Planalto se faz de morto até o momento em que pode entrar num conflito, para denunciar o governo do PSDB
O comissariado do Planalto e o tucanato paulista estão namorando uma campanha sangrenta na disputa pela prefeitura.
Pelo lado do PSDB, isso ficou visível quando associou uma administração petista ao surgimento do crack na cidade e com a opção preferencial pela tropa de choque que o governo do Estado mobilizou para espalhar os viciados da Cracolândia e para desalojar os 6.000 invasores da fazenda Pinheirinho.
Pode-se achar que essas iniciativas foram desastradas, mas estavam entre as suas atribuições. Pelo lado dos comissários, a questão parece ser outra.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência classificou de "absolutamente afrontante" a ação policial da Cracolândia e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou um programa federal de combate à droga, em primoroso promissório.
A ideia de o governo federal funcionar como ombudsman é rudimentar. Ou Brasília tem responsabilidade na Cracolândia (e não a tem), ou consumiu nove anos para mostrar a que veio. Entrar como papagaio de crise é outra coisa.
Exatamente isso foi o que Brasília fez no caso de Pinheirinho. Podia ter entrado no caso desde 2004. Ao longo de sete anos, limitou-se a constatar que a prefeitura não estava fazendo sua parte. Falar ao público, ir a Pinheirinho, nada.
Durante quatro meses o tucanato planejou (mal) a operação militar que mobilizou 1.600 soldados. Brasília tinha todos os motivos para saber que a ordem judicial seria cumprida pela Polícia Militar. Poderia ao menos tocar um sinal de alerta.
Só em janeiro, quando a panela já estava no fogo, o Ministério das Cidades apresentou uma vaga intenção de colaborar para o fim do impasse. Depois que apareceram as retroescavadoras e a PM, o comissariado correu para o abraço, criticando o governo de São Paulo.
Primeiro o ministro Gilberto Carvalho ("praça de guerra"), depois, a própria presidente ("barbárie"), finalmente, a Secretaria de Direitos Humanos, que constituiu uma força-tarefa com a Defensoria Pública do Distrito Federal. O que faltou foi precisamente uma força-tarefa federal para evitar o episódio.
A qualquer momento a doutora Dilma ou o ministro Gilberto Carvalho e o Ministério das Cidades poderiam ter alertado a patuleia, mostrando que estavam preocupados com Pinheirinho. Se tivessem gasto assim a décima parte da energia política que consumiram denunciando o impasse, ele não se consumaria.
Quem viu a cenografia da despedida do ministro Fernando Haddad a caminho de sua candidatura a prefeito de São Paulo percebeu que aquilo era uma solenidade para vídeos eleitorais. As papagaiadas de crises também podem sê-lo.
GERÊNCIA
A doutora Dilma é uma grande gerente. Atendendo a ideias de computecas persuadidos por fornecedores, seu governo licitou a torrefação de até R$ 330 milhões num projeto de compra de até 900 mil tablets para escolas públicas.
Desde 2009 o MEC já distribuiu 150 mil laptops para 386 escolas. Até agora, só conseguiu saber o efeito da iniciativa em 52 colégios. Ademais, não existe projeto pedagógico para acompanhar as tabuletas.
É algo como comprar um carro sem saber dirigir.
ESTAVA PREVISTO
A radioterapia a que Lula se submete tirou-lhe quatro quilos em pouco mais de uma semana.
CHINESES
Fala-se muito da ascensão da classe D aos padrões de consumo da classe C, mas o andar de cima de Pindorama atingiu os padrões de despesa dos bilionários chineses.
Um carioca resolveu passar cinco dias num bom hotel de praia no Nordeste. Pagou US$ 1.100 pela passagem e US$ 5.800 por noite no apartamento, sem café da manhã.
Outro, de Miami, resolveu passar cinco dias em Washington. Pagou US$ 500 pela passagem e US$ 320 por noite num hotel a um quarteirão da Casa Branca, com café.
O carioca de Miami marcou uma consulta (sem qualquer recomendação), com o renomado neurocirurgião Barth Green, entrou no hospital às sete da manhã, passou por uma ressonância magnética, fez oito chapas de raio X, foi examinado por três assistentes e teve uma consulta de uma hora com o médico.
Na saída, quitou a conta e trouxe o recibo para emoldurá-lo: pagou US$ 320, ou R$ 545.
GRANDE PERGUNTA
O Supremo Tribunal Federal discutia a prerrogativa dos magistrados de serem julgados em sigilo e o ministro Luiz Fux defendia o privilégio quando o ministro Carlos Ayres Britto perguntou:
"Vossa Excelência acha que fica bem um cidadão ser absolvido em sigilo?"
CÔNSUL AMERICANO
O cônsul dos EUA no Rio, Dennis Hearne, escreveu que o signatário "fez referência a um tempo de espera de 105 dias para os que solicitam pela primeira vez agendamento para entrevista de vistos no Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro. Esta informação pode confundir os brasileiros (...)".
O doutor ganha uma viagem a Pyongyang se achar onde apareceu essa referência. No dia 22 de janeiro, neste espaço, havia a seguinte afirmação: "Quando Obama esteve em Pindorama, a espera para entregar a papelada era de 134 dias em Brasília, 107 em São Paulo e 105 no Rio". Obama esteve no Brasil em março do ano passado e 105 dias era o tempo de espera para marcar a entrevista. Em agosto, a fila no no Rio chegou a 120 dias. (Na semana passada a demora estava em 17 dias.)
Nos últimos 100 anos, os Estados Unidos mandaram ao Brasil 23 embaixadores. Pela escala de proficiência linguística do serviço exterior americano, pode-se estimar que poucos, como o atual titular, Thomas Shannon, tenham chegado ao topo, no índice 5. Só uma meia dúzia era incapaz de entender o que lia.
(O signatário também ganhou uma viagem a Pyongyang, por ter escrito que os brasileiros gastam US$ 6.000 por dia nos EUA, quando essa cifra se referia à média das despesas dos viajantes.)
O SANTO NOME DA BIBLIOTECA NACIONAL
O PSDB tem todo o direito de protestar contra a resenha do livro "A Privataria Tucana" publicada pela "Revista de História", da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional. Terá também, todo o direito de ir à Justiça.
O presidente da sociedade achou que devia pedir desculpas e o fez com rapidez.
Não deveria ter retirado o texto, que estava no portal privado da revista. Poderia ter colocado dez outros, novos, rebatendo-o. A medida foi contraprodutiva, porque, não demora, e a resenha aparecerá em algum lugar da internet.
A revista "História" pertence a uma sociedade de direito privado e tem a maior parte de sua circulação subsidiada pela Viúva, que a distribui em escolas. Enquanto isso, desde 2008, a Biblioteca Nacional não publica seus notáveis "Anais", que começaram a circular no Império. Na internet, parou em 2001.
Tudo ficaria melhor se ela (ou qualquer outra instituição cultural pública) não permitisse que suas sociedades de amigos usassem o santo nome da Casa em iniciativas privadas.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário