Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, deve reunir 30 mil pessoas por dia no Parque do Flamengo entre 15 e 23 de junho
Emanuel Alencar
Os "indignados" da Espanha - movimento capitaneado pela juventude - cruzarão com integrantes da Primavera Árabe, que poderão bater um papo com universitários chilenos, que tentarão ser convencidos por índios caiapós de que a construção da hidrelétrica de Belo Monte é mau negócio. O cenário: Parque do Flamengo, daqui a dois meses. A Cúpula dos Povos, evento paralelo à conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20, transformará o Rio, duas décadas depois da Rio 92, num caldeirão cultural. Num trecho de 7 quilômetros, o Aterro receberá tendas, palcos para apresentação de shows e discussões de distintas matizes. A organização do encontro estima que 30 mil pessoas participem da cúpula diariamente, de 15 a 23 de junho.
"A galera Woodstock ficará na Quinta", diz organizador
A estimativa supera o encontro da sociedade civil promovido durante a Rio 92. Na ocasião, cerca de 20 mil por dia foram ao Aterro participar do Fórum Global. Desta vez, tendas simples darão lugar a estruturas mais elaboradas. E os movimentos sociais terão à disposição 36 carrinhos elétricos, daqueles usados em campos de golfe, além de 350 bicicletas. É o luxo possível com o orçamento de R$11 milhões - provenientes da Caixa Econômica Federal.
Acampamentos no Aterro estão proibidos, medida para evitar danos aos jardins de Burle Marx. Os ativistas, porém, já acertaram com a prefeitura que vão pernoitar em dois Cieps (um no Catete e outro na Rua do Lavradio, no Centro) e na Quinta da Boa Vista. O Sambódromo e uma área na Zona Portuária são opções que estão sendo estudadas.
- Não queremos criar qualquer tipo de problema, ninguém ficará acampado no Aterro, como não ficou há 20 anos - diz Carlos Henrique Painel, ambientalista e coordenador do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais. - Vamos encaminhar a galera "Woodstock", os mochileiros, à Quinta da Boa Vista. A prefeitura ofereceu e vamos avaliar a estrutura do Sambódromo. Há ainda um terreno de 16 mil metros quadrados ao lado da Cidade do Samba. Não faltará espaço.
ONGs e representantes de movimentos sociais prometem fazer barulho durante os nove dias de eventos. Uma passeata do Flamengo a Copacabana está sendo organizada. Não está descartado um grande ato em frente ao Riocentro, local da reuniões dos chefes de estado e de governo. Além de remeter à Rio 92 - o maior encontro sobre meio ambiente da História - a escolha do Aterro teve o objetivo de marcar o contraponto à conferência oficial, diz Painel:
- Com a Cúpula dos Povos, queremos lembrar aos presidentes que eles devem cumprir o que ficou acertado lá atrás, na Rio 92: a Agenda 21 e as convenções do Clima e da Biodiversidade. Aquela conferência ainda é a referência. Nossa luta é para que as conquistas da sociedade não percam espaço.
Na avaliação do economista Sérgio Besserman, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura, o encontro da sociedade civil representará uma "excelente contribuição" para o Rio. Mas assinala a necessidade de haver conexão dos assuntos debatidos no Aterro com o ponto central da conferência oficial: o desenvolvimento sustentável.
- Embora a conjuntura internacional seja outra, 20 anos depois, a Cúpula dos Povos tem bandeiras e lutas importantes, como o direito à segurança alimentar e a defesa da liberdade de expressão religiosa. Trará enorme contribuição para a marca Rio. Só espero que as discussões sejam travadas no contexto do desenvolvimento sustentável. Cabe também à Cúpula dos Povos assumir que estamos esbarrando nos limites do planeta. E quem vai sofrer mais com o aquecimento global? Os mais pobres - diz Besserman.
O Aterro do Flamengo será ocupado das proximidades do Aeroporto Santos Dumont à Rua Silveira Martins. Apenas as areias da Praia do Flamengo ficarão livres dos eventos da sociedade civil brasileira e mundial. Sete pequenos palcos receberão performances musicais. Músicos e artistas interessados em participar podem se inscrever ainda este mês no site www.cupuladospovos.org.br. Inscrições de seminários, debates, oficinas e palestras também estão abertas no site até o próximo dia 20.
TV Cúpula será aberta a conteúdo colaborativo
Haverá ainda uma rede de transmissão do evento - a TV Cúpula - que estará aberta às contribuições dos participantes. Será possível enviar vídeos, fotos e textos em tempo real.
- Estamos esperando gente de quatro continentes, mas o maior contingente virá da América Latina. Será a grande chance de reorganização da sociedade civil global - afirma Carlos Henrique Painel. - Tem uma turma que virá de bicicleta do Amazonas.
Desafio maior da cúpula, porém, é reunir aspirações e anseios de entidades como Via Campesina, Marcha Mundial das Mulheres, SOS Mata Atlântica e Instituto de Estudos da Religião (Iser) num documento único. Por isso, serão realizadas pequenas assembleias, em tendas com capacidades para até mil pessoas. No último dia de evento, uma assembleia geral definirá o texto comum.
O portal de acesso à Cúpula dos Povos será montado na passarela do Museu de Arte Moderna (MAM), cujos pilotis receberão um estande do governo federal. O Vivo Rio está reservado às grandes assembleias.
FONTE: O GLOBO
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