Em 2011, 87% dos deputados de siglas que têm ministérios votaram a favor do governo, contra 92% em 2003 e 88% em 95
Em coalizão ampla e heterogênea, disputa por espaço e divergências levaram a indisciplina, afirmam analistas
Paulo Gama
SÃO PAULO - A base de sustentação da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados foi menos fiel ao governo em seu primeiro ano de mandato do que a de seus antecessores, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
A taxa de disciplina dos deputados dos sete partidos que têm ministérios no governo Dilma atingiu 87%. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, esse índice chegou a 92%. Em 1995, na estreia de FHC, a taxa foi de 88%.
Dilma chegou ao final de 2011 enfrentando oposição de apenas 4 das 23 legendas com representantes na Câmara.
Para Fabiano Santos, coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Congresso da Uerj, com tantos aliados é natural que apareçam focos de tensão na base do governo.
Além da disputa por espaço político, que pode se manifestar em indisciplina nas votações, a heterogeneidade dos aliados acarreta divergências em torno das políticas discutidas, afirma.
Rubens Figueiredo, cientista político pela USP, diz que a disciplina menor também pode ser reflexo da falta de traquejo de Dilma na relação com o Congresso. "A articulação política não está entre seus principais atributos."
Aliados do governo queixaram-se o ano inteiro de que suas indicações para cargos demoraram a ser atendidas. Preocupado com a necessidade de conter seus gastos, o governo também demorou para liberar recursos para projetos financiados por emendas dos parlamentares.
Os infiéis
PDT e PR foram os partidos governistas menos fiéis. A indisciplina das duas siglas foi de pouco mais de 20%, maior que a de legendas sem cargos no primeiro escalão. Os deputados do PT seguiram o governo em 95% dos votos, e os do PMDB, em 88%.
O PR mudou seu comportamento em relação ao governo após a substituição de Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, em julho. Dilma escolheu para seu lugar Paulo Passos, que, apesar de filiado à legenda, não agradou a bancada do partido, que se declarou independente. Sua taxa de disciplina caiu de 90% para 70%.
Já o PDT, segundo partido menos fiel, foi instável durante o ano todo. Para Santos, a posição foi uma forma de o PDT, que tem uma base eleitoral trabalhista, se contrapor ao Planalto em um ano em que o governo foi obrigado a fazer ajustes fiscais.
Em fevereiro, quando a Câmara votou um projeto que aumentava o valor do salário mínimo, 10 dos 26 deputados do PDT votaram contra a proposta defendida pelo Palácio do Planalto. A taxa de indisciplina, de 40%, foi a maior entre os partidos aliados.
Mesmo com a infidelidade mais alta, o governo teve sucesso em discussões importantes -apesar de ter deixado de lado projetos como uma reforma tributária ampla. Sua maior derrota foi no Código Florestal, em emenda que previa anistia a desmates.
Ainda que com concessões, aprovou o projeto que regulamenta os gastos com saúde pública definidos pela Emenda 29, a DRU -que lhe permite gastar como quiser parte do Orçamento- e um novo regime de licitações para acelerar obras da Copa.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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