As apurações sobre o envolvimento de parlamentares com o esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira correm o risco de se resumir ao processo no Conselho de Ética para cassar Demóstenes Torres (GO). Isso porque senadores e deputados governistas se deram conta, menos de 24 horas após anunciarem com estardalhaço a criação de uma CPI mista, de que uma investigação desse porte pode causar estragos imprevisíveis dentro e fora do Congresso. Uma saída, defendida pelo PT, seria limitar os trabalhos às denúncias baseadas na Operação Monte Carlo. Mas a oposição não aceita. Quer ampliar o foco e destrinchar também as relações de empresas do bicheiro com o governo federal.
Escutas apontam supostas ligações com o governador do DF.
A ressaca da CPI
Com receio de uma investigação muito ampla, deputados e senadores tentam definir o foco da comissão parlamentar mista de inquérito para apurar os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira
Júnia Gama, Erich Decat, Gabriel Mascarenhas e Paulo de Tarso Lyra
Menos de 24 horas depois de anunciar, com estardalhaço, a criação de uma CPI mista para investigar os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira, deputados e senadores começaram a procurar caminhos para diminuir o estrago que uma investigação desse tipo pode causar no Congresso. A estratégia passa por dois caminhos. O primeiro é garantir, com base em um precedente legislativo, que o Conselho de Ética do Senado tenha acesso ao inquérito que corre em segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal, o que tornaria desnecessária a criação da CPI.
A outra alternativa seria restringir o foco dos trabalhos, para evitar destrinchar as relações de empresas privadas com o governo federal. No início da noite de ontem, uma reunião de emergência foi convocada na Câmara para afinar o texto do requerimento de criação da Comissão. O PT bateu o pé e só aceitava investigar as denúncias baseadas na Operação Monte Carlo, de 2009, porque os fatos já seriam conhecidos. Já a oposição quer uma investigação mais ampla das atividades de Carlinhos Cachoeira, o que poderia envolver diretamente empresas contratadas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Próximo das 22h, um texto provisório foi divulgado. O documento afirmava que a CPI investigaria, em um prazo de 180 dias, "práticas criminosas desvendadas pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, mas sem prejuízo de aditamentos de fatos novos que se liguem, intimamente, ao objeto central, particularmente a existência de um esquema de interceptações e monitoramento de conversas telefônicas". Valeu a tese mais ampla, por enquanto.
No Senado, mais cedo, um grupo de petistas deu início à operação "abafa" para justificar um recuo. A alegação é de que, em 2001, o Conselho de Ética teve acesso a escutas da Polícia Federal que estavam sob segredo de Justiça no processo contra o então senador Luiz Otávio (PPB-PA), indiciado por crime contra o sistema financeiro. "Se o conselho tiver acesso a essas conversas, isso será um fato novo. Com a questão de ordem atendida, dá para recuar", aponta um petista do grupo que trabalha para abafar o caso.
"Imaturidade"
Alguns integrantes do partido acusam o líder do PT na Casa, Walter Pinheiro (BA), de ter levado a questão para o lado pessoal ao insistir na criação da CPI. Ele se defende. "Os deputados do PT caíram em cima de mim quando o Senado manteve a cautela em relação a Demóstenes. Ameaçaram recorrer à Executiva nacional para nos pressionar. Fui bombardeado até pelo Twitter, acusado de não ter pulso firme", justificou Pinheiro.
Apesar do impasse, o sentimento é de que a instalação da CPI mista é irreversível uma vez que tanto o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quanto da Câmara, Marco Maia (PT-RS), assumiram publicamente o compromisso de criação do colegiado. "A maioria do nosso grupo achava que era blefe. O governo achou que não toparíamos e nós achamos que o governo não iria topar. É uma imaturidade enorme, ninguém queria ficar com o ônus de se recusar a fazer uma CPI", aponta o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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