domingo, 25 de março de 2012

Líderes da base não acreditam em 'nova política de alianças'

Em encontro com Braga, Lula teria falado em mudanças no sistema que garante sustentação ao governo Dilma

João Domingos

BRASÍLIA - Lideranças da base de apoio ao governo não acreditam na "nova forma de fazer política" apregoada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro com o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), no último dia 16. Por essa "nova política", acabaria o toma lá dá cá que garante a aliança formada para sustentar o governo da presidente Dilma Rousseff. A coligação teria como princípio um programa de governo apoiado por todos os partidos da base aliada.

Há dúvidas até se Lula disse mesmo que o Brasil precisa da nova política de alianças. "Eu não ouvi isso do presidente Lula. Quem disse que ele falou isso foi o líder no Senado", afirmou o deputado André Vargas (PT-PR). Ele defende a política de alianças baseada na ocupação de espaços no governo. "PTB, PSC, PR e outras legendas ajudaram a eleger o governo Dilma. É legítimo que eles reivindiquem espaço."

Lembrado de que o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), tem afirmado que os partidos aliados que estiverem descontentes devem deixar a base do governo, Vargas criticou as declarações do colega. "Não concordo. Não é assim que se faz política."

Nos últimos dias a base aliada vive um momento de conflagração. Na semana passada impôs seguidas derrotas ao governo e impediu a votação da Lei Geral da Copa. Os partidos descontentes exigem a liberação das emendas parlamentares ao Orçamento e a nomeação de aliados políticos em cargos no governo.

Oposição. O deputado Luciano Castro (PR-RR) afirmou que ao pregar uma nova forma de fazer política, Lula "está se esquecendo dos oito anos de mandato, quando montou uma base forte, à base da ocupação de espaços dentro da administração pública". O PR de Castro se declarou oposição no Senado e na Câmara é "independente".

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse que só será possível pensar numa "nova prática política" quando existirem no País de três a quatro partidos unidos por ideologias. "Temos umas 30 legendas registradas. Nenhuma é grande o suficiente para governar sozinho."

O PT, maior legenda na Câmara, tem 85 deputados, ou 16,5% do total de 513. O PMDB tem 76 deputados, ou 14,8% do total. Somados, PT e PMDB formam uma bancada de pouco mais de 31% dos deputados, insuficiente para aprovar um simples projeto de lei ou medida provisória.

Para Lima, o exemplo do ex-presidente Fernando Collor de Mello deve ser lembrado por todos. "Collor quis fazer uma nova política, sem vínculos no Congresso. Deu no que deu." Ele teve o mandato cassado pelo Senado em 1992, depois de responder a um processo de impeachment.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Nenhum comentário: