Quando criada, em 1999, a CPI do Judiciário foi recebida sob grande expectativa. Depois de escancarados os esquemas do Legislativo e do Executivo e vencida a prova de fogo do impeachment de um presidente, chegava a hora de abrir a "última caixa-preta".
A CPI descobriu desvios milionários no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, o senador Luiz Estêvão foi o primeiro cassado já no regime democrático e o juiz que se imortalizou como "Lalau" foi condenado e preso. Mas foi um caso pontual. A caixa-preta ficou praticamente intocada, acima do bem e do mal.
Está sendo aberta só agora e, ao contrário do que ocorre no Legislativo e no Executivo, não são a Polícia Federal, o Ministério Público e a imprensa que se destacam na missão. São os próprios magistrados que, movidos ou por princípios ou por corporativismo, estão fazendo o enorme favor à sociedade brasileira de se acusarem mutuamente -com inestimável ajuda de advogados e de entidades representativas.
E tudo, diga-se, graças ao Conselho Nacional de Justiça. Dizem que "Deus escreve por linhas tortas". Pois o CNJ está quebrando a caixa-preta do Judiciário também por vias indiretas. Bastou existir, começar a tentar botar ordem na bagunça e exigir um mínimo de transparência para que todos passassem a acusar todos e algumas verdades secretíssimas viessem à tona.
O Judiciário, assim, está sendo aberto a marretadas. A de ontem foi da valente ministra Eliana Calmon, do CNJ, que divulgou relatório do Coaf (órgão de inteligência financeira da Fazenda) comprovando que, ora, ora, juízes, desembargadores e servidores do Judiciário movimentaram R$ 855 milhões de 2000 a 2010 em operações "atípicas" -não necessariamente ilegais, mas muito, muito, muito esquisitas.
Tudo isso é resultado da guerra mais do que saudável entre juízes. Digladiem-se, Meritíssimos! O país, a verdade e a moralidade agradecem.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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