Disposta a usar sua popularidade para enfrentar as pressões do Congresso, a presidente Dilma Rousseff apostará na comunicação com a classe média e com as camadas menos favorecidas para transferir a crise política para os parlamentares. Com a expectativa de melhorar na economia, Dilma pretende se amparar na “vida real”, com medidas de estímulo à produção. A estratégia é tirar o foco da crise e mostrar que o governo não está paralisado.
Dilma aposta na "vida real" contra crise
Após sequência de derrotas no Congresso, presidente espera melhora no cenário econômico para tirar governo da agenda negativa
Vera Rosa
BRASÍLIA - Disposta a usar sua popularidade como escudo para enfrentar as pressões do Congresso, a presidente Dilma Rousseff apostará na comunicação com a classe média e com as camadas menos favorecidas para jogar a crise política no colo dos parlamentares. Com a expectativa de melhora no cenário econômico, Dilma pretende se amparar no que chama de "vida real", com medidas de estímulo à produção, para sair da agenda negativa.
A estratégia da presidente, que retomou as entrevistas a veículos de comunicação, consiste em desviar a atenção da crise na base aliada para mostrar que o governo não está paralisado pela política. Depois da faxina administrativa, o Planalto quer formar uma nova maioria no Congresso e conta com o desgaste da imagem do Legislativo para obter apoio popular na briga contra o toma lá dá cá.
Na sexta-feira, ao avaliar as derrotas do governo no Congresso nos últimos 20 dias, Dilma tranquilizou auxiliares, que não esconderam a preocupação com a tática adotada até agora, de endurecer as negociações com velhos caciques da política, liderados pelo PMDB. Mesmo assim, ela escalou ministros para ajudar a apagar o "fogo amigo" contra a titular das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e espera que sua viagem à Índia, nesta semana, sirva para esfriar a temperatura da crise.
"Até agora, só vi provocações, mas nenhuma decisão é irreversível", disse Dilma, que um dia antes chegou a pedir apoio do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), para o projeto de reforma do Código Florestal. Não conseguiu. Naquela mesma quinta-feira, em reunião com 28 empresários que formam a elite do PIB, a presidente deu sinais de que a trégua também faz parte de seus planos na queda de braço com o Congresso.
Ao lembrar da Resolução 72 - que reduz o ICMS interestadual para importações e está empacada no Senado -, Dilma perguntou quem na sala era de Minas Gerais. Cinco empresários levantaram o braço e, diante do ar de interrogação da plateia, ela abriu um sorriso. "Pois é, mineiro só coloca projeto em votação quando sabe que vai ganhar", constatou a presidente, que é mineira, ao cobrar empenho dos industriais para a aprovação da resolução.
Não foi essa, no entanto, a estratégia usada pelos articuladores políticos do Planalto nos últimos dias, quando Dilma sofreu revés no Congresso. Conflagrada, a própria base do governo na Câmara ajudou a derrubar a votação da Lei Geral da Copa, na quarta-feira, porque não conseguiu arrancar do presidente da Casa, Marco Maia (PT), o compromisso de marcar uma data para levar o Código Florestal a plenário.
O apoio do PDT à obstrução da Lei da Copa custou ao partido mais um período de molho para nomear o ministro do Trabalho. O mais cotado é o deputado Brizola Neto (PDT), mas Dilma não esperava a insubordinação dos pedetistas e mandou congelar a indicação até sua volta da Índia, onde ela participará da reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Derrotas. Na Câmara, os aliados deram sinal verde para a convocação da ministra Miriam Belchior (Planejamento), para explicar os problemas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além disso, os deputados aprovaram convite para audiências com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e com Sepúlveda Pertence, que comanda a Comissão de Ética da Presidência.
A manobra põe o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) na linha de tiro e tem o objetivo de atingir Dilma. Amigo da presidente, Pimentel é investigado pela Comissão de Ética por suas atividades como consultor.
A intenção de fustigar Dilma não é de hoje: no último dia 7, o Senado também vetou a recondução de Bernardo Figueiredo, próximo a ela, para a direção da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Foi a partir desse motim que a presidente decidiu substituir os líderes do governo na Câmara e no Senado. "Ninguém acreditava que ela tivesse coragem de fazer isso", confessou um ministro ao Estado.
Para completar o inferno astral, ameaças de CPI contra o Planalto começaram a pipocar no Senado. PSDB, DEM e PPS tentam convencer o PR a assinar requerimento de CPI para investigar denúncias de fraudes em contratos com o hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), a presidente Dilma precisa voltar a conversar com as bancadas aliadas se quiser distensionar o ambiente. "Não dá para esticar mais a corda. O parafuso, quando se aperta demais, espana", afirmou Raupp.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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