quarta-feira, 6 de junho de 2012

Grãozinho, pibinho e trenzinho:: Vinicius Torres Freire

Governo "gerencial" não consegue tocar obras básicas mesmo precisando estimular economia do país

Dilma Rousseff quer ganhar um trenzinho bala. Quer porque quer um "trem de alta velocidade" entre Rio e São Paulo, projeto que inexiste há anos (sic), que encarece bilhões a cada vez que se volta a falar nele e no qual ninguém acredita -nem mesmo quem pretende levar algum com a brincadeira.

Mas seu governo não consegue fazer um trem para levar soja do Centro-Oeste para um porto no Maranhão. Não consegue tocar as obras, o que elevaria o investimento público, portanto medida saudável de estímulo econômico.

Na falta de estímulo saudável, um investimento útil, que deixaria mais eficiente uma parte da economia do país (agricultura e transporte), o governo inventa um anabolizante por semana a fim de evitar que o pibinho se torne pibículo.

Enquanto isso, a soja viaja de caminhão velho, poluente, por estrada ruim, os grãos caindo pelo caminho, desperdiçando a safra, viajando para portos distantes, dando uma volta que encarece o produto nacional e reduz a margem dos empresários e os investimentos.

Este jornalista tinha menos da metade da idade que tem hoje quando começou a ouvir falar desse desperdício, lá pelo início dos 1980. A tal estrada de ferro, a Norte-Sul, emperrou nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e agora Dilma.

Quando não falta dinheiro para terminar a obra, falta vergonha na cara (roubam) ou competência.

Mas a presidente-gerente quer um trem-bala, ou "cortem as cabeças".

Seu governo gerencial nomeou uma meia dúzia de ministros enrolados, que caíram do galho no ano passado. Com a "faxina", o governo ficou ainda mais parado.

Gente do governo Dilma, no Palácio do Planalto, atribui as nomeações ruins, a dos ministros enrolados, a Lula. Pode ser. Mas a presidente é Dilma Rousseff. Quem pariu Mateus que o embale.

A Norte-Sul é apenas um exemplo de má gerência. Há estradas de ferro e de rodagem paradas na Bahia. Rodovias mal paradas no Paraná, no Centro-Oeste. Há o horror das estradas da morte de Minas Gerais, um dos dois centros da mineração brasileira. Etc. Etc. Etc.

Houve a privatização ruim de rodovias federais. A lerdeza na concessão de aeroportos -o governo apenas acordou para o problema quando percebeu que os turistas da Copa teriam de descer de paraquedas no Brasil, por falta de aeroporto. Haverá a (quase) desistência na concessão dos portos.

Do investimento previsto, o governo consegue gastar mais o dinheiro do subsídio para as obras do Minha Casa, Minha Vida. O restante do investimento diminui. Aliás, se o governo pusesse mais dinheiro no investimento, o superavit primário diminuiria. Trata-se da poupança que o governo fez (receita menos despesas, excluídos gastos com juros).

A meta do superavit é poupar 3,1% do PIB. O superavit anda por aí. Se o governo gastar um pouco mais, cai abaixo da meta. A não ser que contenha o gasto corrente (manutenção da máquina, salários), que, porém, está crescendo.

Agora o governo quer facilitar licitações para fazer obras mais rapidamente. Quer deixar que os Estados se endividem mais. Cortar um pouco da conta de luz das empresas. Bateu um desespero, por causa do pibinho. Mas nunca houve um plano organizado de governo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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