domingo, 25 de março de 2012

A banda desafinada do governo:: Vinicius Torres Freire

Há banda para o câmbio? Meta de desvalorização? Governo desconversa, mas não fala de outra coisa

Um integrante do governo, economista, contesta a ideia, exposta nestas colunas no domingo retrasado, de que o ministro Guido Mantega insinuou no Congresso que o governo manteria o câmbio numa banda informal de R$ 1,70 e R$ 1,90.

"O governo Dilma Rousseff acha que o melhor regime é de câmbio flutuante", afirma o economista. Que também contesta o rumor de que o governo estaria satisfeito com o dólar a R$ 1,80.

"Na metade da década, tivemos dólar por volta de R$ 2,50, e já era um nível difícil. Ainda por cima houve inflação. Houve perda de competitividade por alta de custos e encarecimento em dólar do produto nacional", argumenta o economista integrante do governo.

Bem, isso a gente sabe. Inflação maior que a dos parceiros comerciais e real caro é um problema único de dupla face. Mas é o governo que até agora, pelo menos, tratava apenas do câmbio, e não da alta de custos.

De volta ao câmbio: se não há "banda informal", se R$ 1,80 é preço de dólar muito barato, se o governo gosta de câmbio flutuante e se inclui, como é óbvio fazê-lo, a inflação na medida da competitividade (ou da adequação do nível de câmbio), o que diabos o governo enfim está querendo fazer?

Para levar o dólar de volta ao preço do ano de 2009, digamos, o câmbio da moeda americana deveria estar em torno de uns R$ 2,20, numa conta de guardanapo. O governo tem meios de levar o câmbio para esse nível?

"O governo vai tomando as medidas possíveis para diminuir as distorções causadas pela conjuntura econômica internacional, de abundante liquidez." Ou seja, o economista do governo não quer entrar em detalhes.

Enfim, desvalorização cambial não é também um modo de achatar salários reais? "O efeito de uma desvalorização não é tão simples assim de medir, nem no curto prazo", desconversa um pouco o economista.

Em suma, a mensagem que o governo quer passar, sem maiores detalhes, é que "não vai deixar a indústria desamparada". No curto prazo, isso significa "inevitavelmente" (palavra do economista) reduzir custos e empecilhos: baixar impostos, baratear crédito, conter o câmbio o quanto for possível, com todos os instrumentos à disposição, de compra de reservas a impostos.

"É uma situação de emergência (as medidas pró-indústria), mas que pode afetar o ânimo de investir dos empresários. O investimento no ano passado não fraquejou só por causa da crise na Europa ou da desaceleração brasileira e do gasto do governo. Foi ainda falta de confiança no futuro da indústria", afirma o economista.

O governo voltou a falar muito de investimento. Parte dos economistas do governo fala até de "esgotamento provisório" do crescimento puxado pelo crédito ao consumidor. A conversa quase parece que vai dar na ideia de que é preciso, enfim, dar um tempo no crescimento liderado pelo consumo das famílias.

Isto é, contenção dos rendimentos das famílias e da expansão do crédito para pessoa física, menos transferências do governo, mais investimento do governo e, caso o consumo não caia muito, mais investimento estrangeiro.

É isso o que está na cabeça do governo? O governo desconversa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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