomodação ao papel de conivente

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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