A articulação da CPI do Cachoeira expõe as vísceras das relações do PMDB com o PT, que formam o corpo, mas talvez não a alma, do governo Dilma Rousseff.
O PMDB, via Sarney e Renan, dá a maior força para o PT criar a CPI, deixando uma dúvida: é para valer, ou só para espicaçar o PT e, por tabela, o próprio governo? CPIs, mais cedo ou mais tarde, acabam azucrinando as vidas dos governos.
Os tentáculos de Cachoeira, conhecidos apenas em parte, atingem petistas, tucanos, democratas e outros menos cotados, mas, curiosamente, até aqui não chegou ao PMDB, partido imenso, com ramificações em todos os Estados e enormes bancadas congressuais -e que não chega a ser um santuário.
Assim, parece que o PMDB está dando corda para o PT e a oposição se enforcarem juntos. Quanto mais CPI, mais denúncias contra o PT e mais aperreio para o Planalto, mais caro fica o "apoio" peemedebista.
Quanto a Lula e Dilma, que estariam dando um empurrão para a instalação da CPI, deve-se duvidar das boas intenções e avaliar o cálculo político. Lula está em fase de penitenciar-se pelas relações perigosas e pelos exemplos nada edificantes na área ética durante o seu governo. Fora da zona de risco, empurra todos, especialmente Dilma, para enfrentarem as feras com quem confraternizava, feliz da vida.
E Dilma? Mantém no caso da CPI a mesma posição olímpica que adotou na ascensão e queda de seus ministros: assiste de longe e lava as mãos, como se Cachoeira não fosse problema dela. Mas pode acabar sendo, se a base aliada molhar-se tanto quanto a oposição.
Por enquanto, portanto, a CPI é só uma peça do jogo político, não uma realidade, principalmente porque os escândalos do Cachoeira revelam-se um típico caso bumerangue: dão uma volta danada, arranham os adversários e voltam direto na testa de quem se julga ileso. Não é, ex-quase senador Demóstenes?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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