Cargo esvaziado, como antecessor
Chico de Gois
BRASÍLIA. Em junho, a presidente Dilma Rousseff, pressionada pelo Congresso, trocou Luiz Sérgio e Ideli Salvatti de lugar: o deputado licenciado assumiu o Ministério da Pesca e Aquicultura, e a ex-senadora ganhou a vaga do colega na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). A grita geral era que Luiz Sérgio se transformara num "garçom", aquele que só anotava pedidos dos deputados e senadores por cargos. O dono da cozinha era o todo poderoso Antonio Palocci, da Casa Civil. Agora, a situação volta a se repetir, com outros personagens.
Passados cinco meses da mudança, Ideli realmente demonstra que trocou de vaga com Luiz Sérgio: é ela quem anota pedidos dos deputados por cargos no segundo e terceiro escalões, corre atrás do pagamento de emendas, recebe prefeitos - sobretudo os de Santa Catarina, sua base eleitoral. Mas, quando o assunto é no primeiro escalão, como as trocas de ministros, quem entra em cena, a pedido de Dilma, é Gilberto Carvalho, petista histórico e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.
Na mais recente confusão, no Ministério do Esporte, toda a negociação foi conduzida por Carvalho. Foi ele quem conversou com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, chamou o então ministro Orlando Silva, recebeu líderes dos comunistas na Câmara e no Senado e informou Dilma das idas e vindas. Mesmo antes do anúncio de Aldo Rebelo para substituir Orlando, quem estava reunido com a presidente era o secretário-geral, enquanto Ideli tinha despachos internos.
Carvalho acalmou o PR quando Dilma afastou a cúpula do Ministério dos Transportes. Ideli entrou na turma dos bombeiros, tentando debelar o fogo. Na substituição de Wagner Rossi, da Agricultura, Carvalho também participou. Mas, como a pasta é feudo do PMDB, as maiores negociações foram com o vice-presidente Michel Temer.
Carvalho é a voz pública do Planalto nos casos em que ministros são acusados de malversação de verbas. É praticamente o único palaciano que dá entrevista e informações sobre como o governo está vendo o caso. Ideli evita entrevistas.
Carvalho minimiza:
- Quem cuida, e muito bem, das questões políticas do governo é a Ideli. Eu só atuo em questões pontuais, e cumprindo tarefas designadas pela presidente - diz. - Nós três (Gilberto, Ideli e Gleisi) somos um time afiado.
Ideli tem se dedicado cada vez mais a atender o baixo clero do Congresso e a ouvir queixas de que o Planalto não libera verbas. É obrigada a ouvir ameaças de que parlamentares não votarão a Desvinculação de Receitas da União (DRU) ou farão corpo mole e não aprovarão projetos de interesse do governo. Cumpre agenda diária de cerca de 12 horas. Mas nem sempre consegue ver pedidos de sua clientela atendidos.
Um auxiliar da ministra observa que, sempre que Dilma viaja, quando telefona do exterior sempre pede para falar com os três - além de Ideli e Gilberto, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que fez voto de silêncio.
O silêncio imposto à tríade é ordem de Dilma, que não gosta que seus ministros deem entrevistas. Carvalho, quando fala, o faz sob procuração de Dilma e não vai além do que ela quer.
Líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP) diz não haver choque entre Ideli e Carvalho:
- Vejo entrosamento. A Ideli tem desenvolvido um bom trabalho com o Congresso, e o Gilberto cumpre papel importante a mando da presidente.
FONTE: O GLOBO
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