Ideia é recrutar parlamentares habituados a apurações e com experiência em comissões
João Domingos
BRASÍLIA - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira deverá concentrar entre seus 22 titulares e 22 suplentes uma boa parte de congressistas acostumados a participar de investigações ou com experiência em CPIs anteriores. "Vou escolher meus pitbulls", disse o líder do DEM, ACM Neto (BA), anunciando que o titular do partido na Câmara será o deputado Onyx Lorenzoni (RS), que na CPI dos Correios, em 2005, teve uma participação barulhenta.
O PT vai na mesma linha. No Senado, o líder Walter Pinheiro (BA) planeja escolher os senadores Wellington Dias (PI) e José Pimentel (CE). Este foi ministro da Previdência; aquele, governador do Piauí por dois mandatos. No PSDB do Senado a escolha poderá recair no senador Aloysio Nunes Ferreira (SP). Já na Câmara as opções estão entre os deputados Fernando Francischini (PR), que é delegado da Polícia Federal e teve e-mails interceptados por arapongas do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ou Nilson Leitão (MT), ex-prefeito de Sinop.
Embora não houvesse ainda um consenso para o texto final de convocação da CPI do Cachoeira, um esboço feito em comum acordo pelo Senado e pela Câmara indicava que as investigações poderão ser amplas, sobre agentes públicos e privados.
Complexidade. Trata-se, na opinião dos líderes, de uma "CPI complexa". Ao contrário de outras, como a dos Anões do Orçamento, que investigava fraudes e corrupção no Orçamento da União, esta é ampla por natureza. Desta vez, a CPI terá de investigar os tentáculos de Cachoeira em governos estaduais e nos Poderes Executivo e Judiciário - já se sabe que ele atuou em Goiás e Distrito Federal, mas há suspeitas de que tenha penetrado também no Tocantins, em Mato Grosso, no Maranhão e em Santa Catarina. Quanto aos agentes privados, só a Delta Construções S.A. recebeu do governo federal R$ 4,13 bilhões de 2007 até agora.
Havia um consenso entre os líderes partidários de limitar o tempo de investigação ao da Operação Monte Carlo, da PF, que apurou nos últimos três anos as ligações de Cachoeira com políticos, empresas e os outros poderes. Os líderes estudam ainda uma forma de reduzir o arco de investigações sobre a Delta, deixando que os parlamentares corram atrás apenas das menções à empresa que aparecem nos grampos da PF. Caso contrário, acham que não haverá limites, porque a companhia está em toda parte.
"Disse para o presidente José Sarney que desse jeito ninguém sabe o que vai acontecer. Não haverá limites para essa CPI", declarou o senador Delcídio Amaral (MS), que em 2005 foi presidente da CPI dos Correios, que investigou o mensalão. Ao encerrar os trabalhos, a CPI pediu o indiciamento de 40 pessoas, entre elas toda a cúpula do PT, do PP, do PR, além do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP).
Ficou combinado entre senadores e deputados que a coleta de assinaturas para a abertura da CPI será feita pelos líderes de todos os partidos. "Isso será muito fácil. É só pegar o plenário cheio", disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). A intenção é abrir a CPI na semana que vem.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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