Cobrada por Aloysio Nunes Ferreira, cúpula do PSDB busca superar crise interna e definir agenda para eleição
Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti
BRASÍLIA. Em meio às críticas do senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), que expôs a crise interna do PSDB no Twitter, semana passada, afirmando que há paralisia no partido, a cúpula tucana se prepara para tentar mostrar ao país que não está parada. Além de reuniões quinzenais para debater a nova estratégia de comunicação do partido - considerada um dos pontos fracos da legenda, de acordo com o resultado da pesquisa encomendada ao cientista político Antonio Lavareda -, o PSDB realiza amanhã um seminário com o tema "A nova agenda: desafios e oportunidades para o Brasil", a partir do qual espera definir as bandeiras a serem defendidas nas próximas eleições.
- Nosso foco será analisar o legado deixado pelo partido e discutir o futuro, mostrando que a agenda econômica e até social que está sendo executada no país ainda é a do PSDB, que começou com o Plano Real, seguiu com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, com o Proer (Programa de Reestruturação do Sistema Financeiro) e possibilitou o início de uma série de programas sociais como o Bolsa Escola, embrião do Bolsa Família - adianta o senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos idealizadores do seminário juntamente com o presidente do Instituto Teotônio Vilela, o ex-senador Tasso Jereissati.
Mas há uma inquietação no PSDB que vai além do debate. No campo político-eleitoral, uma parte do tucanato pretende aumentar a pressão sobre Aécio Neves para que ele assuma abertamente sua condição de pré-candidato à sucessão presidencial de 2014, ainda que isso reforce mais as divergências internas. Isso porque o ex-governador José Serra também é apontado como uma opção para o mesmo cargo.
Nome de Eduardo Campos também causa temor
Avaliação interna feita pelos tucanos, os "aecistas" em especial, indica que o partido precisa pôr logo seu candidato na vitrine, para marcar posição em relação aos principais assuntos em discussão no país.
- É preciso que o Aécio passe para a opinião pública que não é apenas uma expectativa, mas uma realidade. Ele precisa dar o roteiro que o partido deve seguir - cobra um experiente tucano, inconformado com a postura comedida do mineiro, mas que prefere o anonimato diante do clima de tensão no partido.
Da mesma forma, aliados de Serra também evitam expor suas opiniões. Um deles, lembrando os votos conquistados por Serra nas últimas eleições, critica indiretamente o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), considerado um aliado de Aécio:
- Temos um conflito interno insanável, porque a direção do partido não busca a unidade interna, mas a hegemonia. Está se deixando de fora um projeto que tem liderança popular e voto.
O temor hoje na oposição é que Aécio perca espaço no cenário político nacional, não para a presidente Dilma Rousseff, a concorrente natural, mas para um novo nome da base governista: o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, que trabalha para ser vice na chapa petista ou mesmo candidato próprio à sucessão presidencial numa aliança com o PSD de Gilberto Kassab.
Alguns apostam, no entanto, que o governador pernambucano terá dificuldades para tirar o PMDB da chapa de Dilma, o que poderia empurrá-lo para os braços da oposição. Aécio, que já se declarou candidato, minimiza as preocupações que rondam seus aliados:
- A política é a arte de administrar o tempo. Nós não temos de nos preocupar com o outro campo. Até porque na oposição ainda não surgiu uma outra alternativa que expresse o inconformismo e o cansaço com a gestão petista.
De qualquer forma, Aécio deve reforçar sua agenda de viagens pelo país. Na próxima semana, estará no Rio Grande do Sul, e na seguinte, na Bahia. Aécio participa ativamente da reestruturação do PSDB, abrindo a legenda para o engajamento de parte do movimento sindical que não foi cooptado pelo governo, e ampliando espaço para a juventude tucana.
- Tenho demanda para ir a todos os estados. Mas nossa prioridade neste momento é reestruturar o partido. Temos de mostrar que o PSDB é uma legenda que pensa o país, ao contrário do PT - afirma Aécio.
FONTE: O GLOBO
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