De um lado, o ex-ministro da Justiça do primeiro mandato de Lula, Márcio Thomaz Bastos, numa entrevista à Folha de S. Paulo de segunda-feira, acusou a mídia da prática de uma “publicidade opressiva” contra os réus do processo do mensalão. O que o leva a temer um “justiçamento” que comparou à decisão do júri do casal Alexandre Nardoni/Ana Carolina, no qual “o julgamento se tornou uma farsa”. E já no sábado, dia seguinte ao anúncio do referido cronograma, o principal dos réus, ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu, usou a tribuna de convidado de um encontro da União da Juventude Socialista, do PC do B, realizado no Rio, para pedir que a entidade promova manifestações de rua pela absolvição dele e dos demais acusados no julgamento. Classificado como “batalha final contra o monopólio da mídia”.
Estas foram as reações iniciais de maior peso à definição pelo STF – por iniciativa do presidente Carlos Ayres Britto, com apoio de vários outros ministros e o comprometimento de todos – do dia 1º de agosto para o começo do julgamento do processo: “o maior caso de corrupção política (No Brasil), pelo número de acusados e pelas funções que exerciam”, segundo editorial da Folha de sábado. A primeira reação, manifestada pelo “Maquiavel-geral da República, Márcio Thomaz Bastos, nas palavras da coluna de ontem na Folha do jornalista Igor Gielow; a outra pelo chefe da quadrilha”, José Dirceu, conforme a denúncia do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, destacada em artigo de anteontem de Merval Pereira, em sua coluna no Globo. E objeto do editorial do Estadão, de ontem – “Um ato de desespero”, assim concluído: “...é óbvio que a tentativa rudimentar de intimidação repercutirá no Tribunal. Se Dirceu não se deu conta disso é porque, como já disse Lula, ele está mesmo desesperado”. Reações que, frustradas as pressões e manobras feitas para postergação do julgamento, objetivarão influenciar as sentenças do STF, seja para absolver ao menos alguns dos réus – especialmente os líderes petistas Dirceu; o então presidente da Câmara Federal, João Paulo Cunha; e o presidente da legenda até a explosão do escândalo, José Genuíno -, ou seja para arrastar o processo até a substituição dos ministros Celso de Mello e Ayres de Britto. Porém tais reações provavelmente não conseguirão evitar o que outro réu importante, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, previu numa reunião de militantes petistas segunda-feira em Goiás: “sérios prejuízos de candidatos do PT e partidos aliados” numa campanha eleitoral coincidente com o julgamento do mensalão.
Para reduzir ou anular esses prejuízos, a cúpula do PT sob o comando do ex-presidente Lula, desencadeou a CPMI do Cachoeira, com as metas de envolver nas apurações dela uma das peças-chave do julgamento do mensalão, o Procurador Geral da Re-pública; de desqualificar a imprensa com o envolvimento nelas, também, de um jornalista da Veja; e de centralizar o inquérito dos parlamentares no governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. Esta última a única das três metas que o partido segue tentando, sem ter logrado porém impedir a extensão das apurações ao plano federal, com a quebra de sigilos da empresa Delta, nem a convocação do governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz, para depoimento ontem(após o de Perillo, anteontem).
Nesse contexto, o cenário político à frente aponta para implicações negativas às candidaturas petistas nas capitais e grandes cidades com a associação delas ao processo do mensalão. Implicações que poderão ser reduzidas ou agravadas em função dos indicadores do desempenho da economia e de seus efeitos sociais. No pleito paulistano, por exemplo, aos problemas iniciais para afirmação da candidatura de Fernando Haddad, decorrentes sobretudo da reação da ex-prefeita Marta Suplicy ao “dedaço” de Lula que a excluiu do processo eleitoral, a esses problemas podem somar-se em seguida os danos da relação partidária com os mensaleiros. O que, aliás, deve inserir-se nos cálculos do candidato do PMDB, Gabriel Chalita, para ir ao 2º turno com José Serra. É possível também que a perspectiva de tais danos inclua-se entre os motivos dos passos dos governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e do Ceará, Cid Gomes, para troca de apoio a nomes do PT pelo lançamento de candidaturas próprias na disputa das prefeituras das duas capitais.
Jarbas de Holanda é jornalista
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